‘A gente tem de se atirar de boca na vida’, diz Aguinaldo Silva ao lançar autobiografia Meu Passado me Perdoa
Por DAVID GODOI
Aguinaldo Silva, um dos maiores dramaturgos da história do Brasil, agora tem sua vida condesada no livro autobiográfico Meu Passado me Perdoa, pela Editora Todavia. O tomo teve lançamento na noite desta terça feira, 16 de julho de 2024, na Livraria da Vila, no Shopping Pátio Higienópolis, na cidade de São Paulo.
Durante esta temporada de inverno, nada fica melhor do que uma saborosa xícara de chocolate quente e uma instigante e fervorosa leitura para aquecer o corpo e a alma. Pensando nisso, o Blog do Arcanjo acompanhou de perto o lançamento do autor de novelas como Roque Santeiro, Vale Tudo, Tieta, Pedra sobre Pedra, A Indomada, Senhora do Destino, Duas Caras e Império e duas vezes vencedor do Emmy, o maior prêmio da TV mundial.
O ilustre escritor chegou diante de uma plateia recheada de fãs de longa data, jornalistas e celebridades, sobretudo artistas que fizeram suas icônicas novelas na Globo. Nomes como Antônio Fagundes, Alexandra Martins, Fabíola Reipert, José Carlos Nery, Cristina Padiglione, Giulia Gam, Vanessa Giácomo e a pupila do dramaturgo, Marina Ruy Barbosa, prestigiaram a noite.
A disputada sessão de autógrafos teve como prévia um aconchegante bate-papo, mediado pelo jornalista e pesquisador de televisão Nilson Xavier.
A noite ainda teve leitura de um trecho do primeiro capítulo, narrado brilhantemente pela atriz Vanessa Giácomo. O trecho relata um momento extremamente abrupto na vida do autor e muito comum para meninos e futuros homens gays, que é a violência e homofobia na infância durante o período escolar. Intitulado “Memórias de uma ex-rainha”, o capítulo conta o fatídico dia em que, aos 13 anos, em 1957, no Colégio Americano Batista em Recife, por meio de um ato de bullying, Aguinaldo foi eleito a Rainha da Primavera. O relato é extremamente voraz e palpável, e infelizmente ainda se mostra tão comum nos dias atuais, o que acaba desencadeando inúmeros eventos, cicatrizes e questionamentos ímpares na vida de um jovem.
Todavia, Aguinaldo, em seus vigorosos 81 anos de vida, olha para sua trajetória de uma maneira carinhosa e bem humorada; este repórter diria que até um pouco sarcástica e carismática. Entende que tudo que lhe ocorreu, por mais árido e tenso que possa ser, resultou em toda uma brilhante trajetória profissional, transformando um grande circo em seu precioso tesouro.
A seguir, Aguinaldo Silva fala com exclusividade ao Blog do Arcanjo.
Blog do Arcanjo – Qual o intuito que você tem com o novo livro?
Aguinaldo Silva – Escrevi esse livro, para as pessoas perceberem que eu sou apenas uma pessoa, como qualquer outra, que não sou arrogante, sou apenas uma pessoa que age na defensiva.
Blog do Arcanjo – O que é preciso pra ser um bom escritor de livros e autor de novelas e séries?
Aguinaldo Silva – Eu escrevo todos os dias alguma coisa, mesmo não sabendo se vai virar um trabalho ou não, eu sou obcecado pelo texto. Se você escreve todo dia e tem paixão pela escrita, você vai se aperfeiçoando. O que me mantém vivo e saudável é essa minha obrigação diária de escrever, escrever e escrever.
Blog do Arcanjo – Quais conselhos você daria para novos escritores?
Aguinaldo Silva – Vivam! Não fiquem trancados em casa, vivam experiências diferentes, isso te torna um bom escritor. Até experiências difíceis e emotivas te deixam mais criativo.
O que me mantém vivo e saudável é essa minha obrigação diária de escrever, escrever e escrever.
Aguinaldo Silva
Blog do Arcanjo – Se pudesse voltar no tempo e tivesse que dar um conselho ao jovem Aguinaldo Silva, o que diria a ele?
Aguinaldo Silva – Um conselho que eu daria a ele? Eu diria para ele não ter medo, muitas vezes eu tive medo das coisas e me arrependo. A gente tem que se atirar de boca na vida e deixa pra lá. Eu acho que me atirei um pouco, mas eu diria para ele, não tenha medo!
Blog do Arcanjo – Como você quer ser lembrado daqui a 100 anos?
Aguinaldo Silva – Acho que daqui a 100 anos ninguém vai se lembrar de mim (risos). Eu estava vendo essa semana, por acaso, na minha casa, e eu peguei um livro do [Manuel] Bandeira, que era um poeta famosíssimo. E hoje em dia ninguém sabe quem ele foi, e ele é uma figura importantíssima da cultura brasileira. Eu acho que essa coisa de ‘ah eu vou ser lembrado eternamente’, eu acho que é besteira.
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Jornalista cultural influente, Miguel Arcanjo Prado dirige o Blog do Arcanjo desde 2012 e o Prêmio Arcanjo desde 2019. É Mestre em Artes pela UNESP, Pós-graduado em Mídia e Cultura pela ECA-USP, Bacharel em Comunicação pela UFMG e Crítico da APCA – Associação Paulista de Críticos de Artes, da qual foi vice-presidente. Coordena a Extensão Cultural da SP Escola de Teatro e apresenta o Arcanjo Pod. Eleito três vezes um dos melhores jornalistas culturais do Brasil pelo Prêmio Comunique-se. Passou por TV Globo, Grupo Record, Grupo Folha, Editora Abril, Huffpost Brasil, Grupo Bandeirantes, TV Gazeta, UOL, Rede TV!, Rede Brasil, TV UFMG e O Pasquim 21. Integra o júri do Prêmio Arcanjo, Prêmio Jabuti, Prêmio Governador do Estado de SP, Sesc Melhores Filmes, Prêmio Bibi Ferreira, Destaque Imprensa Digital, Prêmio Guia da Folha e Prêmio Canal Brasil. Vencedor do Troféu Nelson Rodrigues, Prêmio Destaque em Comunicação ANCEC, Troféu Inspiração do Amanhã, Prêmio África Brasil, Prêmio Leda Maria Martins e Medalha Mário de Andrade Prêmio Governador do Estado, maior honraria na área de Letras de São Paulo.
Foto: Edson Lopes Jr.
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