O Deus de Spinoza faz sessões gratuitas no Teatro Martins Penna na Penha, zona leste de São Paulo

O Deus de Spinoza: opção pela inteligência contra o dogma inquestionável © Rafa Marques Blog do Arcanjo 2023

Por MIGUEL ARCANJO PRADO
@miguel.arcanjo

Sucesso de crítica e público, a peça O Deus de Spinoza está de volta a São Paulo após temporadas de sucesso na capital desde 2022 e turnê pelo interior do estado. A obra faz sessões dias 26 e 27 de outubro, sábado, 20h, e domingo, 18h, no Teatro Martins Penna, no Centro Cultural Penha, que fica no Largo do Rosário, 20, na Penha, zona leste paulistana.

O espetáculo resgata o pensamento do filósofo holandês Baruch de Spinoza, condenado no século XVII por sua reflexão sobre a relação do ser humano com Deus e com a Natureza, contestando dogmas da religião judaica da época. Renegado por séculos, seu pensamento foi resgatado e hoje é motivo de estudos no mundo inteiro.

O texto é assinado pelo jurista e desembargador Régis de Oliveira, que há anos se dedica ao estudo de filosofia. Em sua estreia como dramaturgo ele faz um recorte da vida de Spinoza, desde sua condenação em 1656 (o Herem) até a sua morte em 1677. “Através do pensamento do filósofo, podemos reconhecer muitos comportamentos de nossa sociedade atual, com suas superstições, crenças ou mistérios. E podemos notar como os donos do poder sabem manipular as multidões através do medo e da imposição do sistema”, conta Régis.

Vivemos atualmente num mundo conturbado com emoções descontroladas. A filosofia do filósofo judeu mais controverso que já existiu nos traz uma luz nestes tempos, com reflexão, entendimento e clareza. Sua ampla e densa obra trata dos afetos, do direito natural, e da essência humana.

A Holanda fervilhava culturalmente, no chamado Século de Ouro dos Países Baixos. com ilustres presenças, como Rembrandt e Vermeer que despontavam na pintura, entre outros artistas. Grócio, um dos pais do direito público, também escolheu a Holanda como pátria espiritual.

“Nossa montagem busca trazer o pensamento de Spinoza ao público em geral, de forma profunda mas acessível, para que afete a plateia conforme ao teoria do filósofo. Estas são as afecções”, fala o diretor e ator Luiz Amorim que integra o elenco ao lado de Bruno Perillo, Juliano Dip, David Kullock e Roberto Borenstein. Os figurinos são de João Pimenta, a iluminação de Cesar Pivetti e os cenários de Evas Carreteiro.

A peça é pontuada por músicas sefarditas do século XVII, executadas ao vivo pelos músicos Margot Lohn, Lucas Biscaro, Gabriel Ferrara e Marcus Veríssimo, que assina a direção musical. Contamos ainda com a participação especial de Laura Visconti, indicada ao Prêmio Bibi Ferreira 2024 pela direção musical do sucesso Beetlejuice.

Sinopse
A peça mostra a comunidade judaica incomodada com o pensamento do jovem judeu Baruch de Spinoza. Filho de imigrantes portugueses acolhidos em Amsterdã, ele afronta a ordem vigente, os costumes e preceitos de sua religião. Na tentativa de convencê-lo a ser um bom cidadão, os membros do Conselho de Rabinos Notáveis apresentam formas de conversão. Se Spinoza não aceitar, poderá ser julgado, condenado e exilado. Ele expõe todo o seu pensamento a seu amigo, Jan Rieuwertsz, editor de livros, com quem pode desabafar e contar de seus planos futuros. Um convite à reflexão e à liberdade de pensamento. O espetáculo é pontuado por músicas sefarditas do século XVII, em língua ladina, executadas ao vivo.

O DEUS DE SPINOZA

Texto: Régis de Oliveira
Direção e Adaptação: Luiz Amorim
Direção Musical: Marcus Veríssimo
Elenco: Bruno Perillo, Juliano Dip, David Kullock, Luiz Amorim e Roberto Borenstein (Wagner Vaz, stand-in)
Contra-regras: Magnus Oldilon
Músicos/Musicistas: Margot Lohn, Laura Visconti, Marcus Veríssimo, Gabriel Ferrara, Erick Chica e Lucas Biscaro
Produção executiva: Rogério Nagai / Nagai Producoes
Assistência de produção: Mirtes Ladeira
Duração: 75 minutos.
Classificação: 12 anos.
Todas as apresentações são gratuitas e os ingressos deverão ser retirados com 1 hora de antecedência do início espetáculo.
Instagram: @odeusdespinoza

Sobre a encenação, por Luiz Amorim

É necessário no nosso tempo voltarmos os olhos ao pensamento de Baruch Spinoza. Nesta peça buscamos trazer à cena um embate ousado, que são os questionamentos apresentados pelo filósofo, e a sua condenação. Tudo o que isso provoca, no século XVII, reflete diretamente ainda nos dias de hoje. O texto traz à cena a história do filósofo, sua condenação, mas também a essência do seu pensamento. Buscando a agilidade para os diálogos, a movimentação dinâmica nas cenas e muita musicalidade. A valorização do texto traz à luz o brilhante pensamento deste que foi considerado profano, herege e traidor, e hoje é considerado um dos mais importantes filósofos da história. As cenas foram separadas de modo que a ação decorrente do fato (a condenação) trouxesse questionamentos para os próprios personagens. A narração surgiu do processo da encenação, dividindo o personagem do amigo e editor de Spinoza (Jan Rieuwertsz) e trazendo-o como narrador. Ele também é o elo do tempo. Aquele que nos diz que Spinoza não morreu porque seu pensamento vivo incomoda até os dias de hoje. O corpo, o gesto, o olhar. Estes são os instrumentos usados cenicamente. Tudo nos atores conduz para o pensamento de Baruch, suas indagações, suas reflexões, sua indignação com o que que já está dito. A estes se juntam os instrumentos musicais (violão, guitarra, baixo, violino, sopro e vozes) que tratam o espetáculo como uma oração que tem uma partitura definida.

Siga @miguel.arcanjo

Ouça Arcanjo Pod

O atributo alt desta imagem está vazio. O nome do arquivo é miguel-arcanjo-prado-foto-edson-lopes-jr.jpg

Jornalista cultural influente, Miguel Arcanjo Prado dirige o Blog do Arcanjo desde 2012 e o Prêmio Arcanjo desde 2019. É Mestre em Artes pela UNESP, Pós-graduado em Mídia e Cultura pela ECA-USP, Bacharel em Comunicação pela UFMG e Crítico da APCA – Associação Paulista de Críticos de Artes, da qual foi vice-presidente. Eleito três vezes um dos melhores jornalistas culturais do Brasil pelo Prêmio Comunique-se. Passou por TV Globo, Grupo Record, Grupo Folha, Editora Abril, Huffpost Brasil, Grupo Bandeirantes, TV Gazeta, UOL, Rede TV!, Rede Brasil, TV UFMG e O Pasquim 21. Foi coordenador da SP Escola de Teatro. Integra o júri do Prêmio Arcanjo, Prêmio Jabuti, Prêmio Governador do Estado de SP, Sesc Melhores Filmes, Prêmio Bibi Ferreira, Destaque Imprensa Digital, Prêmio Guia da Folha e Prêmio Canal Brasil. Vencedor do Troféu Nelson Rodrigues, Prêmio Destaque em Comunicação ANCEC, Troféu Inspiração do Amanhã, Prêmio África Brasil, Prêmio Leda Maria Martins e Medalha Mário de Andrade Prêmio Governador do Estado, maior honraria na área de Letras de São Paulo.
Foto: Edson Lopes Jr.
© Blog do Arcanjo – Cultura e Entretenimento por Miguel Arcanjo Prado | Todos os direitos reservados.

Please follow and like us:

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *