A Cia. de Teatro Os Satyros acaba de ganhar um livro que analisa e documenta seus 35 anos de trajetória que a torna uma das companhias de artes cênicas mais relevantes do Brasil e da América Latina. O grupo criado por Ivam Cabral e Rodolfo García Vázquez em 1989 é tema do livro Os Satyros: teatricidades – experimentalismo, arte e política, sob organização de Marcio Aquiles. A obra foi lançado na última quarta, 7, pelas Edições Sesc São Paulo, no Sesc 14 Bis, na Bela Vista, São Paulo. A noite de autógrafos contou com bate-papo entre o jornalista Silas Martí, o autor Marcio Aquiles e o ator Ivam Cabral. Também estiveram presentes autores de artigos do livro, como os jornalistas Guilherme Genestreti e Miguel Arcanjo Prado, além de atores do grupo atualmente em cartaz no espaço com A Casa de Bernarda Alba. O Blog do Arcanjo esteve presente e conversou com o autor Marcio Aquiles sobre o livro. Leia a entrevista a seguir.
Miguel Arcanjo Prado – O que foi mais desafiante para você no processo de organizar esse livro sobre o Satyros? Marcio Aquiles – No primeiro capítulo do livro eu escrevo um pouco sobre isso, foi uma dádiva eles terem um acervo organizado de jornais e revistas, coligidos desde 1989, somando mais de trinta pastas imensas com milhares de reportagens, entrevistas e críticas sobre o grupo. A proposta editorial já contemplava encerrar a obra com a fortuna crítica, embora eu não soubesse exatamente quanto espaço haveria para isso. Na dúvida, eu decidi transcrever algumas centenas desses textos na íntegra, porque seria bom para o livro, mesmo se eu não usasse tudo, e também uma forma de digitalização, pois os materiais mais antigos não estão disponíveis na internet. Além disso, traduzi os textos em alemão, inglês e espanhol; contei com a ajuda de dois amigo da Universidade de Estocolmo para traduzir os em sueco e com as Edições Sesc para verter ao português os materiais em mandarim, russo e ucraniano. Todo esse acervo foi importante para eu conhecer mais sobre os primórdios do coletivo, porque a primeira peça dos Satyros que assisti foi em 2003, então, ao não apenas ler, mas transcrever essas centenas de reportagens e resenhas, eu pude conhecer melhor a trajetória da companhia, sobretudo durante a década de 1990, período em que eles passaram praticamente todo morando e atuando na Europa.
Miguel Arcanjo Prado – Como foi a escolha dos artigos que compõem o livro? Marcio Aquiles – Eu conversei muito com o Ivam e o Rodolfo, eles foram muito generosos, porque além de me dar acesso a todo o acervo com jornais, revistas, fotos e programas desses 35 anos, nossas conversas definiram toda a estrutura do livro, que foi dividido em capítulos temáticos: a renovação cultural e urbanística da Roosevelt a partir da chegada dos Satyros ao local; a sua inserção dentro desse contexto maior que define o sujeito histórico teatro de grupo paulistano; a dramaturgia desenvolvida ou adaptada; os principais dispositivos da encenação, que é o capítulo que você escreveu; um capítulo sobre os filmes que produziram; e, para finalizar, um sobre a experiência do teatro digital durante a pandemia.
Miguel Arcanjo Prado – Qual panorama o leitor encontra ao ler este livro? Marcio Aquiles – Além desses capítulos analíticos que eu acabei de mencionar, temos também as seções informativas, com fotos coloridas; catalogação das peças encenadas, com ficha técnica, até hoje; os prêmios e indicações recebidos etc. Acredito que conseguimos produzir um livro muito completo. Ah, a edição é bilíngue, português-inglês, portanto a obra também tem esse potencial para virar uma referência internacional sobre o trabalho do grupo, um dos mais ativos fora do Brasil, com presença frequente em festivais ou montagens solo nas Américas, África, Europa e Ásia.
Miguel Arcanjo Prado – Na feitura do livro, quais características você percebeu na dupla Ivam Cabral e Rodolfo García Vázquez que tornaram Os Satyros um sucesso de 35 anos, algo raro para um grupo teatral? Marcio Aquiles – A primeira característica é uma necessidade insana de criação, de montar espetáculos novos mesmo que algum outro tenha acabado de estrear. Tem anos em que eles produziam quatro peças, em outros seis, sete… Em segundo lugar, o desejo de experimentar diferentes linguagens, porque eles já trabalharam com tragédia, commedia dell’arte, farsa, teatro libertino, decadentismo, revista, simbolismo, surrealismo, drama histórico, metateatralidade épica, docudrama, pós-dramático, performatividade, crítica social alegórica, matrizes identitárias, teatro digital, tudo em diferentes registros, mas sempre impondo sua marca.
Blog do Arcanjo mostra como foi lançamento do livro sobre Os Satyros pelas Edições Sesc no Sesc 14 Bis