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Satyros encena A Casa de Bernarda Alba no Sesc 14 Bis com elenco triplo em clássico de Lorca

Cia de Teatro Os Satyros leva A Casa de Bernarda Alba ao Sesc 14 Bis © Cristiano Pepi Divulgação Blog do Arcanjo 2024

Por MIGUEL ARCANJO PRADO
@miguel.arcanjo

Uma das histórias familiares mais clássicas do teatro em língua espanhola, A Casa de Bernarda Alba, de Federico García Lorca (1898-1936), chega ao Sesc 14 Bis com a Cia. de Teatro Os Satyros, sob direção de Rodolfo García Vázquez, paulistano da zona norte descendente de imigrantes espanhóis e que fundou o grupo ao lado de Ivam Cabral em 1989. A montagem que celebra os 35 anos da companhia e que substitui Fernanda Montenegro no elegante Teatro Raul Cortez tem elenco triplo, sendo encenada de três modos: com elenco feminino, com elenco masculino e com elenco misturando os gêneros. Isso promete apresentar aos espectadores de diferentes sessões espetáculos distintos. A temporada é curta e vai só até 18 de agosto. Depois, a previsão é que o espetáculo vá para o efervescente Espaço dos Satyros, na Praça Roosevelt. A peça clássica foi lançada pelo grande dramaturgo espanhol em 1936, poucos meses antes do brutal assassinato de Lorca pela extrema direita espanhola. O enredo mostra a casa de Bernarda Alba, uma viúva autoritária e controladora, que vive em luto fechado com suas cinco filhas solteiras na Espanha rural. Ao apresentar diferentes perspectivas com a mudança de gêneros no elenco, o encenador espera abrir espaço para uma “reinterpretação dos papéis das personagens, abrindo espaço para novas leituras sobre o enraizamento do patriarcado em nossa sociedade, proporcionando uma reflexão mais aprofundada sobre o conservadorismo, o machismo estrutural e o lugar imposto ao feminino”. Claro que com o toque típico das peças do Satyros, um dos grupos brasileiros mais premiados e respeitados no mundo, sendo Rodolfo García Vázquez um dos mais talentosos encenadores em atividade na América Latina. A seguir, o Blog do Arcanjo dá todos os detalhes da imperdível peça que chega aos palcos paulistanos nesta semana.

O começo de tudo: Ivam Cabral (de barba) e Rodolfo García Vázquez em uma mesa de bar no largo do Arouche, centro de São Paulo, em foto de 1989 – Foto: Arquivo Pessoal Acervo Blog do Arcanjo

Os Satyros, 35 anos

Para o filósofo e crítico de arte alemão Boris Groys, “o trabalho atual do artista contemporâneo é o seu currículo”, como pontua no livro Na Mira da Teoria e Outros Ensaios [Zazie Edições]. E currículo ao Satyros não falta, já que há muito tempo ultrapassou as fronteiras das artes cênicas, fazendo teatro dialogar com cinema, ativismo urbano, pedagogia e psicanálise, e, sobretudo, a cidade de São Paulo e seus habitantes, sobretudo os que rondam a Praça Roosevelt, onde fica sua sede. 

Quando Ivam Cabral e Rodolfo García Vázquez fundaram Os Satyros, em 1989, por mais sonhadores e workaholics que fossem, dificilmente poderiam imaginar que o coletivo iria produzir 145 espetáculos, a serem encenados em 36 países, que receberiam todos os prêmios nacionais e inúmeros internacionais, capitaneariam a criação de duas escolas, e revitalizariam o histórico Cine Bijou.

Tampouco que seriam processados pela Associação da Moral e dos Costumes Escoceses, chocada com radicalidade da montagem A Filosofia na Alcova no lendário Festival de Edimburgo de 1993. Eles também foram ameaçados de morte por “atrapalhar” o movimento de traficantes na Praça Roosevelt do início do século 21; e depois sufocados pela gentrificação que quase os expulsou da região que eles mesmos ajudaram a revitalizar.

Foram muitas aventuras, experiências, histórias boas e ruins que consolidaram uma mitologia em torno do grupo. Um dos mais famigerados do Brasil.

Ivam Cabral e Rodolfo García Vázquez em retrato de Bob Sousa para o Blog do Arcanjo

O repertório da companhia é vasto, transitando por diversos gêneros: commedia dell’arte (Aventuras de Arlequim, 1989); teatro libertino (Sades ou Noites com os Professores Imorais, 1990); farsa (A Proposta, 1991); decadentismo (Saló, Salomé, 1991); pós-dramático (Hamlet-Machine, 1996); tragédia (Electra, 1997); simbolismo (Cosmogonia – Experimento nº 1, 2005); drama histórico (Liz, 2009); docudrama (Roberto Zucco, 2010); performatividade (Cabaret Stravaganza, 2011); metateatralidade épica (Inferno na Paisagem Belga, 2012), crítica social alegórica (Trilogia das Pessoas); matrizes identitárias (Cabaret Transperipatético, 2018); teatro digital (A Arte de Encarar o Medo, 2020), entre outros espetáculos que navegaram por temas tão diversos quanto a humanidade ciborgue e questões de gênero e decolonialidade.

Livro do Satyros pelas Edições Sesc

Em tom também de celebração é lançado em agosto Os Satyros: teatricidades – experimentalismo, arte e política, pelas Edições Sesc São Paulo. A trajetória e os impactos artísticos, pedagógicos, urbanísticos e sociais da atuação d’Os Satyros são abordados em uma coletânea de artigos de pesquisadores e jornalistas, organizada pelo crítico teatral Marcio Aquiles. O lançamento acontece no dia 7 de agosto, quarta-feira, a partir das 19h30, no Sesc 14 Bis, com bate-papo entre o organizador Marcio Aquiles e o cofundador da cia Ivam Cabral, com mediação de Silas Martí. O livro traz artigos escritos por diversos autores convidados, entre eles o jornalista e crítico Miguel Arcanjo Prado.

A Casa de Bernarda Alba ganha encenação de Rodolfo García Vázquez com Cia Os Satyros no Sesc 14 Bis, substituindo Fernanda Montenegro © Cristiano Pepi Divulgação Blog do Arcanjo 2024

A Casa de Bernarda Alba

Ficha Técnica
Direção Artística: Rodolfo García Vázquez
Assistente de Direção: Renatto Moraes

Elenco:
Alessandra Rinaldo
Alex de Felix
André Lu
Anna Paula Kuller
Augusto Luiz
Diego Ribeiro
Eduardo Chagas
Elisa Barboza
Felipe Estevão
Gabriel Mello
Guilherme Andrade
Heyde Sayama
Isa Tucci
Isabela Cetraro
Julia Bobrow
Juliana Moraes
Karina Bastos
Luís Holiver
Mariana França
Neni Benavente
Raul Ribeiro
Tammy Aires
Vitor Camargo
Vitor Lins
Wil Campos

Pesquisa: Ivam Cabral
Tradução: Rodolfo García Vázquez
Adaptação: Ivam Cabral
Cenógrafo: Caio Rosa
Aderecista: Elisa Barboza
Iluminação: Flavio Duarte
Desenho de som: Thiago Capella e Felipe Zancanaro
Canções originais: André Lu
Trilha sonora original: Felipe Zancanaro
Voz off: Ivam Cabral
Berimbau gravado: Zé Vieira
Operação de luz: Flavio Duarte
Operação de som: Felipe Zancanaro
Técnicos de palco: Gabriel Cabeça e Jota Silva
Preparação vocal: André Lu
Direção de coreografia e flamenco: Neni Benavente
Figurino: Senac Lapa Faustolo
Curso livre de criação e desenvolvimento de figurino
Docentes: Maíra D. Pingo e Fábio Martinez
Alunos:
Beatriz Angelica Jacob Ferrazzi
Bruna Afonso de Oliveira
Catherine da Silva Mello Alves Branco
Cris Cordeiro
Daniela Aguiar
Gabriel Angelo Morgante de Caires
Gabriela Reis dos Santos
Isabela Cristina Nunes Favaron
Isaque Oliveira Magalhaes
Julia Lie Imamura
Karina Giannecchini Gonçalves
Levy Alves de Souza
Luana Freitas Prates
Luciano Santana Oliveira
Marcos Vinicius Araujo dos Santos
Natalia Giovenale
Vanessa Cardozo Teixeira
Yasmin Gaspar Martins Silva Santos
Produtor: Fabio Martins
Produtora Assistente: Maiara Cicut
Fotógrafo de perfil: André Stefano
Fotógrafo de cena: Cristiano Pepi
Idealização: Os Satyros
Realização: Sesc São Paulo

A Casa de Bernarda Alba

De 26/7 a 18/8, quintas a sábados, às 20h e domingos, às 18h. Exceto dias 15/8 e 16/8. Dias 2 e 9/8, sextas, às 15h
Sessões com acessibilidade em Libras e audiodescrição:
Dia 01, quinta-feira – elenco misto
Dia 02, sexta-feira – elenco masculino
Dia 03, sábado – elenco feminino
Duração: 100 minutos
Classificação: 16 anos
R$ 60 (inteira); R$ 30 (meia) e R$ 18 (credencial plena)
Sesc 14 Bis – Rua Dr. Plínio Barreto, 285, Bela Vista, São Paulo – SP

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Jornalista cultural influente, Miguel Arcanjo Prado dirige o Blog do Arcanjo desde 2012 e o Prêmio Arcanjo desde 2019. É Mestre em Artes pela UNESP, Pós-graduado em Mídia e Cultura pela ECA-USP, Bacharel em Comunicação pela UFMG e Crítico da APCA – Associação Paulista de Críticos de Artes, da qual foi vice-presidente. Eleito três vezes um dos melhores jornalistas culturais do Brasil pelo Prêmio Comunique-se. Passou por TV Globo, Grupo Record, Grupo Folha, Editora Abril, Huffpost Brasil, Grupo Bandeirantes, TV Gazeta, UOL, Rede TV!, Rede Brasil, TV UFMG e O Pasquim 21. Foi coordenador da SP Escola de Teatro. Integra o júri do Prêmio Arcanjo, Prêmio Jabuti, Prêmio Governador do Estado de SP, Sesc Melhores Filmes, Prêmio Bibi Ferreira, Destaque Imprensa Digital, Prêmio Guia da Folha e Prêmio Canal Brasil. Vencedor do Troféu Nelson Rodrigues, Prêmio Destaque em Comunicação ANCEC, Troféu Inspiração do Amanhã, Prêmio África Brasil, Prêmio Leda Maria Martins e Medalha Mário de Andrade Prêmio Governador do Estado, maior honraria na área de Letras de São Paulo.
Foto: Edson Lopes Jr.
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