Vinicius Aguiar estreia solo Diga Que Não me Conhece: ‘Contando minha própria história’

Por MIGUEL ARCANJO PRADO
@miguel.arcanjo
Com reportagem de Raphael Araújo Barboza
O espetáculo Diga Que Não me Conhece é uma livre adaptação do romance homônimo de Flavio Cafiero, realizada pela dupla Ester Laccava e Vinicius Aguiar, diretora e ator do espetáculo, respectivamente. A narrativa se desenrola em um edifício emblemático no centro de São Paulo, onde o personagem central, interpretado por Aguiar, tenta refazer sua vida. O solo é repleto de reviravoltas e envolve o público em uma conversa íntima sobre as complexidades das relações modernas, sobre afetos queer. A produção estreia nesta terça, 1°, no Teatro Itália, na República, em São Paulo, com sessões terças e quartas, 20h, e domingos, 19h, e ingressos na Sympla.
A obra explora a dinâmica das relações de amor, sexo e amizade na intensa cidade de São Paulo nos anos 2020, com um foco particular nos desafios enfrentados por pessoas LGBTQIA+ acima dos 40 anos, perfil do personagem central. Essa geração, que viveu em uma época na qual abrir sua identidade ou falar abertamente sobre o amor era visto como tabu. Agora, com o fenômeno dos aplicativos e da liberdade nas relações tão extrapoladas, quanto rarefeitas, se depara com um estranhamento sobre como ser e amar.
Em um mundo de relações superficiais, hiperconexão e liberdade contraditória, o espetáculo retrata a solidão e as migalhas emocionais que sobram, na busca por reconstruir a vida em uma metrópole que oferece tudo e, ao mesmo tempo nada, vivida por Tato, o protagonista, deixado pelo namorado, um grande amor, que precisa redesenhar sua história na cidade, cercado de novos personagens que adentram em sua vida.

Detalhes da peça
A peça tem início com Tato, o protagonista narrador, dando um soco no ex-namorado durante uma festa em plena quarta-feira, em um bar no centro da cidade. A partir desse ato, que ninguém sabe se levado à cabo por impulso, revolta, reflexo ou saudade, Tato busca recuperar o fio dos acontecimentos que o levaram até ali, e e para onde se pode ir depois de ter o coração partido.
As migalhas reunidas pelo personagem central em busca de refazer a própria vida, em um prédio emblemático do Centro da capital paulistana – com seus personagens curiosos e tipos interessantes que costuram e compõem a narrativa – propõem uma conversa íntima, com muitas reviravoltas, altos e baixos, emoção e cumplicidade com o público.
A obra alia memória e ação em um narrativo não linear, em flashes e quadros, que constroem a linguagem da cena na sensação de vagar e confusão e cortes que permeiam a mente e corpo de Tato nessa busca por respostas sobre si e sobre os outros. Não se trata da história de um herói em sua jornada, mas de uma história em parafusos e paranoias, que se perde e se encontra buscando um rumo para seguir. Um retrato e reflexo de 2024, tão sagaz e sensível, quanto cruel e contundente.

Escrita ágil de livro virou peça dinâmica
Em entrevista ao Blog do Arcanjo, o ator Vinicius Aguiar rasgou elogios ao livro que deu origem à peça: “O que mais o que me chamou atenção primeiro é quando eu comecei a ler o livro, já nas primeiras páginas, foi o ritmo atribuído a essa narrativa pelo autor. O Flávio Cafiero tem uma maneira de escrever como quem conta uma história. que eu depois fui descobrir em livros dele, depois que me apaixonei pela pela forma como ele escreve e pela e por sua obra”.
“Ele começa a descrever uma pessoa e, de repente, o fluxo do pensamento é invadido com uma outra história, como uma conversa entre amigos. A gente buscou imprimir muito isso na adaptação dramatúrgica, eu e a Ester Laccava, bem como ela imprime muito isso na sua direção, essa busca por uma intimidade com quem estará assistindo a peça de quem está contando para um amigo a história da perda de um amor, das descobertas de quem chega numa cidade”, apontou ele.
“‘Olha, a rua era assim. E aí que eu andava. Pelo meu quarteirão e eu sempre encontrava com aquela figura que morava na rua, o meu vizinho era mais ou menos assim’, então esse vigor de quem conta para um amigoa a sua história está muito impressa neste livro e me chamou a atenção. Além disso, as características do personagem central e o contexto daquela história. O Tato é um homem de mais de 40 anos, beirando a chegada na meia idade, um homem gay, tímido, de passadas viris, como é dito, que mora na região central, nos Campos Elíseos”, descreveu o ator.

Vinicius Aguiar se identificou com a obra
Em seguida, Vinicius Aguiar demonstrou se identificar muito com Diga Que Não me Conhece: “E aí eu fui ver e me identifiquei com todos esses traços descritos no livro, porque eu sou essa pessoa, um homem gay de pouco mais de 40 anos, que mora nos Campos Elíseos, e aí eu tive a impressão de que o autor estava contando a minha própria história, sobre os relacionamentos furtivos que nós, homens gays, nos submetemos, sobre esse ‘dançar conforme a música’ que os aplicativos e a tecnologia nos impõem, né? Sobre a tecnologia estar transformando as pessoas em psicopatas para stalkear umas às outras, para dar ghosting uma nas outras, para entrar e sair das vidas, para viver relações rasas”.
“Então, tudo isso foi me chamando atenção porque eu fui vendo ali, além de mim, os meus amigos, pessoas que eu conheço, na descrição das das personagens e é um livro muito atual, muito ágil, muito contemporâneo e muito inteligente. O Flávio tem uma sagacidade para o jogo de palavras, para o bom uso das palavras, para o jogo das palavras, de uma forma muito sofisticada no melhor sentido da palavra em que você mostra e esconde”, reflete o ator.
“E de uma forma detalhada, você lê o livro e você consegue ver. É um livro carregado de imagens e isso, para ser atribuído ao teatro, é ouro. Por isso eu procurei o autor para apresentar a minha ideia inicial de transpor a obra literária para o teatro a partir de uma adaptação dramatúrgica. Eu fiquei com um desejo irrefreável de contar essa história”, explica Vinicius Aguiar.

SERVIÇO:
Elenco: Vinicius Aguiar
Direção: Ester Laccava
Adaptação: Ester Laccava e Vinicius Aguiar
Teatro Itália: Av. Ipiranga, 344, Térreo. Edifico Itália. República, São Paulo.
Tel: + 11 3214 4579
Domingos às 19h. Terças e Quartas às 20h.
R$ 60,00 (inteira) e R$ 30,00 (meia-entrada)
60 minutos
Classificação: 16 anos
Temporada: 1 a 27 de Outubro
Ingressos: bilheteria do teatro e via Sympla.
Realização: Futuro Produções
FICHA TÉCNICA:
Direção: Ester Laccava
Adaptação e dramaturgia: Ester Laccava e Vinicius Aguiar
Atuação: Vinicius Aguiar
Direção de Movimento: Fabrício Licursi
Desenho de Luz: Sarah Salgado
Direção Musical: Otávio Pedreira Ferraz
Figurinos: Lucas Magalhães
Assistência de Direção: Giulia Laccava
Fotografia: André Arthur
Visagismo: Edu Hyde
Design Gráfico: Cataryna Gonçalves
Produção Local • SP: Pedro Pilar
Assistência de Produção: Alana Fagundes
Assessoria de Imprensa • SP: Pombo Correio
Coordenação de Comunicação e social mídia: Bossa Comunicação e LV Comunicação
Marketing Digital: Lead Performance
Realização e Idealização: Futuro Produções
APOIO:
Livraria Cultura
Drummond Livraria
Mica Restaurante
Martina Bar
Banca República
Casa Vitrine
Bossa Comunicação
Nilton Travesso Escola de Atores
REALIZAÇÃO:
Futuro Produções
Editado por Miguel Arcanjo Prado
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Jornalista cultural influente, Miguel Arcanjo Prado dirige o Blog do Arcanjo desde 2012 e o Prêmio Arcanjo desde 2019. É Mestre em Artes pela UNESP, Pós-graduado em Mídia e Cultura pela ECA-USP, Bacharel em Comunicação pela UFMG e Crítico da APCA – Associação Paulista de Críticos de Artes, da qual foi vice-presidente. Eleito três vezes um dos melhores jornalistas culturais do Brasil pelo Prêmio Comunique-se. Passou por TV Globo, Grupo Record, Grupo Folha, Editora Abril, Huffpost Brasil, Grupo Bandeirantes, TV Gazeta, UOL, Rede TV!, Rede Brasil, TV UFMG e O Pasquim 21. Foi coordenador da SP Escola de Teatro. Integra o júri do Prêmio Arcanjo, Prêmio Jabuti, Prêmio Governador do Estado de SP, Sesc Melhores Filmes, Prêmio Bibi Ferreira, Destaque Imprensa Digital, Prêmio Guia da Folha e Prêmio Canal Brasil. Vencedor do Troféu Nelson Rodrigues, Prêmio Destaque em Comunicação ANCEC, Troféu Inspiração do Amanhã, Prêmio África Brasil, Prêmio Leda Maria Martins e Medalha Mário de Andrade Prêmio Governador do Estado, maior honraria na área de Letras de São Paulo.
Foto: Edson Lopes Jr.
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