Salta, Argentina: dicas imperdíveis em La Linda unem natureza, história, vinho e empanadas
À entrada da vinícola, um jovem vestido de gaúcho vende empanadas, com olhar tímido. Do alto do teleférico, com a cidade aos seus pés, a jovem turista faz pose com seu namorado. A noite cai, e os prédios centenários ganham novos contornos com a iluminação especial. Na praça da cidade histórica encravada aos pés da montanha nevada, coplas ecoam da garganta de uma senhora de expressão marcada. Na parada final do trem que chega até as nuvens, crianças indígenas de bochechas avermelhadas pelo sol oferecem lhamas em miniatura. Estas são apenas algumas das imagens possíveis de Salta, a Província do norte Argentino, cujo apelido é “La Linda”.
Enquanto o teleférico sobe rumo ao cume do Cerro San Bernardo, a cidade de Salta, principal do norte da Argentina, se descortina. Com seu casario histórico no fértil vale de Lerma, a 1.187 metros de altitude, está rodeada por montanhas andinas. A capital é a porta de entrada para os inúmeros atrativos que a Província de Salta tem a oferecer aos mais variados tipos de turistas: aventura, história, religião, folclore, artesanato, diques, vinhos e passeios de alta montanha, entre outros. E, cada vez mais, a cidade quer atrair a atenção de brasileiros que já conhecem Buenos Aires e desejam desbravar novidades na Argentina.
Salta entre as 5 melhores cidades para se viver
Além dos atrativos históricos e naturais, do folclore e da rica gastronomia, o modo de vida dos saltenhos chama a atenção dos forasteiros. O ministro Ovejero lembra que “os saltenhos gostam de conversar e compartilhar seu modo de ser e ficam orgulhosos de receberem turistas em suas terras”.
Tanta simpatia fez Salta Capital ser eleita pela BBC de Londres como uma das cinco cidades inesperadas que estão entre as melhores para se viver no mundo.
“O turismo gera 38 mil postos de trabalho e representa 7% do nosso PIB. E 40 % dos que nos visitam retornam”, declara Ovejero, que ressalta o mais novo atrativo: o circuito do caminho inca Qhapaq Ñan, considero Patrimônio Cultural da Humanidade pela Unesco e que passa por Salta, na Argentina, para seguir por Chile, Bolívia, Peru, Equador e Colômbia.
Salta abraça a diversidade
Nos últimos anos, o slogan “Salta, tan linda que enamora” (Salta, tão linda que apaixona) é o chamariz para os encantos da Província norteña argentina. Mariano Ovejero, ministro de Cultura e Turismo de Salta, conta ao Blog do Arcanjo que a diversidade é o ponto forte do lugar. “Temos igrejas e casarões históricos, vales férteis, turismo ecológico, de aventura, boa oferta cultural que vai do folclore ao rock, serviço de primeira qualidade e preços competitivos”, afirma.
Segundo o Governo de Salta, comandado por Juan Manuel Urtubey, em 2014, a Província recebeu 1,7 milhão de turistas, 80% vindos da própria Argentina e os 20% restantes de outras partes do mundo — o número é maior do que os 1,2 milhões de habitantes da Província de Salta. Os turistas, segundo o ministro Ovejero, deixaram 2,7 milhões de pesos argentinos na economia saltenha.
O Aeroporto Martín Miguel de Güemes, em Salta, recebe 84 voos semanais e a cidade faz ligação direta, além de Buenos Aires, com Puerto Iguazu (vizinha a Foz do Iguaçu), Córdoba, Mendoza, Santa Cruz de La Sierra e Tarija, estas duas últimas na Bolívia.
O terminal recebeu em 2014 cerca de 750 mil passageiros, número 87% maior do que o registrado em 2007. Os hotéis não ficam atrás: Salta tem hoje 19.500 quartos para receber seus visitantes.
Salta Capital: coração do norte Argentino
Salta Capital vê o começo do agito de uma cidade que cresce — prova disso é o carregado trânsito que se percebe na área central no horário de pico. Mas o povo resiste à loucura urbana e prefere a paz do contato com a natureza no Parque San Martin, onde a gente conversa, namora, deita-se ao sol ou toma mate.
É no parque que fica uma movimentada feirinha de artesanato, cheia de presentes e lembrancinhas: ponchos, bonecos de lhamas, bolsas, sapatos, bijuterias, roupas e outras peças artesanais a um preço convidativo.
Do outro lado do parque, fica a entrada do teleférico que parte rumo ao topo do Cerro San Bernardo, a 1.454 metros de altitude, de onde se tem a melhor vista panorâmica da cidade. Tal qual o bondinho do Pão de Açúcar no Rio, o passeio é cartão postal de Salta.
Múmias andinas e cultura farta
Mas Salta Capital também oferece farta cultura. O epicentro da cidade é a Plaza 9 de Julio. É lá que fica a imponente Catedral Basílica, o Cabildo Histórico de Salta, o Teatro Provincial e o Museu de Arte Contemporânea.
Também na praça está o famoso Museu de Arqueologia de Alta Montanha. Este merece uma visita respeitosa, já que abriga as múmias indígenas das três crianças incas localizadas em 1999 congeladas, com seus respectivos enxovais de sacrifício, no topo do quinto vulcão mais elevado do planeta, o Llullaillaco, a 6.793 m de altitude. Vê-las expostas — e perfeitamente conservadas — é impressionante.
Outros espaços que merecem visita são o Museu de Bellas Artes de Salta (av. Belgrano, 992), com seu conjunto histórico de obras de artes que retratam a cultura da Província, e a Casa do General Martin Miguel de Güemes (calle España, 730), militar que lutou em Salta pela independência Argentina e cujo governo completou bicentenário neste 2015 — celebrado com festa pelos saltenhos.
Edifício que merece ser conhecido — e fotografado, é claro — é a Igreja de San Francisco (esquina das calles Caseros e Córdoba), cuja construção começou em 1625. O prédio, declarado Patrimônio Histórico Nacional, é uma verdadeira joia colonial com sua cor avermelhada e sua torre que se impõe na paisagem salteña.
Folclore e danças típicas nas peñas de Salta
Quem visita Salta Capital também não pode deixar de apreciar a noite nas peñas folclóricas localizadas na calle Balcarce, sobretudo no trecho entre a avenida Entre Ríos e a Estação Ferrocarril (de onde, aos sábados, sai o famoso Tren a las Nubes, detalhado mais adiante).
A noite é regada a vinhos feitos nas terras altas da Província, acompanhado de empanadas saltenhas e das carnes argentinas mais saborosas, feitas na tradicional parrilla, o famoso asado.
Tudo ao som das melhores músicas do folclore argentino, executadas ao vivo e acompanhada do bailado gaúcho de bailarinos profissionais. Os dançarinos costumam convidar os turistas para bailar junto deles. Portanto, vá de coração aberto.
Quem deseja conhecer uma penha mais exclusiva pode dirigir-se à La Casona del Molino (calle Luis Burela, 1). O local serve os pratos mais tradicionais do norte argentino, acompanhado de vinhos encorpados. Lá, quem dá o show são os próprios frequentadores, que levam seus violões e improvisam rodas de folclore. As mesas estão dispostas nos cômodos do casarão e também em dois pátios ao ar livre. A festa invade a madrugada.
Nos restaurantes da região central, além das ricas empanadas saltenhas, é possível comer outro prato típico muito apreciado na região: as milanesas com papas (batatas) fritas, servidas em porções fartas e inesquecíveis.
Passeios e excursões aos arredores de Salta
Com suas 155 agências de viagem e turismo habilitadas, não faltam em Salta opções de passeios para desbravar a beleza da Província. A seguir, conheça três deles aprovados pelo Blog do Arcanjo: o passeio para a cidade vinícula Cafayate, o passeio para a histórica cidade de montanha Cachi e o famoso passeio no Tren a las Nubes (Trem às Nuvens), uma das estradas de ferro mais altas do mundo.
Excursão a Cafayate
(dia inteiro, entre 7h e 19h30)
A cerca de 190 quilômetros de Salta Capital, Cafayate está localizada nos Vales Calchaquíes. Com seus 15 mil habitantes e localizada a 1.683 metros de altitude, a cidade é famosa por suas vinícolas, onde são fabricados os famosos vinhos de altura cafayateños.
O passeio começa com o ônibus da Wilka Turismo (calle Alvarado, 533, tel. + 54 387 4313-078) buscando o turista no hotel em que está hospedado. Logo, a guia María Molina começa a descortinar a história e a geografia do caminho entre Salta e Cafayate, pela ruta 68.
A paisagem torna-se deslumbrante quando a estrada chega na Quebrada de Las Conchas, com suas montanhas multicoloridas. As formações rochosas esculpidas pelo vento e pela água nos últimos milhões de anos impressionam, como a Garganta del Diablo e o Anfiteatro — onde um grupo de turistas argentinos cantou solenemente o Hino Nacional de seu país, comovendo a todos. Outros atrativos esculpidos pela natureza são o Obelisco e o divertido Sapo. O microônibus para nos principais pontos para que os turistas façam as fotos tão necessárias.
Outro ponto alto é a visita à vinícola Vasija Secreta, onde os elegantes sommeliers Matías Cordova e Gustavo Vasvari explicam com detalhes a fabricação do vinho de altura e como apreciá-lo da melhor maneira.
Na porta da vinícola, o jovem Cristian Colque, de 19 anos, chama a atenção, vestido de gaúcho. De um jeito tímido e respeitoso, ele oferece empanadas quentinhas aos turistas. Ao R7, conta que gosta de viver em Cafayate e que a época do ano que mais gosta é fevereiro, “quando acontece o festival folclórico e as serenatas”.
Em Cafayate, na praça 20 de Febrero, a principal, está a imponente Catedral Nossa Senhora do Rosário e o Mercado Municipal de Artesanato. Também há várias opções de restaurantes e lojas de artesanato, nos arredores.
Contudo, o turista mais aventureiro pode ir até o Mercado de Cafayate, onde no simples restaurante do local serve uma deliciosa milanesa ternera completa, com dois ovos estalados acima da carne, e acompanhada de quentíssimas papas fritas.
Excursão a Cachi
(dia inteiro, entre 7h e 18h)
Mais uma vez, a competente guia María Molina é a encarregada de descortinar ao grupo de turistas os atrativos no caminho que leva de Salta a Cachi. O passeio também começa com o ônibus da Wilka Turismo (calle Alvarado, 533, tel. + 54 387 4313-078) buscando o turista no hotel em que está hospedado.
Logo, o veículo parte para a ruta 68 e toma a ruta provincial 33, onde começa a subida até Cachi. Antes, vai passar pela Quebrada de Escoipe, Las Goteras, La Cueva del Gigante, Las Condoneras, La Cuesta del Obispo (de onde se tem uma visão panorâmica das montanhas digna de um contos de fada), El Valle Encantado e La Piedra del Molino, localizada a 3.400 metros de altitude. Os turistas precisam de fôlego para fotografar tanta coisa deslumbrante.
Na subida, a vegetação vai se transformando da selva subtropical até virar, nas alturas, o Deserto de la Puna. É lá que está o Parque Nacional Los Cardones, um tipo de cacto imponente e que só existe nesta região e cuja madeira é usada pelos artesãos da região. A Recta de Tin Tin, uma estrada construída pelos incas, atravessa os cardones até chegar em Payogasta, cidade vizinha a Cachi e famosa por seus cultivos de pimenta.
Logo, Cachi, com sua beleza colonial aos pés do Pico Nevado de Cachi, onde a neve é eterna, se desvenda com sua calma e hospitalidade. A cidade está a 2.280 metros de altitude e tem 7 mil habitantes.
Ao lado da Plaza 9 de Julio, o Museu Arqueológico de Cachi tem objetos que testemunham as culturas pré-hispânicas antes de serem subjugadas pelos conquistadores europeus. Ao seu lado, a Iglesia San José, do século 18 e construída com madeira dos cardones, convida ao silêncio. Mas este é quebrado por um insistente, que vem da praça.
É Silvia Tolaba, de 55 anos, que entoa as coplas que aprendeu com seu pai, batendo em seu tambor. “Venho todos os dias à tarde, para cantar aos turistas, eles se encantam. Moro em um povoado perto, a três quilômetros daqui. Venho e volto de bicicleta. Dá para ganhar um pouco de dinheiro, que me ajuda a me manter e a meus quatro filhos”, explica
Tren a las Nubes
(dia inteiro, de 7h às 21h)
Cantada pela cantora argentina Soledad, na música Tren del Cielo, o Tren a las Nubes é uma das principais atrações turísticas da Província de Salta e uma das estradas de ferro mais altas do mundo. A ida é feita de trem e a volta, de van, sempre aos sábados.
O trem sai da Estação Ferrocarril de Salta, onde vendedores estão a postos oferecendo pacotinhos com folhas de coca. Não duvide em comprá-las, pois elas serão fundamentais para enfrentar os efeitos da altura, ou o apunamento, como chamam os locais.
Afinal, o trem sai de 1.187 metros de altitude de Salta para percorrer 217 quilômetros até San Antônio de los Cobres, em plena Puna Saltenha, a 4.200 metros de altitude, quando chega ao impressionante viaduto La Polvorilla, com seus 224 metros de distância e 63 de altura. A mudança brusca de altitude provoca efeitos sentidos no corpo, aliviados pela coca. A ferrovia atravessa ao todo 29 pontes, 21 túneis, três viadutos e dois zigue-zagues.
Em San Antônio de los Cobres, seu destino final, o frio se mistura com o forte sol, acrescido de um vento cortante que espalha a terra vermelha por todos os cantos.
Acompanhadas de seus pais, lindas crianças de aparência indígena, com cabelos negros e lisos e bochechas vermelhas, maltratadas pelo sol implacável do Deserto da Puna, vendem lembrancinhas aos turistas com um olhar tímido, quase assustado. Impossível descrever com palavras a sensação deste encontro.
Onde ficar em Salta
A cidade de Salta tem opções de hospedagem para todos os gostos e bolsos. Abaixo, veja três indicações testadas e aprovadas pelo Blog do Arcanjo:
Hotel Posada Del Sol
(calle Alvarado, 646, Salta, tel. +54 387 431-7300)
De estilo tradicional, o hotel tem quartos confortáveis com ar condicionado e calefação, além de TV a cabo e banheira.
O café da manhã é farto. Sua localização, a uma quadra da Plaza 9 de Julio, a principal de Salta, é um dos grandes atrativos, bem como seus corpo de funcionários atenciosos e disponíveis a resolver qualquer dúvida dos hóspedes.
Hotel Balcon de la Plaza
(calle España, 444, Salta, tel. +54 387 421-4792)
De estilo hotel boutique em um casarão colonial, tem espaçosos quartos de mobiliário novo. Ar condicionado, calefação, TV a cabo e banheira garantem o conforto.
O café da manhã é repleto de gostosuras argentinas, com variedades de pães e doces, sobretudo o famoso doce de leite argentino.
Oferece excelente localização, a uma quadra da Plaza 9 de Julio, a principal de Salta. Dá para fazer quase tudo a pé
Hotel Design Suites Salta
(av. Belgrano, 770, Salta, tel. +54 387 422-4466)
De estilo hotel design, traz uma proposta arquitetônica minimalista e refinada em seus quartos espaçosos e modernos.
Ar condicionado e calefação garantem o conforto, bem como o banho de banheira e a TV a cabo.
Tem café da manhã em esquema de buffet e está localizado a duas quadras da Plaza 9 de Julio, o coração de Salta.
Reportagem especial de Miguel Arcanjo Prado, enviado especial a Salta, Argentina.
Agradecimento a María Eugenia Cornejo, ao Instituto de Promoción Turística de Salta, ao Ministério de Cultura y Turismo del Gobierno de la Provincia de Salta, e ao apoio de Hotel Posada del Sol, Hotel Balcon de la Plaza e Hotel Design Suites Salta. Publicado originalmente em 2015.