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Fernanda Torres define sua protagonista no filme Ainda Estou Aqui: ‘Uma heroína’

Fernanda Torres está sendo destaque no Festival de Veneza por sua atuação no filme "Ainda Estou Aqui"
Fernanda Torres é destaque no Festival de Veneza por sua atuação no filme Ainda Estou Aqui, de Walter Salles © Fiorenzo De Luca Divulgação Blog do Arcanjo 2024

Após ser aplaudida por dez minutos ao fim da exibição de Ainda Estou Aqui no Festival de Veneza no último fim de semana, a atriz Fernanda Torres fez observações sobre seu trabalho no filme dirigido por Walter Salles, que está na competição pelo Leão de Ouro. Durante a conversa com a imprensa, ela deu detalhes da construção de Eunice Paiva, sua personagem que existiu na vida real.

“Ela foi viúva de Rubens Paiva [deputado assassinado pela ditadura] para a mãe de Marcelo [Rubens Paiva, escritor, autor de Feliz Ano Velho]. Então, a gente nunca a conheceu de certa forma, como conhecíamos Rubens, Marcelo. Mas ela sempre estava escondida, ela nunca tinha o desejo de ser uma pessoa pública. E ela era uma heroína, ela era uma mulher que enfrentou tragédia, que evitou melodrama. Ela não queria chorar nas ruas com a família dela”, declarou Fernanda Torres, que divide a personagem com sua mãe, Fernanda Montenegro, que interpreta Eunice na etapa final da vida.

“Ela não queria que os seus filhos se tornassem vítimas da ditadura. Então, é por isso que nós tentamos, eu acho, ser fiéis à essa mulher que acreditava que a forma de lutar contra a ditadura e o autoritarismo era por meio da educação e da Justiça. Então, é uma grande personagem. E nós evitamos o melodrama. Você [falando a Walter Salles, o diretor] cortou duas cenas que chorei muito, você cortou tudo”.

Fernanda Torres

O filme Ainda Estou Aqui ainda não tem data de estreia no Brasil. O longa, que já surge nas disputas como possível representante do Brasil no Oscar, é inspirado no livro homônimo de Marcelo Rubens Paiva sobre a história de sua família e foca especialmente na figura da mãe, Eunice Paiva. Após seu marido ser levado de casa pelos militares e dado como desaparecido, Eunice tornou-se um importante nome da luta contra a ditadura. Ela morreu em 2018, aos 86 anos.

Quem foi Eunice Paiva, ícone da resistência à ditadura

Atualmente vista como um ícone da resistência à ditadura militar, Maria Lucrécia Eunice Facciolla Paiva nasceu em 1929, em São Paulo, em uma família de ascendência italiana. Educada no Colégio Sion e uma ávida leitora, Eunice fez amizade com renomados autores, incluindo Lygia Fagundes Telles, e destacou-se ao ingressar em Letras na Universidade Mackenzie. Em 1947, conheceu Rubens Paiva, com quem se casou em 1952 e teve cinco filhos. Rubens Paiva tornou-se deputado federal em 1962, mas, após o golpe militar em 1964, teve seus direitos políticos revogados. Durante o período de instabilidade entre 1964 e 1970, a família mudou-se para o Rio de Janeiro, onde enfrentou uma tragédia em 1971. Em 20 de janeiro daquele ano, Rubens foi capturado pela polícia. Eunice foi presa no dia seguinte e interrogada por 12 dias. Após a libertação, começou a investigar o destino do marido, mas sem sucesso. Ela enviou cartas ao presidente Médici e a diversas autoridades, buscando respostas sobre o desaparecimento dele, recebendo apenas informações contraditórias. Junto a outras mulheres, como Zuleika Angel, a Zuzu Angel, Eunice se tornou um ícone na luta pela abertura de arquivos sobre as vítimas do regime. Formou-se em Direito após ficar viúva e foi fundamental na criação da Lei 9.140/95, que reconhece os desaparecidos pela ditadura. Eunice lutou contra o Alzheimer por 14 anos e faleceu em 13 de dezembro de 2018, em São Paulo, aos 86 anos.

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Jornalista cultural influente, Miguel Arcanjo Prado dirige o Blog do Arcanjo desde 2012 e o Prêmio Arcanjo desde 2019. É Mestre em Artes pela UNESP, Pós-graduado em Mídia e Cultura pela ECA-USP, Bacharel em Comunicação pela UFMG e Crítico da APCA – Associação Paulista de Críticos de Artes, da qual foi vice-presidente. Eleito três vezes um dos melhores jornalistas culturais do Brasil pelo Prêmio Comunique-se. Passou por TV Globo, Grupo Record, Grupo Folha, Editora Abril, Huffpost Brasil, Grupo Bandeirantes, TV Gazeta, UOL, Rede TV!, Rede Brasil, TV UFMG e O Pasquim 21. Foi coordenador da SP Escola de Teatro. Integra o júri do Prêmio Arcanjo, Prêmio Jabuti, Prêmio Governador do Estado de SP, Sesc Melhores Filmes, Prêmio Bibi Ferreira, Destaque Imprensa Digital, Prêmio Guia da Folha e Prêmio Canal Brasil. Vencedor do Troféu Nelson Rodrigues, Prêmio Destaque em Comunicação ANCEC, Troféu Inspiração do Amanhã, Prêmio África Brasil, Prêmio Leda Maria Martins e Medalha Mário de Andrade Prêmio Governador do Estado, maior honraria na área de Letras de São Paulo.
Foto: Edson Lopes Jr.
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