Peça britânica aleatório ganha versão no Brasil com Érika Rocha dirigida por Nilceia Vicente no Sesc Vila Mariana

Peça aleatório tem Érika Rocha em sucesso britânico sob direção de Nilcéia Vicente © Allis Bezerra Blog do Arcanjo 2024

Por MIGUEL ARCANJO PRADO
@miguel.arcanjo

A peça britânica “random” (2008), de debbie tucker green, chega ao Brasil após o sucesso arrebatador no Reino Unido. Aqui, ganha o título “aleatório”, cuja primeira sessão será em 24 de outubro, às 20h30 no Auditório do Sesc Vila Mariana. Dirigido por Nilcéia Vicente e protagonizado por Érika Rocha, o espetáculo mostra a interrupção violenta da rotina de uma família negra em um dia aparentemente comum. A direção de produção é de Cícero de Andrade, da Mosaico Produções.

A montagem brasileira é fruto de um intercâmbio criativo com a autora original, mantendo a força e a essência do texto nesta tradução inédita.

Em cartaz até o dia 23 de novembro, a temporada de “aleatório” também conta com uma roda de conversa, em 20 de novembro, às 17h30, com o jornalista, professor de direitos humanos e colunista do jornal Folha de São Paulo, Thiago Amparo, e a fundadora do movimento Mães de Maio Débora Silva. O debate gira em torno do “Racismo e da Necropolítica”, trazendo à luz a violência racial contra jovens negros no Brasil – nomeadamente, o tema central do espetáculo. 

A peça provoca o público já no título. Ao sugerir uma falta de lógica, “aleatório” conduz os eventos em uma narrativa que, como explica Nilcéia Vicente, desafia a ideia de acaso. “A violência, aleatória, não tem nada. Os alvos são claros, e ela se manifesta em contextos muito específicos”, diz a diretora Nilcéia Vicente.

O espetáculo retrata um dia aparentemente comum na vida de uma família negra, até que uma visita inesperada interrompe sua rotina. Narrado pela Irmã, o texto original ressoa profundamente no contexto brasileiro, sem a necessidade de adaptações. “O uniforme escolar durante o assassinato me remeteu às inúmeras mortes de crianças negras no Brasil. Pensei: isso é tão Brasil!”, comenta a atriz Érika Rocha, idealizadora do projeto.

O intercâmbio criativo com a autora original foi essencial para preservar a autenticidade da obra. A própria debbie tucker green pediu fidelidade especial ao dialeto patuá – falado por imigrantes jamaicanos em Londres – para manter a identidade dos personagens intacta. Para a ocasião, explica a diretora, uma tradutora especializada colaborou na confecção do texto.

Sem alterar o cerne da dramaturgia original, “aleatório” expande sua ressonância e transporta o público para um cenário que reflete a violência do Estado enfrentada pela comunidade negra. “É uma realidade que transcende a classe. Para jovens negros, o perigo é iminente, não importa de onde venham”, pontua Nilcéia.

Após conquistar um BAFTA pela adaptação cinematográfica de “random” em 2012, a peça continua a expandir suas fronteiras, reafirmando sua relevância universal. “O texto de debbie já vem pronto para atravessar realidades culturais. Seja em Londres ou no Brasil, os mecanismos de opressão racial são os mesmos”, comenta a diretora.

Sinopse
Em um dia comum, a rotina de uma família negra é abruptamente interrompida por uma visita indesejada. O espetáculo, contado pelo ponto de vista da Irmã, reflete sobre luto, violência e racismo, ressaltando a vulnerabilidade da comunidade negra.

Serviço
aleatório
Temporada: 24 de outubro a 23 de novembro de 2024
Horários: Quinta a Sábado, às 20h30 | Feriados de 02, 15 e 20/11 às 16h30
Local: Auditório do Sesc Vila Mariana Rua Pelotas, 141, Vila Mariana – São Paulo | Telefone: (11) 5080-3000
Ingressos: Disponíveis no site do sesc, a partir de 15/10

Bate Papo – “Racismo e Necropolítica”, com Débora Silva e Thiago Amparo
4ª feira, 20/11, às 17h30, após o espetáculo, com Mediação da diretora Nilcéia Vicente | Atividade gratuita
A peça aleatório – random reflete como a violência contra jovens negros pode ser compreendida através do conceito de necropolítica, onde a morte de corpos negros é naturalizada como parte de um sistema de controle social e racial. O debate pretende explorar como a peça dramatiza essa realidade, revelando a banalização das mortes de jovens negros nas mãos do Estado ou por meio da violência social, e o impacto disso nas famílias e comunidades.

Ficha Técnica 

Texto: debbie tucker green
Tradução: Rafaella Gobbo
Revisão de Tradução: Betina Rodrigues
Direção: Nilcéia Vicente
Elenco: Érika Rocha
Desenho de Luz: Gabriele Souza
Cenografia e Figurino: Guilherme Santti
Concepção Musical: Dani Nega e André Papi
Direção de Movimento: Danielli Mendes
Diretor de Palco: Uriel Machado Barbosa
Design e Fotografia:
 Allis Bezerra
Designer de Vídeo: Rafael Thomazini
Filmagem: Libre Audiovisual
Operação de Luz:
 Paloma Dantas
Operação de Som: Rafael Thomazini
Assessoria de Imprensa: Rafael Ferro e Pedro Madeira
Assessoria Jurídica: Thiago Oliveira
Assessoria Contábil: Tuty e Lyla
Intérpretes de LIBRAS: Aza Pakou, Karina Oliveira, Ricieri Palha
Consultoria Técnica: Yanna Porcino
Idealização: 
Érika Rocha e Tiago Martelli
Direção de Produção: Cicero de Andrade – Mosaico Produções
Produção: 
Cicero de Andrade e Tiago Martelli
Assistente de Produção: 
Dani Simonassi

Érika Rocha
Érika Rocha é atriz, dramaturga e produtora, Mestra em Artes pela ECA-USP. Com ampla experiência em teatro, é fundadora da Cia. Kambas de Teatro, voltada para o público infanto-juvenil. Premiada no 24.º Cultura Inglesa Festival por sua dramaturgia Mancala ou As Sementes de Akin, também atua como orientadora de teatro no Programa Vocacional da SMC de São Paulo. Em 2024, protagoniza aleatório no Sesc Vila Mariana.

Nilcéia Vicente
Nilcéia Vicente é atriz e cantora formada pela Escola de Arte Dramática da USP. Fundadora do Grupo 59 de Teatro, colabora com importantes coletivos de São Paulo, como o Núcleo Bartolomeu de Depoimentos e Cia. Hiato. Participou de espetáculos premiados como Hip-Hop Blues e Xs Culpadxs.

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Jornalista cultural influente, Miguel Arcanjo Prado dirige o Blog do Arcanjo desde 2012 e o Prêmio Arcanjo desde 2019. É Mestre em Artes pela UNESP, Pós-graduado em Mídia e Cultura pela ECA-USP, Bacharel em Comunicação pela UFMG e Crítico da APCA – Associação Paulista de Críticos de Artes, da qual foi vice-presidente. Eleito três vezes um dos melhores jornalistas culturais do Brasil pelo Prêmio Comunique-se. Passou por TV Globo, Grupo Record, Grupo Folha, Editora Abril, Huffpost Brasil, Grupo Bandeirantes, TV Gazeta, UOL, Rede TV!, Rede Brasil, TV UFMG e O Pasquim 21. Foi coordenador da SP Escola de Teatro. Integra o júri do Prêmio Arcanjo, Prêmio Jabuti, Prêmio Governador do Estado de SP, Sesc Melhores Filmes, Prêmio Bibi Ferreira, Destaque Imprensa Digital, Prêmio Guia da Folha e Prêmio Canal Brasil. Vencedor do Troféu Nelson Rodrigues, Prêmio Destaque em Comunicação ANCEC, Troféu Inspiração do Amanhã, Prêmio África Brasil, Prêmio Leda Maria Martins e Medalha Mário de Andrade Prêmio Governador do Estado, maior honraria na área de Letras de São Paulo.
Foto: Edson Lopes Jr.
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