FIT Rio Preto evoca Abdias do Nascimento com forte presença negra nos palcos
Por MIGUEL ARCANJO PRADO
@miguel.arcanjo
Enviado especial a São José do Rio Preto – SP*
Nos últimos tempos, uma onda negra ocupa irrefutável cada vez mais espaços no mercado cultural brasileiro, seja no palco ou em postos de decisão em grandes instituições e eventos culturais. No teatro, não é diferente. Isso é perceptível na programação do FIT Rio Preto – Festival Internacional de Teatro de São José do Rio Preto, no interior de São Paulo. O evento celebra seus 55 anos nesta edição, que começou no último dia 18 de julho e vai até 27 de julho com 37 espetáculos de cinco países e 10 estados das cinco regiões brasileiras. São cerca de 500 profissionais do teatro presentes na cidade do interior paulista. Quem vê os cartazes dos espetáculos ou frequenta o hotel onde os artistas estão hospedados logo percebe a incontestável presença negra. A curadoria evoca a memória do teatrólogo e senador Abdias do Nascimento (1914-2011), criador do Teatro Experimental do Negro, cuja fundação faz 80 anos, para costurar uma programação que dialoga com a atual produção negra em palcos brasileiros e que faz ponte com a memória dessa parcela da população. Se o drama durante décadas foi o queridinho, agora dá passagem a estilos teatrais focados em discursos insurgentes. “Teatro de resistência, de grupo, de formação e memória. Eis a palavra guia. Foi ela que mais transitou nas dramaturgias e regeu as pesquisas na maioria das obras que se apresentavam”, afirmam os curadores dos espetáculos Diego Valadares, Monique Cardoso e Naruna Costa. Assim, integram a programação do FIT Rio Preto 2024 obras como Maria Auxiliadora, com a Cia dos Inventivos contado a história de vida importante da pintora de mesmo nome, ou A Solidão do Feio, da Cia Os Crespos, inspirada no escritor Lima Barreto, ambas de São Paulo. Pensadores negros de relevância também marcam presença no FIT Rio Preto, como a acadêmica mineira e teórica do teatro negro Leda Maria Martins, que fará um encontro gratuito. Além da forte presença negra, a curadoria faz um caldeirão diverso com espetáculos que debatem temas sociais como vida das pessoas com deficiência em Meu Corpo Está Aqui, do Rio de Janeiro, a ancestralidade indígena em Azira’i, do Rio de Janeiro, o feminismo em Parahyba Rio Mulher, de João Pessoa, ou a vida pessoas trans em O Ventro do Traviarcado, de São José do Rio Preto. Palcos plurais.
*O jornalista e crítico Miguel Arcanjo Prado viajou a convite do FIT Rio Preto.
© 2024 Blog do Arcanjo | Proibida a reprodução.
Siga @miguel.arcanjo
Ouça Arcanjo Pod
Jornalista cultural influente, Miguel Arcanjo Prado dirige o Blog do Arcanjo desde 2012 e o Prêmio Arcanjo desde 2019. É Mestre em Artes pela UNESP, Pós-graduado em Mídia e Cultura pela ECA-USP, Bacharel em Comunicação pela UFMG e Crítico da APCA – Associação Paulista de Críticos de Artes, da qual foi vice-presidente. Eleito três vezes um dos melhores jornalistas culturais do Brasil pelo Prêmio Comunique-se. Passou por TV Globo, Grupo Record, Grupo Folha, Editora Abril, Huffpost Brasil, Grupo Bandeirantes, TV Gazeta, UOL, Rede TV!, Rede Brasil, TV UFMG e O Pasquim 21. Foi coordenador da SP Escola de Teatro. Integra o júri do Prêmio Arcanjo, Prêmio Jabuti, Prêmio Governador do Estado de SP, Sesc Melhores Filmes, Prêmio Bibi Ferreira, Destaque Imprensa Digital, Prêmio Guia da Folha e Prêmio Canal Brasil. Vencedor do Troféu Nelson Rodrigues, Prêmio Destaque em Comunicação ANCEC, Troféu Inspiração do Amanhã, Prêmio África Brasil, Prêmio Leda Maria Martins e Medalha Mário de Andrade Prêmio Governador do Estado, maior honraria na área de Letras de São Paulo.
Foto: Edson Lopes Jr.
© Blog do Arcanjo – Cultura e Entretenimento por Miguel Arcanjo Prado | Todos os direitos reservados.