Por MIGUEL ARCANJO PRADO
@miguel.arcanjo
Colaborou Solange Correia
Como é bom ter no topo do Judiciário da Nação alguém com olhos de amor e respeito quando o assunto é a cultura. A ministra do Supremo Tribunal Federal Cármen Lúcia esteve em Ouro Preto, Minas Gerais, nesta sexta, 21 de junho, para participar dos Encontros de Arquivos da 19ª CineOP – Mostra de Cinema de Ouro Preto.
Apresentada pelo prefeito de Ouro Preto, Angelo Oswaldo, em seu discurso, marcado pela seu conhecido domínio da oratória, profundidade jurídica e defesa dos direitos humanos constitucionais, além do bom humor típico da mineira de Montes Claros, Cármen Lúcia reforçou a importância da cultura para a união e desenvolvimento do Brasil, assim como o papel essencial da arte na coesão social. E lembrou que o acesso aos bens culturais é um direito.
Eu venho de uma região muito rica culturalmente, mas com grandes dificuldades econômicas que limitam o acesso da população aos produtos culturais. É responsabilidade do Estado assegurar que a produção cultural seja acessível a todos, independentemente de sua localização ou condição socioeconômica. O dever do Estado é garantir que se produza, que se entenda e que se exiba aquilo que é produzido em benefício de todos […] A cultura brasileira é única e deve ser valorizada e difundida, proporcionando igualdade de oportunidades no acesso a teatros, livros e quaisquer outras formas de expressão artística”.
Cármen Lúcia
ministra do Supremo Tribunal Federal – STF e presidente do Tribunal Superior Eleitoral – TSE
19ª CineOP – Mostra de Cinema de Ouro Preto, 2024
Ministra Cármen Lúcia cita Titãs: ‘Queremos comida, diversão e arte’
A ministra ainda lembrou que o espaço de transgressão e de questionamento presente na cultura é essencial ao desenvolvimento humano e resiste a qualquer política de cunho autoritário, sectário ou ditatorial, o que não cabe em uma democracia. E até citou uma canção do grupo paulistano de rock Titãs.
Nós queremos liberdade individual, queremos direito de ser livre para escolher o que queremos, o que queremos fazer, mas essa liberdade é de ser garantida igualmente a todas as pessoas, e a gente só chega a isso com a solidariedade, que é a tradução constitucional brasileira do princípio da fraternidade. Nós vimos isso nesses quatro anos de loucuras da pandemia, em que, se não houvesse solidariedade nós teríamos mais mortes. A solidariedade é base da nossa sociedade, da nossa convivência e isso está na Constituição. Não vale só para a saúde física, não vale só até para a saúde mental, isto vale para a saúde dos direitos fundamentais. A pessoa que tem acesso aos bens culturais tem condições de ser mais livre. E a nossa vida é isso, um ampliar permanente das nossas liberdades. O que a gente tem na vida é isso. Nasce, a criança está ali no berço e a mãe vai dormir tranquila porque não sai do berço. Depois, uma hora, ele sai do berço, mas não pode sair do quarto. Depois, não pode sair de casa. Depois que sair de casa, não pode sair, não pode atravessar a rua. E a gente vai ampliando os direitos, vai adquirindo condições para ser mais livre, ter mais escolhas. Espaços de liberdade. Onde você atravessa a rua, atravessa a cidade, atravessa o mundo, é assim que você atravessa a vida, ampliando as liberdades. Você só faz isso se tiver acesso aos beisos culturais, não apenas a uma educação formal, embora eu acho que a educação formal é imprescindível, mas nós, os Titãs têm razão, não queremos só comida, nós queremos comida, diversão e arte. Nós queremos saída para qualquer parte.”
Cármen Lúcia
ministra do Supremo Tribunal Federal – STF e presidente do Tribunal Superior Eleitoral – TSE
19ª CineOP – Mostra de Cinema de Ouro Preto, 2024
Namoro no cinema
Como é comum da ministra, Cármen Lúcia rememorou seus tempos de juventude em Minas, época em que descobria o mundo nas salas de cinema, das quais sempre foi ferrenha frequentadora. E ainca confidenciou que “ia ao cinema para namorar”, arrancando gargalhadas cúmplices do público ouro-pretano. Ela ainda recordou que o pai exibia rolos de filmes para ela na sala de casa e deixava que vizinhos assistissem da janela, já que os filmes interessavam a todos, numa prova de que a democratização do acesso à cultura faz parte de sua história familiar.
Defesa da arte e dos direitos humanos
Cármen Lúcia, um dos baluartes do direito brasileiro, defendeu os direitos humanos e a arte como princípio constitucional e de formação íntima e pessoal. E citou a fala de um antigo professor sobre as singularidades do ser humano.
Esse professor dizia que a onça não ‘desonça’, a zebra não ‘dezebra’, mas o humano se desumaniza. E a gente fala disso como se fosse natural alguém afastar-se de sua essência, como se fosse normal alguém sair e se exilar da sua humanidade. O que ainda reapruma o humano em si mesmo só a arte pode trazer. Todas as outras linguagens, de amor ou de ódio, são momentâneas. A única que é permanente é a que fala ao coração do homem na sua intensidade de luz.
Cármen Lúcia
ministra do Supremo Tribunal Federal – STF e presidente do Tribunal Superior Eleitoral – TSE
19ª CineOP – Mostra de Cinema de Ouro Preto, 2024
*O Blog do Arcanjo viaja a convite da CineOP e Universo Produção.
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Jornalista cultural influente, Miguel Arcanjo Prado dirige o Blog do Arcanjo desde 2012 e o Prêmio Arcanjo desde 2019. É Mestre em Artes pela UNESP, Pós-graduado em Mídia e Cultura pela ECA-USP, Bacharel em Comunicação pela UFMG e Crítico da APCA – Associação Paulista de Críticos de Artes, da qual foi vice-presidente. Eleito três vezes um dos melhores jornalistas culturais do Brasil pelo Prêmio Comunique-se. Passou por TV Globo, Grupo Record, Grupo Folha, Editora Abril, Huffpost Brasil, Grupo Bandeirantes, TV Gazeta, UOL, Rede TV!, Rede Brasil, TV UFMG e O Pasquim 21. Foi coordenador da SP Escola de Teatro. Integra o júri do Prêmio Arcanjo, Prêmio Jabuti, Prêmio Governador do Estado de SP, Sesc Melhores Filmes, Prêmio Bibi Ferreira, Destaque Imprensa Digital, Prêmio Guia da Folha e Prêmio Canal Brasil. Vencedor do Troféu Nelson Rodrigues, Prêmio Destaque em Comunicação ANCEC, Troféu Inspiração do Amanhã, Prêmio África Brasil, Prêmio Leda Maria Martins e Medalha Mário de Andrade Prêmio Governador do Estado, maior honraria na área de Letras de São Paulo.
Foto: Edson Lopes Jr.
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