Bando Macuas Cia Cênica estreia com Anunciação em espaços culturais de São Paulo

Anunciação marca estreia do Bando Macuas Cia Cênica © Gal Oppido Divulgação Blog do Arcanjo 2024

Obra é inspirada na cosmogonia bantu e na cosmologia bakongo

Por MIGUEL ARCANJO PRADO
@miguel.arcanjo


São Paulo ganha um grupo de dança com foco na pesquisa do corpo afro-diaspórico. Com dez apresentações em diferentes espaços culturais de São Paulo, a temporada de estreia da performance de dança Anunciação, primeiro espetáculo do Bando Macuas Cia Cênica, terá início em duas sessões que serão realizadas no fim de semana de 26 e 27 de outubro na Galeria Olido. Não custa lembrar que o lugar é simbólico, já que fica em frente à Igreja de Nossa Senhora do Rosário dos Homens Pretos, fundada em 1908 e situada no Largo do Paissandu, no Centro Histórico da capital paulista. 

Idealizada pela diretora e coreógrafa Débora Marçal, que além da formação em Dança é também atriz, figurinista, cenógrafa e joalheira, o Bando Macuas Cia Cênica surgiu de uma experiência de imersão vivenciada pela multiartista paulistana durante uma viagem feita por ela em 2012 a Moçambique. Foi quando Débora participou de um intercâmbio artístico-cultural no país afro-lusófono com a Capulanas Cia de Arte Negra, grupo teatral formado por ela, em 2007, em parceria com a atriz e cientista política Adriana Paixão, a atriz e dançarina Flávia Rosa e a atriz e dançarina Priscila Obaci.     

“Foi nessa viagem a Maputo que, pela primeira vez, vi uma pessoa do povo Macua, uma etnia bantu do norte de Moçambique. Andando pelas ruas da cidade, cruzei com uma mulher que parecia deslizar. Paralisada, fiquei observando e admirando aquela mulher. Foi então que refleti que era preciso recuperar, no Brasil, essa ‘coluna vertebral’ de nossa ancestralidade. Fiquei com isso na cabeça até 2019, quando fundei a Macuas. Sempre pensando que o que eu construo tem relação direta com o corpo, decidi juntar esse grupo de mulheres pretas que também são múltiplas, que atuam em diversas frentes e desempenham outros papeis na sociedade. E a gente logo se entendeu como um bando. Um bando que constrói imaginários a partir do movimento, em um trabalho que está no âmbito da dança, mas que borra suas barreiras. Dentro da arte que a gente acredita, uma arte preta, as linguagens se misturam, mas sempre evocam a mesma força de estar em cena e de se expressar”, diz Débora Marçal.

A maioria das artistas da nova companhia se conheceu na condição de dançarinas do Bloco Afro Afirmativo Ilu Inã.  Criado em São Paulo em 2016 pelos irmãos Fernando Alabê, percussionista e diretor musical, e Fefê Camilo, percussionista e educadora, o bloco celebra a ancestralidade da cultura afro-brasileira com música, dança e exaltação aos Orixás e à população negra da capital paulista.

“Foi só depois de quatro anos atuando no Ilu Inã que eu tive a ação de  criar o Bando Macuas. Em 2022, fizemos no Sesc Campo Limpo uma primeira aparição da performance Anunciação durante o Refestália | Diversos 22, festival que reuniu uma série de atividades em celebração ao centenário da Semana de Arte Moderna de 1922. Nossa ideia de companhia se ancora nas bailarinas, nas intérpretes, e a partir de cada tema. Em Anunciação não fomos buscar referências em obras ou ideias de fora, mas a partir dos nossos corpos, das nossas subjetividades e de como o tema dessa performance nos atravessa. Em Anunciação falamos sobre a ideia de nascer da cosmogonia bantu e estamos nos referenciando pela cosmologia bakongo. Dentro dessa perspectiva, a gente não morre, a gente segue deste para outro plano”, explica a diretora, que é iniciada no candomblé ketu e criou uma coleção de joias em exaltação a seu orixá Logun Edé, filho de Oxum e Oxóssi, reconhecido por sua beleza e riqueza. 

SERVIÇO

Anunciação
Performance de dança do Bando Macuas Cia Cênica com idealização, direção e coreografia de Débora Marçal


AGENDA DA TEMPORADA
Galeria Olido
Avenida São João, 473 – Centro Histórico de São Paulo, São Paulo

26/10, sábado, às 19h

27/10, domingo, às 18h

Centro Cultural da Juventude – CCJ

Avenida Dep. Emílio Carlos, 3641 – Vila dos Andrades, São Paulo 
7/11, quinta-feira, às 20h

8/11, sexta-feira, às 20h  

Zona Leste (local a definir, confira em:instagram.com/bandomacuasciacenica)

16/11, sábado, às 19h

17/11, domingo, às 18h

Centro de Culturas Negras Mãe Sylvia de Oxalá

Rua Arsênio Tavolieri, 45 – Jabaquara, São Paulo 

30/11, sábado, às 19h

1/12, domingo, às 18h


Encerramento da temporada 
(local e data a definir, confira em:instagram.com/bandomacuasciacenica)

FICHA TÉCNICA – ANUNCIAÇÃO

Concepção, Direção Geral, Dramaturgia, Coreografia e Direção Artística

Débora Marçal

Intérpretes Pesquisadoras e Criação

Beatriz Oliveira

Débora Marçal

Dina Maia

Elis Trindade

Francine Moura

Rafaela Araújo

Rita Teles

Bando Macuas


Assistência de Direção

Beatriz Oliveira


Direção Musical e Trilha Sonora Original

Fernando Alabê


Produção Musical

Thiago Sonho


Desenho de Luz, Montagem e Operação

Dedê Ferreira


Direção de Arte, Cenografia e Figurino

Francine Moura


Assistência de Arte

Leonardo Soares

Jóias

Preta Rainha

Estúdio Francine Moura


Costureiras

Elaine Reis

Kátia Patriota

Cabeleireira

Dina Maia

Fotos de Divulgação

Gal Oppido

Sérgio Silva – Objetos Divulgação


Arte gráfica e Social Media

Beatriz Oliveira


Técnicas de Palco

Débora Medeiros de Andrade

Kátia Patriota


Operação de Som

Aru Jess


Produção Executiva

Rita Teles – Núcleo Coletivo das Artes

Débora Marçal


Produção Artística

Rafaela Araújo


Orientação Perna de Pau

Eduardo Guimarães


Orientação Pesquisa Teórica

Saloma Salomão


Orientação Pesquisa Congado e Moçambique

Renato Ihu


Assessoria de Imprensa
Baobá – Comunicação, Cultura e Conteúdo

Nascida em São Paulo em 1982, Débora Marçal pesquisa Dança desde 1998. Cursou Comunicação das Artes do Corpo na PUC-SP e Licenciatura em Dança pela Faculdade Paulista de Artes FPA. Estudou Modelagem de Roupas, de Bolsas de Couro & Sintético e Joalheria no SENAI-SP. Desde março de 2019, é coreógrafa e diretora da Macuas Cia Cênica. É também cofundadora, intérprete e pesquisadora da Capulanas Cia de Arte Negra. Realizou intercâmbios e espetáculos, performances, cursos, palestras e oficinas em cidades do Brasil como São Paulo, Salvador, Rio de Janeiro, Minas Gerais e Brasília, e também em Maputo, capital de Moçambique. Integrou, como bailarina e atriz, as seguintes companhias: Abieié, Balé Luciana Melo, ambas com direção de Irineu Nogueira. Coreógrafa e Diretora de Dança do Bloco Afro Afirmativo Ilu Inã, também integrou o elenco do espetáculo RÉS, da Corpórea Cia de Corpos. É coautora dos livros Em-GomaAgôGriôs da Diáspora NegraInovação Ancestral – Mulheres Negras: táticas e políticas do cotidiano”, “Negras Insurgências“. Protagonizou juntamente com Léa Garcia O dia de Jerusa, curta exibido no Festival de Cannes de 2014 e dirigido por Viviane Ferreira, mesma autora do longa-metragem Um dia com Jerusa, de  2019, que rendeu a Débora Marçal o prêmio de Melhor Atriz no Festival de Cinema de Caruaru. Como coreógrafa e diretora do Bando Macuas Cia Cênica, foi contemplada em 2023 pela 34 ̊ Edição do Fomento a Dança para a Cidade de São Paulo. A convite da Secretaria Municipal de Cultura compôs a Banca de Comissão Julgadora da 32 ̊ e 33 ̊ Edições do Fomento a Dança da Cidade de São Paulo (2022 e 2023), e a Banca da 4 ̊ Edição do Fomento à Culturas Negras (2024). Em julho de 2024, dirigiu o espetáculo Na Beira da Imensidão do Núcleo Pele de Teatro do Grajaú, fomentado pelo Programa VAI II 2023.

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Jornalista cultural influente, Miguel Arcanjo Prado dirige o Blog do Arcanjo desde 2012 e o Prêmio Arcanjo desde 2019. É Mestre em Artes pela UNESP, Pós-graduado em Mídia e Cultura pela ECA-USP, Bacharel em Comunicação pela UFMG e Crítico da APCA – Associação Paulista de Críticos de Artes, da qual foi vice-presidente. Eleito três vezes um dos melhores jornalistas culturais do Brasil pelo Prêmio Comunique-se. Passou por TV Globo, Grupo Record, Grupo Folha, Editora Abril, Huffpost Brasil, Grupo Bandeirantes, TV Gazeta, UOL, Rede TV!, Rede Brasil, TV UFMG e O Pasquim 21. Foi coordenador da SP Escola de Teatro. Integra o júri do Prêmio Arcanjo, Prêmio Jabuti, Prêmio Governador do Estado de SP, Sesc Melhores Filmes, Prêmio Bibi Ferreira, Destaque Imprensa Digital, Prêmio Guia da Folha e Prêmio Canal Brasil. Vencedor do Troféu Nelson Rodrigues, Prêmio Destaque em Comunicação ANCEC, Troféu Inspiração do Amanhã, Prêmio África Brasil, Prêmio Leda Maria Martins e Medalha Mário de Andrade Prêmio Governador do Estado, maior honraria na área de Letras de São Paulo.
Foto: Edson Lopes Jr.
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