Por MIGUEL ARCANJO PRADO
@miguel.arcanjo
Henrique Portugal sabe que a música lhe deu muito. Tanto que, atualmente, só tem uma obsessão: devolver à música um pouco daquilo que ela lhe agraciou. Durante a maior parte da carreira de mais de três décadas, o rapaz foi um sideman, como tecladista do Skank, uma das bandas mais bem sucedidas da história da música brasileira e que encerrou atividades no ano passado. Agora, vivencia a guinada de tornar-se um frontman, assumindo o rosto e a voz de sua Solar Big Band. O músico mineiro de 59 anos lança nesta sexta, 7 de junho, o EP de seu projeto solo, Henrique Portugal & Solar Big Band [faça o pré-save], no qual apresenta releituras em superproduções com a big band. Inquietude e curiosidade sempre estiveram no horizonte do músico, que teve programa de rádio por 15 anos para dilogar — e aprender — com as novas gerações, virou colunista de jornal e tocou em três discos do Sepultura, outra banda de sucesso internacional surgida nas Minas Gerais. O primeiro single do EP coproduzido com Ruben di Souza é Olha, de Roberto Carlos e Erasmo Carlos, que tem uma romântica história de bastidores. O novo arranjo da balada ganhou orquestra de cordas gravada em Chicago pelo consagrado Matt Jones. Também estão na primeira fornada de canções Ticket to Ride, dos ingleses Beatles, El Dia Que me Quieras, do argentino Carlos Gardel, e Eu Sei Que Vou te Amar, do brasileiríssimo Vinicius de Moraes. Até o fim do ano, promete versões de nomes como Elton John e Lô Borges, além de inéditas. Dono de uma prosódia mineira cativante e da qual é impossível se desvencilhar, Henrique Portugal conversou com exclusividade com o Blog do Arcanjo sobre o atual momento, repleto de amor e gratidão. No papo com Miguel Arcanjo Prado ele refletiu sobre a vida e as mudanças no mercado musical, revelou bastidores do Skank, lembrou uma viagem épica ao lado do filho mais velho e contou detalhes do EP e do público que deseja alcançar. “Quero dar para a música um pouco do muito que ela me deu”, diz. Leia a seguir a Entrevista do Arcanjo com toda a calma do mundo.
Miguel Arcanjo Prado – Você sempre gostou de estar perto do da música?
Henrique Portugal – Sempre. Mesmo com o Skank com a agenda lotada, tive durante muito tempo um programa de rádio apresentando artistas independentes. O pessoal me perguntava: ‘Por que você gasta tempo com isso?’. Eu falava assim: ‘Gente, eu aprendo demais com artista novo’. Como os caras não têm grana, eles têm de ser criativos.
Miguel Arcanjo Prado – É verdade.
Henrique Portugal – Eu aprendi por exemplo o que era EP fazendo esse programa que passava na Rádio UOL, Rádio Oi e também na Rádio Globo, só com artista novo. Você também faz isso no seu Prêmio Arcanjo, que a Adriana de Barros [jornalista musical] me apresentou. Dá espaço a artistas que estão começando ou já estão se destacando, mas ainda não tiveram um carinho devido do mercado. Isso eu admiro demais.
Miguel Arcanjo Prado – Eu que tenho a honra de ter a Adriana de Barros como jurada de música, porque ela é a melhor jornalista musical do Brasil, tem olhar democrático e plural, e é tudo a ver comigo e com a gente.
Henrique Portugal – Olha, cara, eu fico muito feliz de poder falar com você e te conhecer. Porque sei que temos uma visão parecida.
Miguel Arcanjo Prado – Eu que agradeço. E temos mais em comum, já que sou mineiro de BH também. Sou admirador de toda essa geração de músicos que você faz parte… Deixa eu te perguntar: este seu EP é uma espécie de recomeço seu na sua carreira solo após o Skank? Vejo você com uma pegada de fazer do seu jeito. Como enxerga esse novo momento?
Henrique Portugal – Tem uma coisa que é legal. É o seguinte: a vida. Ela é uma mutação constante, né? E às vezes a pessoa vive dentro de umas bolhas que não protegem, mas são como um freezer, porque elas congelam também. E esse congelamento, quando dura muito tempo, quando a bolha fura, às vezes você acorda e não tem mais o que fazer. Não tem como tentar se atualizar. A gente vê isso acontecendo com várias carreiras, né? E eu sempre foi um cara muito inquieto, muito inquieto mesmo, sempre. Provavelmente eu fui o primeiro a tocar Tiago Iorc no rádio, só para citar um dos vários nomes que entrevistei. Porque entrevistei muita gente, durante uns 15 anos, com um programa por semana, o último em 2018. Toquei muita coisa nova. Foram 700 programas tocando pelo menos 4 músicas. Vamos jogar aí 3.000 músicas que as pessoas não conheciam. Essa é a minha inquietude. Eu sempre levei minha inquietude para o Skank.
Eu sempre levei minha inquietude para o Skank.”
Henrique Portugal
Miguel Arcanjo Prado – Como diria o Belchior, precisamos todos rejuvenescer.
Henrique Portugal – No nosso disco Skank Ao Vivo em Ouro Preto, me lembro que fizemos uma enquete no nosso site, porque nem tinha rede social ainda, baseada em nosso repertório. Todo mundo achava que daria Garota Nacional, que era sucesso não só no Brasil como em vários países. E aí quem ganhou foi Resposta. Aí a gente faz assim: “Opa, alguma coisa mudou” no público.
Miguel Arcanjo Prado – Era um prenúncio da resposta das redes sociais.
Henrique Portugal – Esse mundo novo das redes sociais, que já está completando 20 anos, porque o Facebook é de 2004, né, deu poder a todo mundo. Só que as pessoas ainda não entenderam muito isso, ainda estão muito agressivas. Acho que daqui a pouco elas aprendem, né? Tem muita gente gritando ainda. Dá vontade de falar assim: ‘Não precisa falar tão alto, gente, não precisa, né? Não precisa. Escuta mais um pouquinho [risos].
Miguel Arcanjo Prado – O poder de decisão no mercado mudou de mãos.
Henrique Portugal – O modelo da decisão durante milhares de anos era das classes A e B, que definia o que as classes C e D consumiriam. Mudou. Hoje quem define tudo são as classes C e D, inclusive o que as classes A e B vão consumir.
Miguel Arcanjo Prado – Falemos de Henrique Portugal & Solar Big Band.
Henrique Portugal – De certa forma, esse disco, Henrique Portugal & Solar Big Band, traz o que eu gostaria de ouvir com arranjos de big band. Você que é mineiro sabe que toda cidade do interior de Minas Gerais tem uma banda de música.
Miguel Arcanjo Prado – Terminei de voltar de Tiradentes e sei disso muito bem.
Henrique Portugal – Em 2019, peguei meu filho, Hugo Portugal, que hoje tem 25 anos, para fazer uma viagem internacional. Eu nunca morei com meus filhos, porque me separei muito cedo da mãe deles. Eu falei: ‘Filho, você está com 20 anos, daqui a pouco você vai se formar na USP, vai começar a namorar, vai se casar e você não vai ter tempo para mim. Vamos fazer o seguinte. Vamos fazer uma viagem de 15 dias, eu e você’.
Miguel Arcanjo Prado – Que ótima ideia.
Henrique Portugal – Eu falei para ele escolher o destino. A vida, graças a Deus, me possibilitou fazer essa opção com ele. Aí ele falou assim: ‘Rapaz, eu quero um país de língua inglesa’. Era fevereiro. Austrália é longe pra danado. África do Sul o Skank já foi tocar e não é fácil de visitar. Aí o Haroldo do Skank deu a sugestão: ‘Cara, por que vocês não vão para o Sul dos Estados Unidos?’. Aí fomos para Nova Orleans, na Lousianna, Memphis e Nashville, no Tennessee, e Atlanta, na Geórgia. Tudo de carro.
Miguel Arcanjo Prado – Como foi a viagem a dois, pai e filho?
Henrique Portugal – Foi ótima. New Orleans com big band na rua, banda de rock com metais, aquele negócio explosivo! Via e falava: ‘Cara, é o que tem lá em Minas Gerais, só que elevado à enésima potência’. Em Memphis fui no Sun Records, mesmo estúdio que Elvis Presley gravou. Tinha o Stax também, que era o estúdio negro, e o Sun, de branco. O Stax não existe mais, mas há um museu que visitamos. Depois, fomos a Nashville e foi o bicho. Fomos no maior estudo do mundo atualmente, que é o Blackbird, com 11 salas de gravação, um negócio inacreditável. Aí chegamos em Atlanta, berço do trap. Que é uma cidade que tem Martin Luther King. E tem um negócio que eu adoro, que é o Museu da Coca-Cola. Eu adoro mesmo, não tem jeito. Então, assim, Miguel, o porquê de eu dizer tudo isso é um só. Amo música. Eu era analista de sistemas, eu larguei tudo para ser artista.
Amo música. Eu era analista de sistemas, eu larguei tudo para ser artista.
Henrique Portugal
Miguel Arcanjo Prado – A música é sua vida?
Henrique Portugal – Eu vivo de música. A música para mim não é uma ferramenta para eu ganhar dinheiro, é o contrário. Eu vivo de música há 30 anos, e a música paga meus boletos há 30 anos. Que delícia!
Miguel Arcanjo Prado – Seu filho Hugo fez o que na USP?
Henrique Portugal – Engenharia aeronáutica.
Miguel Arcanjo Prado – E você se formou em economia.
Henrique Portugal – É tudo nerd. Mas ele também é músico. Ele é baterista, toca em todas as calouradas da USP São Carlos. Ele ainda vai lá para tocar, tem a banda dele e tal.
Miguel Arcanjo Prado – Me parece que você quer devolver amor para a música, com esse nome, Solar Big Band.
Henrique Portugal – Olha essa é a declaração de amor que eu fiz para a música! Eu quero me divertir. Já provei tudo que precisava como bom músico, que eu dei certo na música. Eu produzi música pro Leoni, pro Zeca Baleiro. Gravei com Herbert Vianna, gravei com Frejat, gravei disco de Gilberto Gil, gravei 3 discos do Sepultura, produzi bandas do Sul, produzi coisas mineiras. Milton Nascimento já cantou música que eu compus. Entendeu? Então, assim, eu quero daqui para frente devolver um pouco para a música do muito que ela me deu. E isso não é marketing, é o que eu sinto de verdade.
Eu quero daqui para frente devolver um pouco para a música do que ela me deu. E isso não é marketing, é o que eu sinto de verdade.”
Henrique Portugal
Miguel Arcanjo Prado – Eu te entendo. Outro dia, conversava com o ator Odilon Esteves, outro mineiro em São Paulo, sobre essa relação profunda com as artes que os mineiros têm. É que é de muita verdade. Claro que se rolar de ficar famoso vai ser bacana, mas tem de ter uma verdade. Fico feliz que hoje você queira fazer música de verdade, com tudo o que isso implica neste contexto de hoje, que sabemos qual é.
Henrique Portugal – Um dia fui ao Recife tocar no Marco Zero. E o Matheus Nachtergaele estava lá. Ele morou em BH e em Tiradentes. Aí, conversando com ele, eu falei: ‘Ô Matheus, olha só, eu era um cara que era tecladista, ok, que a gente chama na música de sideman. Estou ali do lado e tal. E eu mudei de posição e vim para o centro do palco. Isso é uma transformação muito grande’. Porque quando você é músico, o instrumento te protege. Você faz show só tocando e fazendo backing vocal, com dor de barriga, dor de cabeça, entendeu? Agora, quando você se torna o frontman ali, o vocalista, o instrumento é o seu corpo. Isso faz muita diferença! Ai eu perguntei para o Matheus como ele se entrega com aquela intensidade aos personagens. Porque, agora que virei cantor, eu fico louco. Acaba o show e estou destruído [risos].
Miguel Arcanjo Prado – E o que o Matheus Nachtergaele te respondeu?
Henrique Portugal – Primeiro ele falou sobre o mineiro. Ele falou assim: ‘Henrique, eu já namorei mineiro. E é o seguinte: o mineiro não se mistura muito. Não é igual o pernambucano, que o cinema mistura com música, que mistura com teatro, que mistura com televisão, aquela coisa toda. Já o mineiro não se mistura muito. E é verdade. A gente se conhece, mas o Skank não é do mesmo grupo que do Jota Quest ou do Pato Fu. São origens diferentes. Aí, ele completou: “Mas, em compensação, o mineiro é muito profundo”.
Miguel Arcanjo Prado – Que lindo.
Henrique Portugal – A gente tem que entender como aproveitar desta profundidade que o mineiro tem. Por isso que o Clube da Esquina é daquele jeito. Entendeu? Por isso que os atores do Galpão e o teatro mineiro são desse jeito, por isso que você é esse jornalista desse jeito.
A gente tem que entender como aproveitar desta profundidade que o mineiro tem. Por isso que o Clube da Esquina é daquele jeito. Entendeu?
Henrique Portugal
Miguel Arcanjo Prado – “Os mineiros são profundos”. Linda definição.
Henrique Portugal – Não é linda? Aí eu falei assim: ‘Tá bom, mas então como ter toda essa energia no palco?’. Ele falou assim: “Henrique, é o seguinte: quanto mais técnica você tiver, mais fácil você entra e depois você sai do personagem. No seu caso, quanto mais técnica você tiver para ser cantor, mais fácil você vai se apresentar e mais fácil você vai conseguir fazer isso com uma frequência maior.
Miguel Arcanjo Prado – Sabe das coisas.
Henrique Portugal – Eu era tecladista e agora sou cantor. Eu era analista de sistemas na Belgo Mineira e virei músico. Porque a posição na vida muda. E a posição no palco é muito interessante, porque quando você é só músico, o vocalista normalmente está na sua frente e você observa muito o que está acontecendo em volta. Quando você é vocalista, quem te dá o suporte, quem te auxilia, está todo o mundo atrás. Você não vê quem está no palco, você só vê o público.
Miguel Arcanjo Prado – E é o primeiro a sentir a energia que o público emana.
Henrique Portugal – Você tem que confiar muito em quem está atrás. Tem de ter sincronismo de costas. Toda essa mudança me deu novas percepções. É muito interessante, porque é uma curva de aprendizado muito legal. E eu falei assim, bicho, sabe uma coisa? Eu já fiz tudo que as pessoas sonham como artista. O Skank ganhou tudo, cara, MTV, Troféu Imprensa do Silvio Santos, Grammy. Só não ganhamos o Oscar [risos]. Até o Leão de Ouro em Cannes ganhamos com socialmedia. Então, cara, eu quero me divertir, porque o que me faz ficar feliz é ver o público feliz.
Eu quero me divertir, porque o que me faz ficar feliz é ver o público feliz.”
Henrique Portugal
Miguel Arcanjo Prado – Gravar esse EP é isso?
Henrique Portugal – Decidi gravar músicas que eu gostaria de ver em arranjos de big band. É por isso que eu estou fazendo esse álbum de regravações. Estou relançando quatro músicas agora dia 7 de junho, nesta sexta. Depois vou lançar duas inéditas. Provavelmente em outubro lanço mais três regravações e no fim do ano ou janeiro de 2025 lanço mais duas ou três inéditas.
Miguel Arcanjo Prado – Vi que você gravou no novo disco da Ana Cañas, que aliás se reinventou com a turnê Ana Cañas Canta Belchior, que a colocou em novo patamar na música brasileira após 180 shows lotados pelo Brasil.
Henrique Portugal – Você viu a gente dançando lá no estúdio? A gente estava gravando e o povo dançando, todo mundo feliz. Eu falei, gente, eu vou errar aqui na gravação [risos]. Esse foi o clima do estúdio na gravação do novo disco da Ana Cañas. Ela é muito talentosa e uma pessoa incrível. Então, é isso. Tem muita coisa legal que está para acontecer, muita coisa gostosa.
Miguel Arcanjo Prado – Teremos mais shows?
Henrique Portugal – Eu já fiz alguns em BH e fizemos Teatro Unimed em São Paulo. Queremos voltar. Vai ter um especial no Music Box Brasil com algumas músicas deste disco, gravamos num show em Belo Horizonte. Agora, para o novo show em São Paulo tem que achar um lugar legal, porque a Solar Big Band é grande, né?
Miguel Arcanjo Prado – Como você pensa esses locais?
Henrique Portugal – Olha, Miguel, eu como sou um cara idoso [risos], eu estou quase entrando é naquela faixa assim, né?
Miguel Arcanjo Prado – Vi que você fará 60 anos ano que vem. Não acreditei. Até porque, para mim, você sempre será aquele garoto do Skank que eu via quando era adolescente. Já caiu essa ficha?
Henrique Portugal – Também não. A idade biológica definitivamente não corresponde ao meu jeito de pensar. Mas quando a gente passa de 40, tem umas questões. Eu penso assim: ‘Que tipo de show que eu gostaria de ir?’ Eu já sei. É um show que não é muito tarde. Não é muito cheio. O som não é tão alto, mas eu quero me divertir, quero conseguir levantar a mão, ir no bar e comprar alguma bebida. Não é muito parado porque eu não tenho que ficar obrigatoriamente sentado, mas se tiver uma cadeira perto, na hora que eu quiser sentar, a cadeira está ali do lado. E eu quero chegar no máximo 1 hora da manhã em casa.
Miguel Arcanjo Prado – Você acaba de dar a receita do show perfeito. Estou com 42 e é exatamente isso.
Henrique Portugal – Mas é isso que a gente quer, eu não quero ser mais tratado como gado.
Miguel Arcanjo Prado – Deus me livre de fila para comprar cerveja quente!
Henrique Portugal – Lembra do Marcelo Lobato, tecladista do Rappa? Uma vez fomos tocar num festival. Depois, ficamos lá, vendo os shows. E a gente foi ao banheiro. E a minha fila não andava nem fudendo, só a dele. Aí ele falou: ‘Acho que você entrou na fila do número 2’ [risos]. Ah, não, não dá isso mais não. Abre a porteira, entra 20.000 pessoas, aí você fica lá igual gado em pé o tempo todo, tomando cerveja quente e sem poder ir ao banheiro.
Miguel Arcanjo Prado – Sinto que você quer dialogar com esse público que foi evoluindo junto com você, que entende essa proposta de música que você faz, essa sofisticação, essas referências.
Henrique Portugal – É público adulto, gente.
Miguel Arcanjo Prado – Então você não vai virar um novo cantor de trap?
Henrique Portugal – Eu vou te falar uma coisa, eu não sou Peter Pan, eu não pinto o cabelo. Eu só gosto de viver. Mesmo. De verdade.
Miguel Arcanjo Prado – É um mineiro clássico.
Henrique Portugal – Tem de ter a habilidade e a maturidade de saber envelhecer. É uma grande virtude. Mesmo que seja Skank, você vê pai com o filho no show. O que eu falo é o seguinte: ‘Olha, eu sou adulto, eu quero dialogar com adultos, pessoas que gostam do que eu fiz minha vida inteira e quero que elas continuem gostando. E eu quero fazer som para essas pessoas. Eu faço o que eu quero escutar. Quero dar para a música um pouco do que ela me deu’.
Miguel Arcanjo Prado – Por que escolheu regravar Olha, do Roberto Carlos e Erasmo Carlos?
Henrique Portugal – Queria dar um presente para a minha mulher. Uma vez ela me mandou um áudio com essa música. Posso te contar uma coisa?
Miguel Arcanjo Prado – Pode.
Henrique Portugal – A última gravação de cordas do Skank foi do Velocia, nosso último álbum de estúdio. A gente estava mixando em Nova Iorque. No Avatar, o último dos grandes estúdios de Nova Iorque. Aí o Haroldo falou assim, aquele cara, o Rob Mathes, é quem faz os arranjos daqueles prêmios todos de Washington, no Kennedy Center, é um cara sensacional. Vamos chamar pro disco. Aí o Haroldo entrou em contato com ele, mandou os arranjos, e ele falou que não poderia gravar, porque iria estar em Londres, fazendo umas coisas. Aí propomos de ele gravar a distância. E ninguém iria acompanhar. Eu falei assim: ‘Vocês estão loucos? Eu vou!’. Saí de Nova Iorque, peguei um avião, fui pra Londres, passei 36 horas lá. A gravação foi no histórico Abbey Road Studios. Vi a gravação, filmei tudo. E o Rob Mathes vei para mim uma hora e me disse: esses caras são parte da Sinfônica de Londres, são os caras que gravam a trilha de Star Wars.
Eu só quero poder continuar vivendo de música e fazendo coisas boas. É o que eu sempre fiz e vou continuar fazendo. Então, esse álbum, Henrique Portugal & Solar Big Band, de certa forma, é uma homenagem a tudo que eu fiz.”
Henrique Portugal
Miguel Arcanjo Prado – Uau.
Henrique Portugal – Olha, Miguel, é o seguinte. Eu escolhi viver de música. Não vou perder esses momentos únicos que a música me proporciona. Eu poderia ter continuado vivendo de ser analista de sistemas. Eu preferi arriscar e viver de música, e é o que eu quero continuar fazendo daqui para frente. Ver esses momentos com meus olhos, como foi em Londres, não tem outro igual. Eu fui o único a receber o Grammy do Skank em Los Angeles. Então, eu só quero poder continuar vivendo de música e fazendo coisas boas. É o que eu sempre fiz e vou continuar fazendo. Então, esse álbum, de certa forma, é uma homenagem a tudo que eu fiz. Então, só para completar a sua pergunta da música Olha, por que que eu estou lançando, tem a ver com isso. Eu estava saindo de Abbey Road, em Londres, e minha mulher me manda um áudio cantando essa canção. Ela era minha namorada na época. Aí eu falei, que coisa bonita. E pensei: ‘Poxa, que presente eu posso dar para ela que ninguém poderia comprar?’. Esse.
Miguel Arcanjo Prado – Você ainda é um romântico.
Henrique Portugal – Eu nunca imaginei me tornar cantor, nunca sonhei com isso. Eu me tornei cantor. Por causa dessa história da música Olha. E eu ainda esperei quatro anos para o Roberto Carlos liberar. E vamos ter esse lançamento agora, dia 7 de junho. É isso. Eu sou um cara da música. E eu tento devolver para ela o que ela me deu da melhor maneira possível.
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Jornalista cultural influente, Miguel Arcanjo Prado dirige o Blog do Arcanjo desde 2012 e o Prêmio Arcanjo desde 2019. É Mestre em Artes pela UNESP, Pós-graduado em Mídia e Cultura pela ECA-USP, Bacharel em Comunicação pela UFMG e Crítico da APCA – Associação Paulista de Críticos de Artes, da qual foi vice-presidente. Eleito três vezes um dos melhores jornalistas culturais do Brasil pelo Prêmio Comunique-se. Passou por TV Globo, Grupo Record, Grupo Folha, Editora Abril, Huffpost Brasil, Grupo Bandeirantes, TV Gazeta, UOL, Rede TV!, Rede Brasil, TV UFMG e O Pasquim 21. Foi coordenador da SP Escola de Teatro. Integra o júri do Prêmio Arcanjo, Prêmio Jabuti, Prêmio Governador do Estado de SP, Sesc Melhores Filmes, Prêmio Bibi Ferreira, Destaque Imprensa Digital, Prêmio Guia da Folha e Prêmio Canal Brasil. Vencedor do Troféu Nelson Rodrigues, Prêmio Destaque em Comunicação ANCEC, Troféu Inspiração do Amanhã, Prêmio África Brasil, Prêmio Leda Maria Martins e Medalha Mário de Andrade Prêmio Governador do Estado, maior honraria na área de Letras de São Paulo.
Foto: Edson Lopes Jr.
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