★★★★ Crítica: A Mulher Sem Pecado valoriza Nelson Rodrigues com Grupo Gattu dirigido por Eloisa Vitz
Por MIGUEL ARCANJO PRADO
@miguel.arcanjo
★★★★
A MULHER SEM PECADO
Avaliação: Muito Bom
Crítica por Miguel Arcanjo Prado
Eloisa Vitz é uma das encenadoras mais importantes — e trabalhadoras — do teatro brasileiro contemporâneo, com produção constante nos últimos 24 anos de seu Grupo Gattu, o que a faz ser respeitada pela classe artística e pelo público que lota suas peças. Prova disso é sua façanha em A Mulher Sem Pecado, primeira peça escrita em 1941 pelo maior dramaturgo brasileiro, o famigerado Nelson Rodrigues (1912-1980). O autor, que andava esquecido e até mesmo atacado por parte da classe artística, é revigorado na montagem dirigida por Eloisa Vitz com o Grupo Gattu. A encenação comprova a força descomunal da obra rodrigueana, que como poucos conseguiu traduzir nossos mais camuflados traumas e desejos. A trama gira em torno de um homem obcecado pela fidelidade de sua mulher, tornando a vida da pobre um martírio com seus ataques de ciúmes. Daniel Gonzales brilha na acertada composição de seu sisudo Olegário, o marido entrevado em uma cadeira de rodas que busca manter a mulher no cabresto. Lídia, a esposa, é interpretada com desenvoltura por Miriam Jardim, que impõe à mesma uma aura de mistério e segredo, mas com malemolência no olhar. Ainda estão no elenco Mariana Fidelis e Paulo de Almeida, efervescentes como os serviçais alcoviteiros do casal, submersos no jogo de traições que a peça compõe; além de Lilian Peres, atriz que representa um respiro no drama, divertidíssima como a intrometida e amarga mãe de Olegário, e Jailton Nunes, o mancebo sensual irmão de Lídia. Eloisa Vitz, que é uma das melhores atrizes de sua geração, também dá o ar de sua graça na pele da finada esposa de Olegário, em aparição etérea e potente. A encenação remodela com perspicácia o Teatro do Sol, sede do Grupo Gattu, brincando com degraus que deixam o patriarca acima de todos, e também orifícios de onde surgem personagens. Os figurinos de época de Heron Medeiros valorizam a trama folhetinesca, bem como a iluminação inebriante de Eloisa Vitz e Newton Saiki e a trilha sonora cuidadosamente pinçada pela diretora. A Mulher Sem Pecado de Eloisa Vitz com o Grupo Gattu confirma a força genial de Nelson Rodrigues como dramaturgo universal e atemporal, apresentando o mesmo às novas gerações. Afinal, independentemente de gostos momentâneos, o teatro brasileiro deve muito a Nelson Rodrigues. O Grupo Gattu demonstra saber disso muito bem.
★★★★
A MULHER SEM PECADO
Avaliação: Muito Bom
Crítica por Miguel Arcanjo Prado
Quinta, sexta e sábado, 21h, domingo, 19h. Até 14/7/2024. Teatro do Sol – Rua Damiana da Cunha, 413, Santana, São Paulo, SP. 70 min. 16 anos. Grátis. Tel. 11. 3791.2023 e Whatsapp: 11. 95679.2526.
Leia entrevista com Eloisa Vitz
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Jornalista cultural influente, Miguel Arcanjo Prado dirige o Blog do Arcanjo desde 2012 e o Prêmio Arcanjo desde 2019. É Mestre em Artes pela UNESP, Pós-graduado em Mídia e Cultura pela ECA-USP, Bacharel em Comunicação pela UFMG e Crítico da APCA – Associação Paulista de Críticos de Artes, da qual foi vice-presidente. Eleito três vezes um dos melhores jornalistas culturais do Brasil pelo Prêmio Comunique-se. Passou por TV Globo, Grupo Record, Grupo Folha, Editora Abril, Huffpost Brasil, Grupo Bandeirantes, TV Gazeta, UOL, Rede TV!, Rede Brasil, TV UFMG e O Pasquim 21. Foi coordenador da SP Escola de Teatro. Integra o júri do Prêmio Arcanjo, Prêmio Jabuti, Prêmio Governador do Estado de SP, Sesc Melhores Filmes, Prêmio Bibi Ferreira, Destaque Imprensa Digital, Prêmio Guia da Folha e Prêmio Canal Brasil. Vencedor do Troféu Nelson Rodrigues, Prêmio Destaque em Comunicação ANCEC, Troféu Inspiração do Amanhã, Prêmio África Brasil, Prêmio Leda Maria Martins e Medalha Mário de Andrade Prêmio Governador do Estado, maior honraria na área de Letras de São Paulo.
Foto: Edson Lopes Jr.
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