Festival de Curitiba atrai 200 mil pessoas ao maior evento de teatro da América Latina: ‘Feito por todos e para todos’
Por MIGUEL ARCANJO PRADO
@miguel.arcanjo
Enviado especial ao Festival de Curitiba*
Criado em 1992, ele é o maior e mais tradicional evento de artes cênicas da América Latina, mas que também conversa com outras áreas como a música e a gastronomia em uma programação robusta. O Festival de Curitiba chega ao fim neste domingo, 7 de abril, após 13 dias de festa cultural na capital do Paraná, desde o último dia 25 de março. Com público de 200 mil pessoas em mais de 300 atrações, das quais 100 foram gratuitas, o evento orçado em R$ 10 milhões atraiu cerca de 2.000 profissionais da cultura, além de ter gerado 2.000 empregos diretamente. Pela primeira vez na história do Festival de Curitiba, todos os espetáculos apresentados na Mostra Lucia Camargo tiveram ingressos esgotados. A 32ª edição ocupou 50 espaços não só de Curitiba, como também de municípios vizinhos como Araucária, Campo Largo, São José dos Pinhais, Campina Grande do Sul e Pinhais. O Festival de Curitiba acaba de fechar o patrocínio com a Petrobras para as próximas três edições.
“Estes números são sempre muito expressivos. Isso nos deixa sempre muito felizes e mostram que conseguimos atingir o que planejamos em termos de presença de público. Mas o que me deixa ainda mais feliz é a reação deste público de Curitiba, que me parece estar mudando, com fortes aplausos em todas as sessões”, disse Fabiúla Passini, diretora do Festival de Curitiba.
Leandro Knophfolz, idealizador e diretor do Festival de Curitiba, celebrou a potência da 32ª edição do evento. “Mais uma vez o Festival foi para todos: envolvemos a sociedade, entendemos o momento atual, trouxemos tendências, entramos no cotidiano e nas conversas da cidade. Chegar à 32ª edições com esse vigor, força e jovialidade, acredito que é um diferencial”, afirmou Leandro, antes de completar: “O Festival de Curitiba é feito por todos e para todos”.
O executivo ainda destacou o novo patrocinador principal nos próximos três anos. “O patrocínio da Petrobras dá uma garantia, uma tranquilidade para a gente poder buscar outros. E nos dá fôlego, antecedência para fazer um festival deste tamanho.”
Curadoria fica mais um ano
Fabíula também anunciou que a atual curadoria da Mostra Lucia Camargo, formada por Daniele Sampaio, Giovana Soar e Patrick Pessoa, prevista para ficar dois anos, será renovada pelo terceiro ano consecutivo. “Quando a gente convida a curadoria, a gente sempre pensa em dois anos. Mas, acredito que essa curadoria deve ficar pelo menos mais um ano, porque é um trabalho que ainda tem coisas a serem desenvolvidas. Acho que três anos é um número bastante legal. Eles não sabem disso ainda, a gente não conversou. Eu espero que eles aceitem”, disse a diretora do Festival de Curitiba.
Diversidade
O Festival de Curitiba teve sua mais diversa edição, com espetáculos de toda a região do Brasil, com destaque para o Norte, com a produção da Amazônia conquistando pela primeira vez o Sul do país, como na abertura, com o Boi Caprichoso e o Boi Garantido, do Festival de Parintins. Também participaram artistas de companhias de teatro da Argentina, Peru, Chile e Bolívia.
“Nosso país possui um repertório lindo, poderoso, em suas mais distintas expressões artísticas”, afirmou Fabíula. A Mostra Surda de Teatro e a Temporada de Musicais também foram destaques na programação. A primeira reforça o caráter inclusivo do evento “Festival Para Todos”, que apresentou sete obras com surdos como protagonistas e cerca de 30% dos espectadores eram pessoas não surdas. Já a Temporada de Musicais reverenciou o gênero que vem gerando muito emprego para os artitas do Brasil, o terceiro maior produtor de musicais do mundo, com Silvio Santos Vem Aí, Ney Matogrosso – Homem com H e Carmen, a Grande e Pequena Notável.
No humor, o Risorama, sob curadoria de Diogo Portugal, celebrou 20 anos de história com velhos e novos nomes do stand-up e bilheteria esgotada nas oito sessões. E o Gastronomix misturou sabores e sons com chefes renomados e artistas musicais.
Sob comando do diretor artístico Rafael Barreiros, o Palhaço Alípio, o MishMash por sua vez trouxe artistas circenses em um grande show apresentado por Alessandra Maestrini e com a presença do tradicional Palhaço Alípio e direção de Ricardo Nolasco.
Essa é a graça do MishMash, ele é para todos os públicos. Os adultos e os pequenos, cada um se diverte em uma camada. É como um filme da Pixar. Você leva seu filho, mas às vezes acaba até se divertindo mais, por causa do repertório”
Rafael Barreiros, o Palhaço Alípio
diretor artístico do MishMash do Festival de Curitiba
Impulso na economia criativa
O Festival de Curitiba segue como grande impulsionador da economia criativa não só no Paraná, mas em todo o país, já que funciona como vitrine catalisadora de futuros negócios na área. Pelo 2º ano consecutivo foi realizada a Rodada de Conexões, uma iniciativa em parceria com o Sebrae/PR e que promove o encontro entre curadores, programadores de salas de teatro e de festivais de todo o Brasil, companhias de teatro independentes e artistas presentes no Fringe. Durante dois dias o encontro promoveu 480 oportunidades de negócios para companhias de teatro, o agendamento de mais de 50% de reuniões futuras entre os participantes e a expectativa real de gerar faturamento de 10 a 11 milhões de reais em novos negócios da cultura.
De forma inédita no Festival de Curitiba, o Interlocuções recebeu representantes do Ministério da Cultura e da Coordenação de Patrocínio Cultural da Petrobrás para apresentar detalhes do Programa Petrobras Cultural – Novos Eixos, lançado recentemente. A ideia foi dar a oportunidade dos mais de 120 presentes no encontro compreenderem as indicações do edital e tirarem suas dúvidas, estimulando assim a participação de mais iniciativas culturais no processo.
32º Festival de Curitiba em números
Público de 200 mil pessoas
300 atrações (100 gratuitas)
50 espaços
55 atrações no sistema Pague Quanto Vale (Fringe)
20 toneladas de cenários e equipamentos de luz e som;
2 mil empregos diretos
1.800 trabalhadores da cultura entre artistas, técnicos e produção
20 musicais (05 na Mostra Lucia Camargo; 04 na Temporada de Musicais; 02 na Guritiba e 10 no Fringe
Espetáculos vindos das 5 regiões do Brasil e de 12 estados (AL, DF, MT, PR, SP, MG, MA, RS, ES, SC, AC, RJ)
Participação internacional de companhias de quatro países: Argentina, Peru, Chile e Bolívia
Programação de espetáculos em cinco cidades metropolitanas: Araucária, Campo Largo, São José dos Pinhais, Campina Grande do Sul e Pinhais
Mostra Lucia Camargo
22 espetáculos
03 estreias nacionais
48 sessões com ingressos esgotados
05 sessões extras
Fringe
285 atrações
39 espetáculos de rua
32 espaços diversos no circuito independente – de grandes teatros a estúdios de companhias locais
Guritiba
12 instituições sociais atendidas
3.500 mil espectadores no Guritiba
Festival de Curitiba: Para todos
Um festival se faz com pessoas e para pessoas. De todas as origens. Festival Para Todos não é apenas um mote do Festival de Curitiba. A cada ano, o evento se consolida como uma iniciativa para além dos palcos, praças e ruas, invadindo salas de aulas, instituições e contribuindo para projetos sociais inclusivos. 10% do montante de todos os ingressos disponíveis para as atrações do Festival são reservados para entidades sociais.
Nesta 32.ª edição, o Festival de Curitiba apresentou de forma inédita a Mostra Surda de Teatro, com sete espetáculos que colocaram artistas surdos como protagonistas do palco do TUC. Em três dias de Mostra, mais de 800 pessoas assistiram aos espetáculos, pelo menos 70% delas, surdas. “A Mostra Surda de Teatro inverteu um pouco a nossa noção de ‘deficiência’. Os espectadores ouvintes tiveram de se adaptar à dramaturgia proposta pelos artistas surdos”, conta Fabiula Passini, diretora do Festival de Curitiba.
O Guritiba se tornou um projeto perene durante todo o ano, mesmo depois que o Festival termina com ações em escolas e entidades sociais. Mas durante os 13 dias do evento, diversas ações gratuitas levam cultura, divertimento e educação de forma lúdica a instituições sociais da região metropolitana de Curitiba. Nesta edição, circularam gratuitamente o musical “Rádio Girolê”, da Cia. Girolê; “Terreno Baldio”, do grupo Olho Rasteiro, que trabalha no teatro de rua; “No Armário Não Cabe Ninguém”, que trabalha os medos das crianças e “Ynari: A Menina das Cinco Tranças”, que traz uma contação de histórias e um belo texto africano.
O Guritiba ainda possui um programa voltado para reunir pais e filhos em torno da arte. O Cultura em Família levou dezenas de pais, mães e filhos para sessões mediadas dos musicais “Carmen – A Pequena Grande Notável”, “Ney Matogrosso – Homem com H” e o espetáculo infanto-juvenil “Itan e Tal”, do grupo curitibano Baquetá.
Já o Mish Mash mexe com o imaginário da garotada no chamado Ensaio Social, uma tarde divertida, na qual os artistas circenses passam todos os espetáculos da mostra para dezenas de turmas de escolas públicas e instituições sociais. “É uma tarde muito divertida, em que as crianças podem ter contato com as artes circenses, participam de brincadeiras e lanchinhos gostosos”, conta Siciane Geruntho, produtora executiva do Festival. Nesta edição, o Ensaio Social do Mish Mash reune cerca de 380 crianças.
*O jornalista e critico Miguel Arcanjo Prado viaja a convite do Festival de Curitiba.
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Jornalista cultural influente, Miguel Arcanjo Prado dirige o Blog do Arcanjo desde 2012 e o Prêmio Arcanjo desde 2019. É Mestre em Artes pela UNESP, Pós-graduado em Mídia e Cultura pela ECA-USP, Bacharel em Comunicação pela UFMG e Crítico da APCA – Associação Paulista de Críticos de Artes, da qual foi vice-presidente. Eleito três vezes um dos melhores jornalistas culturais do Brasil pelo Prêmio Comunique-se. Passou por TV Globo, Grupo Record, Grupo Folha, Editora Abril, Huffpost Brasil, Grupo Bandeirantes, TV Gazeta, UOL, Rede TV!, Rede Brasil, TV UFMG e O Pasquim 21. Foi coordenador da SP Escola de Teatro. Integra o júri do Prêmio Arcanjo, Prêmio Jabuti, Prêmio Governador do Estado de SP, Sesc Melhores Filmes, Prêmio Bibi Ferreira, Destaque Imprensa Digital, Prêmio Guia da Folha e Prêmio Canal Brasil. Vencedor do Troféu Nelson Rodrigues, Prêmio Destaque em Comunicação ANCEC, Troféu Inspiração do Amanhã, Prêmio África Brasil, Prêmio Leda Maria Martins e Medalha Mário de Andrade Prêmio Governador do Estado, maior honraria na área de Letras de São Paulo.
Foto: Edson Lopes Jr.
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