Anna Muylaert é a homenageada da 18ª CineBH: conheça a trajetória da grande cineasta

Anna Muylaert é a diretora homenageada na 18ª CineBH © Leo Fontes Universo Produção Blog do Arcanjo 2024

Por MIGUEL ARCANJO PRADO
@miguel.arcanjo

Enviado especial a Belo Horizonte

Anna Muylaert, uma das vozes mais marcantes do cinema brasileiro contemporâneo, é a homenageada da 18ª CineBH – Mostra Internacional de Cinema de Belo Horizonte, sob realização da Universo Produção, entre 24 e 29 de setembro de 2024, com patrocínio da Petrobras. A diretora de filmes lendários como Durval Discos e Que Horas Ela Volta? esteve na capital mineira, onde se emocionou com a celebração de sua trajetória de 60 anos de vida e 40 de carreira. A seguir, leia o texto sobre a artista escrito pelo curador Marcelo Miranda.

Anna Muylaert é a homenageada na 18ª CineBH © Leo Lara Universo Produção Blog do Arcanjo 2024

ANNA MUYLAERT, DIRETORA E ROTEIRISTA

Anna Muylaert nasceu em 1964 em São Paulo e formou-se em cinema na USP. Destaca-se no cenário audiovisual pela abordagem sensível e crítica a temas sociais e familiares, em filmes de forte pegada popular que foram fazendo sucesso crescente até o estouro internacional de “Que Horas Ela Volta?” em 2015. Sua obra é marcada pela visão humanista e o olhar atento a questões de gênero, desigualdade social e dinâmicas familiares. Mistura comédia e drama com desenvoltura e conseguiu, ao longo de toda a trajetória até aqui, encontrar os pontos ideais de contato entre o autoral e o comercial, em filmes de pegada muito singular e arriscada nos temas e linguagem, escritos e realizados com a espontaneidade de quem sabe se comunicar muito rapidamente com os espectadores. 

Alguns dos elementos característicos do cinema de Anna Muylaert são a construção de personagens bidimensionais e cheios de contradições fascinantes, a abordagem de temas sociais com profundidade e empatia e o humor ácido e sofisticado. Seus filmes frequentemente exploram a intimidade das relações familiares e das tensões sociais brasileiras e revelam conflitos velados que fazem parte da formação do país, desde a opressão de homens contra mulheres a situações de empregadores e empregados, comerciantes e clientes, pais, mães e filhos, identidades sexuais e assim adiante. Muylaert tem habilidade especial para criar narrativas que são, ao mesmo tempo, profundamente pessoais e universalmente ressonantes, permitindo que o público se conecte emocionalmente até o fim de cada filme, inclusive pela sua esperteza em sempre oferecer novos rumos aos filmes, surpreendendo a quem assiste.

Estreou na direção de longas com “Durval Discos” (2002) e seguiu em “É Proibido Fumar” (2009), ambos premiados em vários festivais e com ótima repercussão crítica. Em “Que Horas Ela Volta?” (2015), que aborda as questões de classe e desigualdade social através da história de uma empregada doméstica e sua filha residindo na casa dos patrões ricos, ganhou aclamação mundial, pautou debates culturais no Brasil e furou a bolha da cinefilia, atingindo tipos variados de público que discutiam o filme arduamente, algo só repetido depois por “Bacurau” (2019). Outros filmes de destaque, ainda que com trajetórias mais modestas, são “Chamada a Cobrar” (2012), originalmente feito para a televisão, e o documentário “Alvorada” (2022), codirigido por Lô Politi e que trata do processo de impeachment sofrido pela ex-presidente Dilma Rousseff. Seu filme mais recente, “O Clube das Mulheres de Negócios”, terá sua primeira exibição pública no Festival de Gramado e será o filme de abertura da 18a CineBH.

Anna Muylaert tem grande importância no cinema brasileiro contemporâneo não apenas na qualidade artística de suas obras, das quais ela mantém total controle inclusive por também ser roteirista, mas ainda na capacidade de provocar reflexão e discussão sobre temas relevantes. Ou seja, ela apresenta um cinema de grande qualidade formal ao mesmo tempo em que trata de assuntos diversos, o que é uma mescla difícil especialmente num cinema brasileiro em constante busca de identidade.

Marcelo Miranda
Curador da 18ª CineBH

Anna Muylaert é a homenageada na 18ª CineBH © Leo Lara Universo Produção Blog do Arcanjo 2024

Emoção na abertura

Uma plateia lotada marcou a cerimônia de abertura da 18ª CineBH – Mostra Internacional de Cinema de Belo Horizonte na noite de terça-feira, 24/9, no histórico prédio do Cine Theatro Brasil Vallourec. A celebração marcou ainda os 15 anos de realização do programa de coprodução Brasil CineMundi, maior encontro do gênero no país.

A Banda Seu Vizinho deu início à noite com uma performance que levou ao público letras, danças e ritmos vindos da periferia de Belo Horizonte. Outras exaltações a uma capital mais inclusiva e generosa com todos e todas foram tratadas em apresentações e declamações poéticas de nomes como Nívia Sabino e Lira Ribas.

Homenageada desta edição da CineBH, a diretora e roteirista Anna Muylaert foi celebrada com gritos e palmas pelo reconhecimento de uma obra em andamento, marcada por títulos como “Durval Discos” e “Que Horas Ela Volta?”.

Numa fala emocionada, Anna destacou a importância do tributo à sua trajetória e a extendeu às mulheres no cinema. “Uma homenagem como essa é o reconhecimento de 40 anos de uma carreira profissional que eu sempre quis e nunca achei que chegaria a tanto”, disse ela, ao lado do filho Joaquim, que lhe entregou o Troféu Horizonte, e da equipe de curadores da Mostra. 

“Para uma mulher isso é ainda mais difícil, pois estamos acostumadas a ficar de lado ou a abrir espaço para os homens estarem no centro do palco. Então eu estar aqui no centro desse palco é uma coisa importante a todas nós, porque podemos, sim, estar no centro”, completou ela.

A noite se concluiu com a pré-estreia da comédia “O Clube das Mulheres de Negócios”, trabalho recente de Muylaert que faz uma sátira ácida e impiedosa das estruturas de poder no Brasil.

18ª CineBH © Leo Lara Universo Produção Blog do Arcanjo 2024

SOBRE A 18ª CINEBH – MOSTRA INTERNACIONAL DE CINEMA DE BELO HORIZONTE

O CINEMA BRASILEIRO EM CONEXÃO COM O MERCADO INTERNACIONAL E A CAPITAL MINEIRA

CineBH – Mostra Internacional de Cinema de Belo Horizonte, o evento de cinema da capital mineira, chega a sua 18ª edição entre os dias 24 e 29 de setembro de 2024. O evento promove a conexão entre o cinema brasileiro e o mercado internacional e se apresenta como instrumento de formação, reflexão, exibição e difusão do audiovisual em diálogo com outros países.

A programação intensa e gratuita ocupa nove espaços da capital mineira com atrações para todas as idades. São mais de 100 filmes nacionais e internacionais em pré-estreias e mostras temáticas, programa de formação com a oferta de oficinas, workshops, laboratórios, masterclass, ciclo de debates e painéis. Realiza sessões cine-escola, Mostrinha, lançamento de livro, promove o fomento ao empreendedorismo, dissemina a informação, produz e difunde conhecimento, cria oportunidades de rede contatos e negócios, reúne a cadeia produtiva do audiovisual

SOBRE O BRASIL CINEMUNDI | O EVENTO DE MERCADO DO CINEMA BRASILEIRO

BRASIL CINEMUNDI – International Coproduction Meeting, evento de mercado do cinema brasileiro, integra a programação da 18ª Mostra CineBH e chega a sua 15ª edição 24 a 29 de setembro de 2024 com o propósito de apresentar ao mercado projetos de filmes brasileiros em longa-metragem, facilitando as conexões entre as produções e o mercado internacional por meio de parcerias produtivas e da troca de informações e ações.

O evento promove a ampliação da rede de contatos e negócios entre profissionais brasileiros e representantes da indústria nacional e estrangeira, além de atividades de capacitação, cooperação, intercâmbio, meetings e premiação, com foco nas tendências do cinema contemporâneo e na produção independente de perspectiva autoral e inovadora.

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A 18ª CineBH – Mostra Internacional de Cinema de Belo Horizonte e o 15º Brasil CineMundi integram o Cinema sem Fronteiras 2022 – programa internacional de audiovisual idealizado pela Universo Produção e que reúne também a Mostra de Cinema de Tiradentes (centrada na produção contemporânea, em janeiro) e a CineOP – Mostra de Cinema de Ouro Preto (que difunde o audiovisual como patrimônio e ferramenta de educação, em junho).

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SERVIÇO

18a CINEBH – MOSTRA INTERNACIONAL DE CINEMA DE BELO HORIZONTE
15º BRASIL CINEMUNDI
24 a 29 de setembro de 2024 | PROGRAMAÇÃO GRATUITA

LEI FEDERAL DE INCENTIVO À CULTURA
LEI ESTADUAL DE INCENTIVO À CULTURA DE MINAS GERAIS

Patrocínio Máster: PETROBRÁS

Patrocínio: CLARO, AYMORÉ, CAIXA, ANCINE, ITAÚ, CEMIG, COPASA, CODEMGE/GOVERNO DE MINAS GERAIS

Parceria Cultural: INSTITUTO UNIVERSO CULTURAL,  CASA DA MOSTRA, CIRCUITO LIBERDADE/FUNDAÇÃO CLOVIS SALGADO/GOVERNO DE MINAS GERAIS

Parceria e Cooperação Brasil CineMundi: EMBAIXADA DA FRANÇA NO BRASIL, GOETHE INSTITUT, BURNING (Colômbia),CONECTA (Chile), DOCSP (São Paulo),FIDBA – Festival Internacional de Documentários de Buenos Aires (Argentina), MAFF – FESTIVAL DE MÁLAGA (Espanha), NUEVAS MIRADAS (Cuba),PROJETO PARADISO (Brasil), RIDM – FESTIVAL INTERNACIONAL DE DOCUMENTÁRIOS DE MONTREAL (Canadá), VENTANA SUR (Argentina),  WORLD CINEMA FUND (Alemanha).

Apoio: MINISTÉRIO DA CULTURA/SAV, DOT, INHOTIM, MISTIKA, NAYMOVIE, PARATI FILMS, O2 POS, THE END, SESI/FIEMG,  CINE SANTA TEREZA, FESTIVAL INTERNACIONAL DEL NUEVO CINE LATINOAMERICANO ( CUBA)

Idealização e realização: UNIVERSO PRODUÇÃO

BH NAS TELAS/SECRETARIA MUNICIPAL DE BELO HORIZONTE/PREFEITURA DE BELO HORIZONTE
SECRETARIA DE ESTADO DE CULTURA E TURISMO DE MINAS GERAIS/GOVERNO DE MINAS GERAIS
LEI PAULO GUSTAVO, MINISTÉRIO DA CULTURA | GOVERNO FEDERAL – UNIÃO E RECONSTRUÇÃO

*O jornalista e crítico Miguel Arcanjo Prado viajou a Belo Horizonte, Minas Gerais, a convite da CineBH e Universo Produção

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Jornalista cultural influente, Miguel Arcanjo Prado dirige o Blog do Arcanjo desde 2012 e o Prêmio Arcanjo desde 2019. É Mestre em Artes pela UNESP, Pós-graduado em Mídia e Cultura pela ECA-USP, Bacharel em Comunicação pela UFMG e Crítico da APCA – Associação Paulista de Críticos de Artes, da qual foi vice-presidente. Eleito três vezes um dos melhores jornalistas culturais do Brasil pelo Prêmio Comunique-se. Passou por TV Globo, Grupo Record, Grupo Folha, Editora Abril, Huffpost Brasil, Grupo Bandeirantes, TV Gazeta, UOL, Rede TV!, Rede Brasil, TV UFMG e O Pasquim 21. Foi coordenador da SP Escola de Teatro. Integra o júri do Prêmio Arcanjo, Prêmio Jabuti, Prêmio Governador do Estado de SP, Sesc Melhores Filmes, Prêmio Bibi Ferreira, Destaque Imprensa Digital, Prêmio Guia da Folha e Prêmio Canal Brasil. Vencedor do Troféu Nelson Rodrigues, Prêmio Destaque em Comunicação ANCEC, Troféu Inspiração do Amanhã, Prêmio África Brasil, Prêmio Leda Maria Martins e Medalha Mário de Andrade Prêmio Governador do Estado, maior honraria na área de Letras de São Paulo.
Foto: Edson Lopes Jr.
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