Nany People volta ao sucesso Como Salvar Um Casamento: “Divisor de águas” – Entrevista do Arcanjo

Nany People volta à comédia de sucesso Como Salvar Um Casamento © Divulgação Blog do Arcanjo 2024

Por MIGUEL ARCANJO PRADO
@miguel.arcanjo

Toda terça, às 20h, Nany People tem um encontro marcado com o público paulistano no solo Como Salvar Um Casamento, que estreou no último dia 12 e vai até 26 de março, em versão intimista na Casa de Artes, na rua Major Sertório, 476, na Vila Buarque, em São Paulo. Depois, a artista consagrada e que no ano passado fez turnê europeia realiza mais uma sessão em 19 de abril, 20h, no Teatro Gazeta. Na comédia de sucesso, Nany, que venceu o primeiro Prêmio Arcanjo de Cultura, em 2019, no Theatro Municipal, aborda conflitos e tabus nos relacionamentos, com seu timming preciso para o humor, dirigida por Bruno Motta, também responsável pelo roteiro, ao lado de Daniel Alves. Na pele de uma espevitada palestrante, Nany veste figurino de Fábio Ferreira e ainda conta com concepção visual de Marcos Guimarães. Mesmo tendo movimentada agenda, a jurada do Caldeirão com Mion na Globo parou tudo para falar com o Blog do Arcanjo. Leia a entrevista exclusiva.

Miguel Arcanjo Prado – Nany, qual a expectativa para essa volta do espetáculo? É uma peça importante na sua trajetória? Por quê?
Nany People –
As expectativas são as melhores possíveis, porque é uma peça que representa um divisor de águas na minha vida. Quando eu fiz, eu tinha me tornado uma mulher trans e o meio teatral ainda não sabia disso. E por ter produzido o espetáculo sozinha, as pessoas achavam que era um show de boate, mas era uma peça que falava de relacionamentos, falava de amor. Quando ela foi montada, há 15 anos, foi muito surpreendente para o público, para as pessoas, porque existia uma outra ideia sobre o que seria o espetáculo por ser a Nany. Eu tinha saído da noite, já havia feito a minha transição há 5 anos… Então, foi o meu primeiro trabalho como atriz, produtora, realizadora e atuante. Foi um espetáculo muito importante, que agora é remontado. Está mais coeso, mais enxuto, porque o amor nunca sai de moda. Eu sou uma palestrante e é muito gostoso ter revisitado esse solo dessa maneira.

Miguel Arcanjo Prado – Você é uma artista completa que chegou em muitos lugares e linguagens. Como consegue ser tão versátil?
Nany Peopole –
Eu acho que a gente vai se tornando versátil quando a gente se torna permissível, né? A necessidade faz a gente desenvolver habilidades que nem a gente sabe que pode dar conta. Eu sempre gostei de desafios, sempre gostei de ser desafiada e nunca me coloquei nenhum limite. Quando eu sou chamada para um projeto, eu me deixo levar, eu me encanto e vou. Eu acho que isso se deve à minha incessante busca de querer atuar, de querer fazer acontecer, de querer aprender e de não ter ficado limitada, sabe? Nunca me limitei. Mesmo estando com contratos na TV, o teatro sempre é minha oficina de aprendizado, de melhoramento e de me moldar para a vida. Por isso que eu nunca abro a mão do teatro.

Miguel Arcanjo Prado – Como tem sido a experiência de trabalhar com o Marcos Mion?
Nany People –
O Mion, na verdade, é um reencontro. O Mion é um bálsamo da vida, é uma pessoa que faz parte da minha história. A gente já se encontrou em outras emissoras, outros programas, outros tempos, e a gente tem uma sincronia, uma sintonia muito boa, porque ele é uma pessoa muito generosa, um comunicador nato e dá uma liberdade de ação para a gente que é maravilhosa. Nada é brifado, a gente tem uma conexão muito boa e muito integrada, eu adoro fazer. Além disso, o programa é um dos poucos programas de calouros no ar. Se não tivesse aquele espaço, muitos artistas não teriam onde se apresentar. Então eu acho importantíssimo estar fazendo aquele programa que fala de talentos múltiplos, amplos e inclusivos.

Miguel Arcanjo Prado – Como enxerga a nova cena drag?
Nany People –
Miguel, eu saí da noite em 2008, então, eu te juro que quando eu voltei para o teatro eu não vi mais nada da cena drag. Eu não vi mais nada, nem nos realities, nem na noite. Recentemente, eu fui convidada para fazer o Gongada Drag, que o Bruno Motta realizou e foi maravilhoso, mas foi só com pessoas da minha história que eu reencontrei. Foi lindo, teve Valenttini,Thália Bombinha, Marcia Pantera, o Igor Guimarães, Salete Campari, e aí teve a Frimes da nova geração, que eu não conhecia, mas eu acho que os realities estão lançando cada vez novos e maravilhosos talentos, mas eu pessoalmente não tenho acompanhado tanto.

Miguel Arcanjo Prado – Por que você não foi jurada convidada do Drag Race Brasil? Porque eu acho absurdo você e Silvetty não aparecerem nesse programa.
Nany People –
O Drag Race Brasil me convidou, sim, eu fui convidada para fazer em duas cidades, mas eu estava com a agenda cheia. Estava fazendo dois filmes e a agenda de teatro não conciliava, mas eles tiveram a delicadeza e o carinho de me convidarem e tentaram em duas capitais, mas realmente eu não tive a agenda, não tive espaço que eu pudesse negociar com a produção do filme que eu estava fazendo para poder fazer a participação, uma pena.

Miguel Arcanjo Prado – Depois de São Paulo você faz o Risorama no Festival de Curitiba. Por que você dialoga com tantos públicos diferentes e nunca fica num só nicho?
Nany People –
Se você depende de uma fonte só para tomar água, quando essa fonte seca, você perde toda a possibilidade de viver, de sobreviver. Então eu sempre quis fazer outras coisas. Mesmo quando eu fazia noite, eu não ficava só na noite, eu fazia telegrama animado, eu era estrela do “Resumo da Ópera”… Eu nunca fiquei só no nicho LGBTQIAPN+. Eu sempre quis procurar outros caminhos, outras possibilidades, porque eu acho que o meio de vida pode se transformar também no meio de morte. Se você depende só daquela fonte, você fica muito vulnerável.

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Jornalista cultural influente, Miguel Arcanjo Prado dirige o Blog do Arcanjo desde 2012 e o Prêmio Arcanjo desde 2019. É Mestre em Artes pela UNESP, Pós-graduado em Mídia e Cultura pela ECA-USP, Bacharel em Comunicação pela UFMG e Crítico da APCA – Associação Paulista de Críticos de Artes, da qual foi vice-presidente. Eleito três vezes um dos melhores jornalistas culturais do Brasil pelo Prêmio Comunique-se. Passou por TV Globo, Grupo Record, Grupo Folha, Editora Abril, Huffpost Brasil, Grupo Bandeirantes, TV Gazeta, UOL, Rede TV!, Rede Brasil, TV UFMG e O Pasquim 21. Foi coordenador da SP Escola de Teatro. Integra o júri do Prêmio Arcanjo, Prêmio Jabuti, Prêmio Governador do Estado de SP, Sesc Melhores Filmes, Prêmio Bibi Ferreira, Destaque Imprensa Digital, Prêmio Guia da Folha e Prêmio Canal Brasil. Vencedor do Troféu Nelson Rodrigues, Prêmio Destaque em Comunicação ANCEC, Troféu Inspiração do Amanhã, Prêmio África Brasil, Prêmio Leda Maria Martins e Medalha Mário de Andrade Prêmio Governador do Estado, maior honraria na área de Letras de São Paulo.
Foto: Edson Lopes Jr.
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