Olhar de Cinema se consolida como grande festival do Brasil com 22 mil pessoas de público na 13ª edição

Gabriel Borges, da equipe de curadoria do 13º Olhar de Cinema, que teve público de mais de 22 mil pessoas, conversa com o Blog do Arcanjo © Walter Thoms Divulgação Blog do Arcanjo 2024

Por MIGUEL ARCANJO PRADO
@miguel.arcanjo

Enviado especial ao Olhar de Cinema – Festival Internacional de Curitiba*

O Olhar de Cinema – Festival Internacional de Curitiba marcou o mês de junho e o fim do primeiro semestre no audiovisual com mais de 80 filmes e 22 mil pessoas aplaudindo uma programação diversa que agitou a capital do Paraná de 12 a 20 de junho de 2024. O evento reuniu estreias nacionais, internacionais, sessões de cópias restauradas, além de curtas e longas que inovaram linguagem e propuseram novas discussões à sétima arte. Aliás, os debates e mesas de discussões foram acalorados e propositivos. O Blog do Arcanjo acompanhou de perto o evento pela primeira vez e viu um festival robusto e que se consolida como um dos mais instigantes do Brasil e da América Latina. O jornalista Miguel Arcanjo Prado conversou com exclusivdade com Gabriel Borges, da equipe curatorial do evento dirigido por Antonio Gonçalves Jr., sobre o sucesso do evento. Leia o bate-papo a seguir.

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Olhar de Cinema teve público de mais de 22 mil pessoas em 2024 © Walter Thoms Divulgação Blog do Arcanjo

Miguel Arcanjo Prado – Como você definiria a 13ª edição do Olhar de Cinema?
Gabriel Borges –
Como um sucesso. Um sucesso um tanto pela receptividade do público, quanto pelas discussões que a gente conseguiu gerar no festival e também pela confiança com os realizadores. E claro, o público, que depositou confiança na gente, estando presentes em todas as sessões, muito lotadas e que geram um grande contentamento na gente por justamente marcar essa consolidação do festival tanto no calendário nacional, quanto no calendário da cidade, como inclusive no calendário internacional de promoções de filmes internacionais que vieram fazer suas estreias brasileiras aqui no Olhar de Cinema. E também filmes brasileiros que estrearam internacionalmente e voltaram para o país aqui. Então, essa conjugação tanto de confiança dos realizadores como de confiança do público que veio fazem do evento um sucesso. E o público viu os filmes e ficou para os debates. Acho que essa reflexão sobre os filmes também foi muito bacana. Um marco para essa edição foi a participação do público e da imprensa na promoção dessas conversas sobre as obras. E, claro, a receptividade da cidade de Curitiba e de todo mundo daqui para esses filmes que vieram ao Olhar de Cinema, pessoas de fora do país ou de outras regiões.

Miguel Arcanjo Prado – Quais números desta edição já pode compartilhar?
Gabriel Borges –
Vivemos uma corrida por ingressos. Temos mais de 22 mil pessoas que frequentaram o Olhar de Cinema – Festival Internacional de Curitiba. Preciso citar ainda a vinda de realizadores internacionais como o Nelson de los Santos Arias, diretor ganhador do prêmio de Melhor Direção em Berlim, com Pepe. Ele esteve apresentando as sessões, conversando com o público. A gente está muito feliz com também essa receptividade. Só na abertura, tivemos um público de mais de 1.500 pessoas na Ópera de Arame.

Público lota sessão do 13º Olhar de Cinema em Curitiba: mais de 22 mil pessoas © Walter Thoms Divulgação Blog do Arcanjo 2022

Miguel Arcanjo Prado – Como enxerga a consolidação do Olhar de Cinema?
Gabriel Borges –
Já há alguns anos, o Olhar de Cinema tem se afirmado enquanto um dos principais festivais de cinema do Brasil. Eu acredito que essa 13ª edição, e principalmente o sucesso dela, marcam a consolidação do festival nesse espaço, enquanto um dos principais festivais de cinema do país, um espaço privilegiado para a estreia de filmes brasileiros e internacionais e também para a discussão de cinema em torno desses filmes. Estou falando bastante de estreia, mas é porque a gente tem uma honra muito grande de, nessa edição, receber tanto a estreia de filmes brasileiros que já tiveram carreiras internacionais interessantes, como de filmes brasileiros que fizeram sua estreia mundial aqui no festival e que, a partir daqui, vão ter uma carreira muito interessante. Além disso, a gente teve também a estreia aqui no festival de filmes de realizadores, tanto já experientes, como foi o caso da abertura com Retrato de Um Certo Oriente, dirigido pelo Marcelo Gomes, e nas exibições especiais. A gente também teve a estreia de Mário de Andrade – O Turista Aprendiz, dirigido por Murilo Salles. Receber esses eventos para a gente é muito especial e acho que marca um espaço de confiança desses realizadores, de diferentes gerações, no festival. Além disso, claro, as estreias na Mostra Competitiva Brasileira, tanto de curtas como de longa-metragens, mostram justamente esse espaço dedicado pelo festival a filmes cada vez mais inventivos de realizadores que estão interessados por diferentes gêneros, da comédia ao thriller, do drama ao documentário. Navegar por essas diferentes instâncias e receber esses filmes, promovendo discussões, fez o Olhar de Cinema se consolidar nessa edição com um público de mais de 22 mil pessoas. O Olhar de Cinema foi pivô de muitas discussões e exibições muito especiais para o cinema brasileiro.

Debate sobre o filme Retrato de Um Certo Oriente, de Marcelo Gomes, baseado em livro de Milton Hatoum, no 13º Olhar de Cinema © Walter Thoms Divulgação Blog do Arcanjo 2024

Miguel Arcanjo Prado – Na sua visão, o que caracteriza o Olhar de Cinema?
Gabriel Borges –
Pensando sobre o que caracteriza o festival, tanto a nível nacional como internacional, talvez a gente pudesse citar uma noção de risco, uma noção de descoberta, de invenção. E quando eu falo risco, eu posso estar falando de uma medida de linguagem, como a gente lida na Mostra Novos Olhares, dedicado a filmes mais radicais, filmes que tentam experimentar e navegam por essa camada de invenção formal, de maneira muito mais direta, e esse ano teve inclusive a estreia de Idade da Pedra, do Renan Rovida, que foi o filme premiado na Mostra, e também do brasileiro, Entre Vênus e Marte, dirigido por Cris Ventura, e, claro, não é de Jean Genet Agora, de Miguel Zeballos, só para citar três dos seis filmes da Mostra. O argentino Miguel Zeballos esteve aqui no festival. Mas também a gente pode estar falando de um risco colocado, tanto pela maneira como esses filmes lidam com a realidade, na Mosta do Cinema de Luta, por exemplo, que buscavam pensar como o cinema está inserido dentro desse cenário político, a partir dos movimentos sociais e nessa jogo de mudanças e ação direta. Ou também, claro, na Mostra Competitiva Brasileira em filmes que estão navegando por diferentes gêneros, por diferentes modos de enunciação, mas ainda se colocando à prova. A reflexão, a discussão sobre esses filmes é um dado fundante do festival, a gente sempre busca ter esses bate-papos e promover essas discussões, tanto nos corredores, como nas mesas e debates que a gente organiza e que são transmitidos pelo YouTube, inclusive está tudo gravado por lá para quem quiser ver ou rever. Então, acho que essa noção de risco para o Olhar de Cinema, pensando, claro, nesses diferentes maneiras como o risco se expressa, talvez seja interessante. A gente, claro, recebe filmes de diferentes gêneros e propostas ainda arriscadas, propostas que se propõem a colocar em um lugar de discussão dentro do cinema e dentro do mundo.

O histórico Cine Passeio em Curitiba foi uma das casas dos filmes do 13º Olhar de Cinema © Divulgação Blog do Arcanjo 2024

Miguel Arcanjo Prado – Como vocês avaliam o envolvimento da cidade de Curitiba com o Olhar de Cinema?
Gabriel Borges –
A localidade talvez seja uma das coisas mais importantes no momento em que você pensa um festival de cinema. De que maneira o seu festival se insere na cidade e de que maneira o seu festival dialoga com o público da cidade. Há alguns anos já, o Olhar de Cinema constrói esse público em Curitiba, estando presente em diferentes momentos da relação com a cidade. Seja no público, que acho que lotou as salas de cinema esse ano, esteve presença nos debates e oficinas. Pensando nessa programação de filmes curitibanos, nas programação de filmes também paranaenses, ou seja, pensando além de Curitiba, pensando o festival localizado no estado do Paraná, isso atravessou a programação de diferentes modos. Na Mostra Clássicos, teve estreia da cópia digitalizada do filme A Guerra do Pente, dirigido por Nivaldo Lopes, em uma exibição muito especial, por ser um filme que discute a realidade de Curitiba nos anos 1980. E em diferentes mostras, como filmes de realizadores que têm a atuação em Curitiba, como Lista de Desejos para Superagüi. O mesmo nas exibições especiais, seja nas exibições da Mirada Paranaense, ou também na exibição da Competição Brasileira de O Sol das Mariposas, produzido por uma produtora de Curitiba, mesmo que filmado no Norte do Estado. Então, pensando essa relação com os filmes curitibanos, claro que eles têm um holofote especial dentro da programação e também um holofote de público. Essas sessões são sempre muito lotadas e muito bacanas para a gente integrar a cidade dentro do festival. Claro que essa integração também se dá em todas as outras mostras. Há um interesse cada vez maior das pessoas curitibanas em ir às mostras competitivas, em estar presente nas sessões, em conhecer os realizadores que vieram de fora para apresentar seus filmes aqui, e um público, apesar do estereótipo, sempre muito caloroso, que recebe esses filmes e busca compreendê-los em tantas esferas.

Gabriel Borges (segundo da dir. para a esq.) com equipe do Olhar de Cinema © Walter Thoms Divulgação Blog do Arcanjo 2024

Miguel Arcanjo Prado – Qual foi um momento marcante nessa edição do Olhar de Cinema?
Gabriel Borges –
Poderia falar das tantas exibições da Mostra Competitiva Brasileira, tanto de curtas como de longas, ou falar da mesa da Mostra Foco, que foi muito especial, em que a gente pôde reunir todos os realizadores da Mostra Foco Cinema de Luta e também representantes da Escola Popular do Núcleo Periférico aqui de Curitiba para uma discussão sobre esse poder de cinema. Poderia ser a vinda dos diretores e equipes para a Mostra Competitiva Brasileira, tornar essa dimensão do cinema cada vez mais coletiva, esse entendimento de quem está por trás da realização dos filmes em toda a sua magnitude, tendo que esses diferentes agentes são muito fundamentais para o processo, tanto atores como diretores de fotografia, diretores de som, diretores de arte, enfim, pensando em todas as esferas.. Mas queria citar um momento muito especial dessa edição que foi a estreia da cópia digitalizada e restaurada em 4K do filme Um É Pouco, Dois É Bom, de Odilon Lopes. A gente trouxe para o festival a equipe que trabalhou na restauração do filme, Débora Boutrousse, Lorena Rocha, Gabriel Araújo, Vanessa Lopes e Marcos Mello representando três instituições, a Mnemosine Serviços Audoivisuais, a Plataforma Indeterminações e a Cinemateca Capitólio. Foi uma exibição muito especial dessa cópia, que é muito bonita e de um filme muito marcante para a história do cinema brasileiro, um filme que busca, através do absurdo, através do exagero, através do surrealismo, também fazer um retrato desse Porto Alegre Urbano nos anos 1970. Um filme dirigido por um diretor negro no Rio Grande do Sul, que naquele momento, é um filme que nunca havia sido visto nessa magnitude. Foi muito especial essa exibição, que também foi acompanhada por uma mesa muito bacana, chamada Preservação Audiovisual e Cinema Negro no Brasil, que está disponível no nosso YouTube do festival. Então, foi uma exibição e uma mesa. É uma mesa muito especial para mim, acho que foi um momento muito marcante dessa edição para quem pôde estar presente e também está aí registrado para sempre.

Vencedores do 13º Olhar de Cinema © Walter Thoms Divulgação Blog do Arcanjo 2024

Gabriel Borges é pontagrossense, curador, cineclubista, montador e diretor de cinema. Mestre em Cinema e Artes do Vídeo pela Universidade Estadual do Paraná, Gabriel atua na realização e edição de filmes e na organização e programação de cineclubes e festivais de cinema como o IV Griot – Festival de Cinema Negro Contemporâneo, o Metrô – Festival do Cinema Universitário Brasileiro e o Cineclube São Bernardo.

*O jornalista e crítico Miguel Arcanjo Prado viaja a convite do Olhar de Cinema – Festival Internacional de Curitiba. Agradecimento: Tip Mídia Curitiba.

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Jornalista cultural influente, Miguel Arcanjo Prado dirige o Blog do Arcanjo desde 2012 e o Prêmio Arcanjo desde 2019. É Mestre em Artes pela UNESP, Pós-graduado em Mídia e Cultura pela ECA-USP, Bacharel em Comunicação pela UFMG e Crítico da APCA – Associação Paulista de Críticos de Artes, da qual foi vice-presidente. Coordena a Extensão Cultural da SP Escola de Teatro e apresenta o Arcanjo Pod. Eleito três vezes um dos melhores jornalistas culturais do Brasil pelo Prêmio Comunique-se. Passou por TV Globo, Grupo Record, Grupo Folha, Editora Abril, Huffpost Brasil, Grupo Bandeirantes, TV Gazeta, UOL, Rede TV!, Rede Brasil, TV UFMG e O Pasquim 21. Integra o júri do Prêmio Arcanjo, Prêmio Jabuti, Prêmio Governador do Estado de SP, Sesc Melhores Filmes, Prêmio Bibi Ferreira, Destaque Imprensa Digital, Prêmio Guia da Folha e Prêmio Canal Brasil. Vencedor do Troféu Nelson Rodrigues, Prêmio Destaque em Comunicação ANCEC, Troféu Inspiração do Amanhã, Prêmio África Brasil, Prêmio Leda Maria Martins e Medalha Mário de Andrade Prêmio Governador do Estado, maior honraria na área de Letras de São Paulo.
Foto: Edson Lopes Jr.
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