Por MIGUEL ARCANJO PRADO
@miguel.arcanjo
Nos tempos de menino, criado “no mato até os 15 anos”, como faz questão de enfatizar, o músico Hermeto Pascoal gostava de se deitar no chão e escutar os sons que chegavam até ele. Eram desde conversa dos familiares sobre o próprio como também outras sonoridades naturais que despertavam o garoto para a “música universal”, como define sua produção. Agora, o músico alagoano, às vésperas de completar 87 anos de vida, condensa os sons ao redor em artes visuais na exposição Ars Nova – Hermeto Pascoal, que pode ser visitada gratuitamente até 3 de novembro de 2024 no Sesc Bom Retiro, sob curadoria do crítico madrilenho Adolfo Montejo Navas, fã do músico brasileiro desde que o conheceu no Festival de Jazz de Vitoria-Gasteiz, na Espanha, em 1990.
O Blog do Arcanjo conversou com Hermeto e também com o curador, durante um inteligente café da manhã, no qual ambos apresentaram suas visões para a mostra. Navas contou que, ao chegar na casa de Hermeto, se deparou com “uma verdadeira caixa de pandora”, tamanha a produção do artista. Diversos materiais, como até mesmo a tampa de um vaso sanitário, foram utilizados pelo mesmo para a notação musical sob forma de artes plásticas. Hermeto cria neste campo de forma muito intuitiva, já que não é muito fã do planejamento prévio.
Tanto que sua música e também arte visual começa na observação do silêncio. “Em todos nós vem um silêncio antes de cada respiração. E em cada um esse silêncio é diferente. Uns têm mais, outros, menos. Eu “, pontua. “A música segura o mundo. É a maior fonte sem fim de alegria e de prazer. É simples. Diz tudo que eu gostaria. Quase tudo. Quase tudo. E é muito compreensivo. E é muito lindo, é lindo”, conclui.
Se nas artes visuais é um recém-chegado, pelo menos nas grandes exposições, no campo da música Hermeto Pascoal é nome consagrado internacionalmente, seja como compositor, multiinstrumentista ou produtor musical. A exposição é dividida em nove diferentes momentos, que vão desde Pinturas Caligráficas, com partituras feitas em brinquedos, papel higiênico e guardanapos, até o registro audiovisual Brincando de Corpo e Alma, no qual Hermeto extraiu sons de seu corpo, como fez durante a conversa com os jornalistas.
Gerente adjunta do Sesc Bom Retiro, Ana Luisa Sirota lembra que o músico une “inventividade e bom humor”, ao se apropriar “dos mais diversos materiais e suportes, quebrando hierarquias da mesma forma como faz com gêneros musicais”. O resultado para o público é uma mostra que provoca a inteligência e a reflexão. Se o artista visual vai de vento em popa, o músico também segue mais ativo do que nunca. Tanto que entre 31 e 23 de junho lança no Sesc Vila Mariana, em São Paulo, seu novo álbum, Pra Você, Ilza.
Esta não é a primeira exposição de Hermeto. A primeira vez foi na mostra coletiva Sinais da Pista, no Museu de Petrópolis (RJ), em 2006. Na segunda, levou uma outra versão do projeto Ars Sonora – Hermeto Pascoal à Bienal de Curitiba de 2019, da qual Navas integrou a curadoria. O curador conta que foi um longo processo convencer Hermeto Pascoal que ele é um artista visual.
“Aos poucos ele está se convencendo disso. Ele até ironiza um pouco, fala de modo divertido: ‘Agora, que eu sou artista’. Ele tem muito humor, isso faz parte um pouco do retrato do método de produção dele”, afirma. “Hermeto trabalha com formas, escolhe os objetos. Então você não pode dizer que ele fez as coisas só para compor. Ele está trabalhando com materiais que são de ordem estética, de ordem da arte, em todas as suas criações. Por isso, essa relação de arte e som é uma das chaves da exposição”, diz o curador. Afinal de contas, tal relação é conhecida intimamente por Hermeto desde os tempos de menino.
Ars Sonora – Hermeto Pascoal
Sesc Bom Retiro (al. Nothmann, 185, Campos Elíseos, São Paulo). Curadoria de Adolfo Montejo Navas. Até 3 de novembro de 2024. Terça a sexta, das 9h às 20h; sábados, das 10h às 20h; domingos e feriados, das 10h às 18h. Grátis.
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Jornalista cultural influente, Miguel Arcanjo Prado dirige o Blog do Arcanjo desde 2012 e o Prêmio Arcanjo desde 2019. É Mestre em Artes pela UNESP, Pós-graduado em Mídia e Cultura pela ECA-USP, Bacharel em Comunicação pela UFMG e Crítico da APCA – Associação Paulista de Críticos de Artes, da qual foi vice-presidente. Eleito três vezes um dos melhores jornalistas culturais do Brasil pelo Prêmio Comunique-se. Passou por TV Globo, Grupo Record, Grupo Folha, Editora Abril, Huffpost Brasil, Grupo Bandeirantes, TV Gazeta, UOL, Rede TV!, Rede Brasil, TV UFMG e O Pasquim 21. Foi coordenador da SP Escola de Teatro. Integra o júri do Prêmio Arcanjo, Prêmio Jabuti, Prêmio Governador do Estado de SP, Sesc Melhores Filmes, Prêmio Bibi Ferreira, Destaque Imprensa Digital, Prêmio Guia da Folha e Prêmio Canal Brasil. Vencedor do Troféu Nelson Rodrigues, Prêmio Destaque em Comunicação ANCEC, Troféu Inspiração do Amanhã, Prêmio África Brasil, Prêmio Leda Maria Martins e Medalha Mário de Andrade Prêmio Governador do Estado, maior honraria na área de Letras de São Paulo.
Foto: Edson Lopes Jr.
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