★★★★ Crítica: Elis, A Musical é para ser sentido com a ferida viva do coração

Laila Garin é Elis Regina em Elis, A Musical, que volta a SP no Teatro Claro + © Caio Gallucci Divulgação Blog do Arcanjo 2024

Por BRUNA FERREIRA
Especial para o Blog do Arcanjo

★★★★
ELIS, A MUSICAL
Avaliação: Muito Bom
Crítica por Bruna Ferreira

De volta a São Paulo no Teatro Claro Mais, em curta temporada até 1º de dezembro, “Elis, A Musical” traz novamente Laila Garin no papel que a colocou no panteão do teatro musical brasileiro. A atriz divide a responsabilidade com Lílian Menezes. A história da maior cantora do Brasil é contada desde o início nas rádios de Porto Alegre até sua consagração, mostrando episódios famosos de sua vida pessoal e profissional, embalados pelas canções que marcaram época.

Ainda no primeiro ato, o encontro musical de Elis Regina e Jair Rodrigues, vivido pelo carismático Fernando Rubro (“Castelo Rá-Tim-Bum – O Musical”), anima a plateia. A cena mostra a intensa preparação física de seus atores para viver duas figuras tradicionalmente reconhecidas pelo vigor de suas interpretações. 

Coreografia é destaque

O trabalho de Alonso Barros, inclusive, precisa ser mais do que estimado. Coreógrafo de prestígio internacional, que assina espetáculos como “O Despertar da Primavera”, “Cabaret”, “Chaplin”, “Chacrinha”, “Vamp!”, entre muitos outros, recebeu o Prêmio Bibi Ferreira 2024 na categoria Melhor Coreografia em Musicais por “Kiss Me, Kate! O Beijo da Megera”. Em “Elis, A Musical”, Barros é responsável por um bolero deslumbrante em “Dois Pra Lá, Dois Pra Cá”; um exército afrontoso que marcha com um quê de Beyoncé; e uma apresentação explosiva de “Querelas do Brasil” e “Deus lhe Pague”, onde os talentos vocais do coro são explorados com maestria.

Como Nossos Pais

Sim, é preciso falar de “Como Nossos Pais”. Cuidadosamente guardada para o segundo ato, a canção de Belchior eternizada por Elis Regina no álbum “Falso Brilhante”, em 1976, é devidamente respeitada e homenageada por sua intérprete-protagonista. Laila Garin consegue dar sua própria versão sem nenhuma necessidade de firulas vocais estranhíssimas, que causam aborrecimento em quem vai aos espetáculos com saudade de seus ídolos. A atriz toma o palco com sua interpretação corajosa, seus olhares que desafiam o público e seus dedos que acusam. Ninguém ousaria enfrentar essa Elis que esbraveja que é “você que ama o passado e que não vê que o novo sempre vem”.

Figurinos de it girl

Essa heroína feroz combina com o figurino que enche os olhos de Marília Carneiro. Figurinista brilhante de obras como “A Dama da Lotação”, “Dancin’ Days” e “O Clone”, ela é responsável por democratizar a moda e suas tendências e transformar a Elis do espetáculo na it girl de ontem, de hoje e sempre. Alguns de seus looks mereciam coleções inteiras de lojas de fast fashion. Infelizmente, não podemos afirmar que todos os visuais de Elis são impressionantes. A gente pode até não concordar com algumas atitudes de Ronaldo Bôscoli, mas convenhamos que ele estava certo: aquele vestido e aquele sapato… simplesmente, não dá.

Amores de Elis

Falando em Bôscoli, a figura icônica e polêmica vivida por Marcelo Varzea (“Baby” e “Ainda Estou Aqui”) pode não ser a preferida do público, mas conduz perfeitamente a narrativa até a chegada de César Camargo Mariano, o segundo marido de Elis Regina, interpretado por Claudio Lins (“O Beijo No Asfalto – O Musical”, “Bonnie & Clyde – Musical” e “Ópera do Malandro”). Lins, além de emocionar em um número musical de “Casa no Campo”, alcança notas assombrosas em suas versões de “As Aparências Enganam” e “Trem Azul”.  

Pimentinha

O espetáculo amadurece junto com Elis e o público tem a oportunidade de aprofundar os sentimentos com sua protagonista. A jovem cantora cheia de esperanças dá lugar a uma mulher baixinha que enfrentou a ditadura militar e a virilidade de farda. Uma pimentinha que não se acomodou e botou fim em relações ruins, mas que aprendeu que, na vida, os relacionamentos bons também chegam ao fim. Elis envelhece, assim como todos nós. E, ao mesmo tempo, ela nunca envelheceu.

Elis morreu em 19 de janeiro de 1982. Ela tinha 36 anos. Eu já sou mais velha que ela. Essa verdade chega a doer no público do começo ao fim do espetáculo e extravasa na interpretação de “Aos Nossos Filhos”. Para nossa sorte, a arte pode ser muito melhor do que a vida real e o diretor Dennis Carvalho não permite que ninguém vá embora antes de todas as nossas angústias se dissolverem em uma grande brincadeira de roda. Um musical para ser prestigiado e sentido com a ferida viva do coração.

Serviço:

Curta temporada: 8 de novembro a 1 de dezembro de 2024

Teatro Claro Mais SP –  Rua Olimpíadas, 360  – Vila Olímpia

Classificação: 14 anos

Duração: 2h45 minutos (15 minutos de intervalo)

Ingressos a venda em https://uhuu.com/evento/sp/sao-paulo/elis-a-musical-13399

Ficha Técnica

Elenco: Laila Garin (Elis Regina), Lilian Menezes (Elis Regina), Marcelo Varzea (Ronaldo Boscoli), Cláudio Lins (Cesar Camargo Mariano), Santiago Villalba (Tom Jobim e Luiz Carlos Miele), Fernando Rubro (Jair Rodrigues), Leandro Melo (Lennie Dale), Chris Penna (Seu Romeu), Leo Wagner (Henfil), Isaac Belfort (Marcos Lázaro), Aurora Dias (Dona Ercy), Fabricio Negri (Pierre Barouh), Bruno Ospedal (Nelson Motta), Ju Marins (Cover Elis Regina e personagens femininos), Adê Lima (personagens masculinos) e Júlia Sanchez (personagens femininos).

Direção: Dennis Carvalho

Texto: Nelson Motta e Patrícia Andrade

Diretor Associado: Guilherme Logullo

Direção Musical e Arranjos: Cláudia Elizeu

Direção de movimento e coreografia: Alonso Barros

Cenografia: Marieta Spada

Figurino: Marilia Carneiro

Visagismo: Beto Carramanhos

Desenho de Luz: Felício Mafra

Desenho de som: Gabriel D’angelo e Joyce Santiago

Direção de Produção: Bianca Caruso

Direção artística e produção geral: Aniela Jordan

Direção de negócios e marketing: Luiz Calainho

Importante: 

Reforçamos que o elenco deste espetáculo pode ser alterado sem aviso prévio, não havendo troca ou devolução de ingressos. Para maiores informações acesse o nosso canal @elisamusical e solicite inbox/mensagem.

Nas sessões abaixo, o papel de Elis Regina será interpretado pela atriz Laila Garin:

08/11 (sexta-feira) às 20h | 09/11 (sábado) às 20h | 10/11 (domingo) às 19h

15/11 (sexta-feira) às 20h | 16/11 (sábado) às 20h | 17/11 (domingo) às 19h

21/11 (quinta-feira) às 20h | 22/11 (sexta-feira) às 20h | 23/11 (sábado) ás 20h | 24/11 (domingo) às 19h | 28/11 (quinta-feira) às 20h | 29/11 (sexta-feira) às 20h 30/11 (sábado) ás 20h | 01/12 (domingo) as 19h.

Nas sessões abaixo, o papel de Elis Regina será interpretado pela atriz Lílian Menezes:

09/11 (sábado) às 16h | 16/11 (sábado) às 16h | 17/11 (domingo) às 15h 

23/11 (sábado) às 16h | 24/11 (domingo) às 15h | 30/11 (sábado) às 16h | 01/12 (domingo) às 15h.

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Jornalista cultural influente, Miguel Arcanjo Prado dirige o Blog do Arcanjo desde 2012 e o Prêmio Arcanjo desde 2019. É Mestre em Artes pela UNESP, Pós-graduado em Mídia e Cultura pela ECA-USP, Bacharel em Comunicação pela UFMG e Crítico da APCA – Associação Paulista de Críticos de Artes, da qual foi vice-presidente. Eleito três vezes um dos melhores jornalistas culturais do Brasil pelo Prêmio Comunique-se. Passou por TV Globo, Grupo Record, Grupo Folha, Editora Abril, Huffpost Brasil, Grupo Bandeirantes, TV Gazeta, UOL, Rede TV!, Rede Brasil, TV UFMG e O Pasquim 21. Foi coordenador da SP Escola de Teatro. Integra o júri do Prêmio Arcanjo, Prêmio Jabuti, Prêmio Governador do Estado de SP, Sesc Melhores Filmes, Prêmio Bibi Ferreira, Destaque Imprensa Digital, Prêmio Guia da Folha e Prêmio Canal Brasil. Vencedor do Troféu Nelson Rodrigues, Prêmio Destaque em Comunicação ANCEC, Troféu Inspiração do Amanhã, Prêmio África Brasil, Prêmio Leda Maria Martins e Medalha Mário de Andrade Prêmio Governador do Estado, maior honraria na área de Letras de São Paulo.
Foto: Edson Lopes Jr.
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