Marcelo Caetano celebra sucesso de seu filme Baby: ‘Vitória do cinema brasileiro’ – Entrevista do Arcanjo

Diretor de Baby, Marcelo Caetano celebra sucesso do filme nas salas de cinema © Divulgação Blog do Arcanjo 2025

Por MIGUEL ARCANJO PRADO
@miguel.arcanjo

Cineasta mineiro radicado em São Paulo, Marcelo Caetano comemora o enorme sucesso de público e de crítica de seu filme Baby, que chegou a 34 salas de cinema na última quinta 9 de janeiro e, até esta terça, 14, havia sido visto por mais de 10.000 espectadores. “Vitória do cinema brasileiro!”, celebra, lembrando que trata-se de uma produção independente. Com o sucesso internacional de Ainda Estou Aqui e o Globo de Ouro para a atriz Fernanda Torres, o cinema nacional vive um momento de maior interesse do público. E Baby faz parte. O filme distribuído pela Vitrine Filmes narra uma história de amor entre dois homens de diferentes gerações no centro de São Paulo e tem no time de protagonista dois atores premiados pelo trabalho no longa: Ricardo Teodoro, que venceu como Revelação no Festival de Cannes, e João Pedro Mariano, vitorioso como melhor ator no Festival do Rio. A seguir, leia a entrevista exclusiva para o Blog do Arcanjo que o cineasta Marcelo Caetano concedeu ao jornalista Miguel Arcanjo Prado.

Miguel Arcanjo Prado – Como tem sido a repercussão do público com o filme nas salas após tantos prêmios e festivais?

Marcelo Caetano – Eu acho que a gente chegou super bem no cinema brasileiro. Baby passou de 10.000 espectadores com apenas 34 salas em dados acumulado até esta terça, dia 14 de janeiro. Vitória do cinema brasileiro! A gente fez muitas sessões lotadas no final de semana e já durante a semana também. Teve até São Paulo na noite de sábado que não tinha como ver Baby, porque todas as sessões estavam esgotadas. Então, isso é muito gratificante. A gente lança o filme dentro da nossa estrutura pequena, a gente está lançando com 30 cópias em 30 salas, enquanto por exemplo o filme Babygirl está lançando em 300 salas. Então, a gente vê a disparidade do cinema independente brasileiro em relação ao cinema mainstream hollywoodiano. E a importância de a gente ter cota de telas, de a gente mudar essa perspectiva de que os filmes possam ser vistos, que a gente possa sonhar em chegar para o público, porque nem nos é permitido isso. Mas tem sido um bom trabalho, a Vitrine Filmes tem feito um trabalho excelente, a gente tem apoio de várias entidades governamentais que estão financiando parte do lançamento. Então, é isso, a gente está lutando contra os golias, mas é gratificante a resposta do público. Eu vejo que tocou em cheio não só a comunidade LGBT+, mas todo mundo que está querendo ver uma história de amor, de um amor impossível, de um amor difícil, que todos vivemos.

João Pedro Mariano e Ricardo Teodoro no filme Baby, de Marcelo Caetano © Divulgação Blog do Arcanjo 2025

Miguel Arcanjo Prado – Assisti Baby na quinta de estreia no Cinesesc, em São Paulo, e a sala estava completamente lotada e o público aplaudiu efusivamente ao fim. Como está sendo receber essa reação tão calorosa das pessoas?

Marcelo Caetano – É, a gente vê muita aplauso em festival, mas quando chega na sala de cinema é difícil ver aplauso. Eu aplaudo os filmes em sala de cinema quando terminam, né? Eu tenho esse hábito. Às vezes, eu aplaudo sozinho, morro de vergonha, mas acho que é importante a gente reconhecer que é um trabalho feito com muitas mãos, com muita alegria, muita dor, porque é muito instável a vida de artista, de cineasta, de profissional do cinema, do audiovisual em geral no Brasil. Então, a gente fica muito encantado com a recepção do público. E que lindo que rolou aplauso no CineSesc, que é o cinema que eu mais frequento em São Paulo. Já dei muito curso lá, adoro a estrutura do bar atrás… E essa experiência coletiva é que interessa, né? Eu acho que a coisa que eu mais queria ver nesse filme é as pessoas chorando e rindo ao mesmo tempo, e felizes, como agora, que estão aplaudindo o filme.

João Pedro Mariano e Ricardo Teodoro no filme Baby, de Marcelo Caetano © Divulgação Blog do Arcanjo 2025

Miguel Arcanjo Prado – Você espera que Baby emplaque muitas semanas em cartaz?

Marcelo Caetano – A gente quer que fique o máximo de tempo em cartaz, porque a estratégia para um filme com lançamento pequeno como Baby é de boca a boca, né? Então, a gente precisa que ele fique muito tempo em cartaz. A gente tem aí uma pedreira nas próximas semanas, que são os filmes do Oscar que vão entrar. A gente vai lutar por ter boas salas, mais espaço e continuar nas sessões noturnas, porque o mais importante é a gente lutar para que o cinema brasileiro também esteja nas sessões noturnas. Muitas vezes são programados à tarde, em horários difíceis de assistir para a população em geral. Os preços já são altos, então, é muito legal quando o cinema passa nossos filmes à noite. A gente tem conseguido coisas muito legais com cinemas parceiros do Baby.

João Pedro Mariano e Ricardo Teodoro no filme Baby, de Marcelo Caetano © Divulgação Blog do Arcanjo 2025

Miguel Arcanjo Prado – E streaming, já tem algo em vista?

Marcelo Caetano – Streaming a gente ainda não tem, mas após março, o filme deve entrar em cartaz em algum, porque a gente também tem as estreias do filme fora do Brasil até lá. Começa na França dia 19 de março e depois na Alemanha dia 20 de março. Então, a gente tem que esperar um pouco essas estreias, porque uma vez que o filme está no streaming, o risco é muito grande de pirataria. Então, a gente gostaria de evitar nesse momento esse risco antes que os outros países vejam Baby nas salas de cinema.

Bruna Linzmeyer, Ana Flavia Cavalcanti, Ricardo Teodoro e João Pedro Mariano em Baby, filme de Marcelo Caetano © Divulgação Blog do Arcanjo 2025

Miguel Arcanjo Prado – O centro de SP é um personagem crucial no filme, como você definiria essa parte da cidade e por que ela lhe toca tanto?

Marcelo Caetano – O centro de São Paulo foi o lugar que me acolheu quando cheguei em São Paulo, vindo de Minas, né? Eu já estou aqui há 21 anos. Eu saio com 21, agora tenho 42, então eu já estou agora tão paulista no quanto mineiro. E o centro é esse lugar que historicamente é ocupado pela comunidade LGBT+, então, para mim, é importante sempre filmar no centro. Atualmente, moro no centro e, desde 2018 estou na Avenida São João, onde já tinha morado em outras etapas da minha vida, como quando eu cheguei. Então, eu queria muito fazer um filme sobre essa região. Eu filmei quatro curtas do centro, uma série e dois longas, o Corpo Elétrico e o Baby. Então, pra mim o Baby é uma consolidação desse discurso sobre o centro como esse espaço de dinamismo, de movimento, de encontro e convivência de pessoas diferentes, de comunidades, identidades diferentes. Não é um lugar pacífico, é um lugar com muitas tensões, mas é um lugar com muita vida, né? Então, acho que também fiz um filme mostrando essa vitalidade e desmontando um pouco esse discurso de uma necessidade de higienizar ou revitalizar o centro. O centro já tem bastante vida e são vidas incríveis que têm aqui, histórias muito boas para se contar.

João Pedro Mariano e Ricardo Teodoro no filme Baby, de Marcelo Caetano © Divulgação Blog do Arcanjo 2025

Miguel Arcanjo Prado – Você navega por uma história LGBTQIA+ sem julgamentos ou estereótipos. Para você é importante criar novas narrativas para esta parcela da população?

Marcelo Caetano – Eu acho que sim, eu acho que a gente tem que ter cada vez mais narrativas diferentes sobre a população LGBT+, mas eu acho que a gente está num momento muito interessante no Brasil, com cada vez mais vozes dessa comunidade produzindo e realizando filmes. Eu fico extremamente satisfeito de ver que a minha geração conseguiu ir do curta-metragem pro longa, o que não aconteceu nas gerações anteriores, com raras exceções como Carinho e Tom Lacerda, e é muito bom ver que a gente está produzindo longas muito diferentes entre si. E agora vem uma geração cada vez mais diversa, descentralizada, de diferentes cantos do Brasil. O filme Salomé, de André Antônio, ganhou o prêmio de melhor filme em Brasília, o filme Cidade Campo, da Juliana Rojas, ganhou o prêmio em Berlim, agora a gente tem no Festival de Berlim um novo filme do Filipe Matzembacher e Marcio Reolon, lá do Rio Grande do Sul, O Ato Noturno. Então, assim, é um cinema muito pulsante, talvez, junto com o cinema queer americano, seja um dos mais pulsantes do mundo. Acompanhando festivais LGBT ano a ano, eu vejo que nós somos uma das grandes forças.

Marcelo Caetano com os atores João Pedro Mariano, melhor ator no Festival do Rio, e Ricardo Teodoro, vitorioso como ator revelação no Festival de Cannes © Divulgação Blog do Arcanjo 2024

Miguel Arcanjo Prado – Como foi a escolha dos dois protagonistas do longa, os hoje atores premiados Ricardo Teodoro, ator revelação no Festival de Cannes, e João Pedro Mariano, melhor ator no Festival do Rio?

Marcelo Caetano – Eu fiz uma chamada na internet e convoquei diversos atores. As pessoas mandavam os perfis delas, e a gente fazia entrevistas. Depois, fizemos testes com cena e, por último, testes coletivos com parte do elenco e testes com o ator que faria o Ronaldo, que é o Ricardo Teodoro. Aí, nesses testes o João Pedro Mariano se inscreveu e fez todas as etapas e, no final, acabou sendo escolhido. E o Ricardo Teodoro participou de uma chamada na internet similar para uma série que realizei para o Canal Brasil, Notícias Populares. E eu acho importante, em termos políticos e de discussões sobre trabalho, que a gente faça mais chamadas públicas, para que a gente possa renovar um pouco os rostos, a paisagem humana do cinema brasileiro. Caso contrário, a gente acaba incorrendo sempre nos mesmos atores. Então, foi um processo muito interessante para revelar mesmo novas pessoas.

João Pedro Mariano e Ricardo Teodoro no filme Baby, de Marcelo Caetano © Divulgação Blog do Arcanjo 2025

Miguel Arcanjo Prado – Após Baby, qual será seu próximo projeto artístico? O que pode adiantar?

Marcelo Caetano – Eu, no momento, trabalho com dois projetos, uma ficção, que eu vou rodar em Minas Gerais, espero que nos próximos dois, três anos, e um documentário, que também nesse mesmo período, dois, três anos, sobre a minha querida grande parceira, sobre não, com, porque a gente vai trabalhar juntos na dramaturgia, Marcia Pantera, um filme não só sobre a história de vida dela, mas sobre a história da vida LGBT+ em São Paulo, da noite LGBT+ em São Paulo e os amores e as dores de Marcia.

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Jornalista cultural influente, Miguel Arcanjo Prado dirige o Blog do Arcanjo desde 2012 e o Prêmio Arcanjo desde 2019. É Mestre em Artes pela UNESP, Pós-graduado em Mídia e Cultura pela ECA-USP, Bacharel em Comunicação pela UFMG e Crítico da APCA – Associação Paulista de Críticos de Artes, da qual foi vice-presidente. Eleito três vezes um dos melhores jornalistas culturais do Brasil pelo Prêmio Comunique-se. Passou por TV Globo, Grupo Record, Grupo Folha, Editora Abril, Huffpost Brasil, Grupo Bandeirantes, TV Gazeta, UOL, Rede TV!, Rede Brasil, TV UFMG e O Pasquim 21. Foi coordenador da SP Escola de Teatro. Integra o júri do Prêmio Arcanjo, Prêmio Jabuti, Prêmio Governador do Estado de SP, Sesc Melhores Filmes, Prêmio Bibi Ferreira, Destaque Imprensa Digital, Prêmio Guia da Folha e Prêmio Canal Brasil. Vencedor do Troféu Nelson Rodrigues, Prêmio Destaque em Comunicação ANCEC, Troféu Inspiração do Amanhã, Prêmio África Brasil, Prêmio Leda Maria Martins e Medalha Mário de Andrade Prêmio Governador do Estado, maior honraria na área de Letras de São Paulo.
Foto: Edson Lopes Jr.
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