Crítica: Parque de Diversões provoca e desafia público com erotismo sem tabu

Por VINÍCIUS CRISTÓVÃO*
Parque de Diversões, filme de Ricardo Alves Jr., transcende o julgamento raso de “bom ou ruim” ao se colocar como um exercício visceral de intuição artística e ousadia. O longa fez pré-estreia neste sábado no Cine Tenda lotado na 28ª Mostra de Cinema de Tiradentes e chega aos cinemas nesta quinta, 30 de janeiro, sob distribuição da Cajuína Filmes.
O filme, apresentado na 28ª Mostra de Cinema de Tiradentes, é um convite — ou uma provocação — a olhar sem filtros para o erotismo, o fetiche e as sombras humanas.
Em uma hora e doze minutos de duração, Ricardo Alves Jr. nos entrega um mosaico de cenas explícitas de sexo envolvendo homens cis, homens trans, mulheres trans e, curiosamente, um parque infantil como cenário principal – as locações da ficção foram no Parque Municipal de Belo Horizonte.
Essa escolha escancara o desconforto e desafia o público a lidar com o que há de mais cru em suas percepções sobre sexualidade.
Mais do que chocante, o filme assume sua radicalidade como linguagem. Ricardo Alves Jr. não busca apenas a estética do impacto, mas uma experiência quase performática, onde o sexo deixa de ser tabu e se transforma em uma dramaturgia de corpos, desejos e fetiches.
Diferentemente da narrativa , do tom poético e até sensual que marcou o seu “Elon Não Acredita na Morte”, aqui o diretor ultrapassa o limiar entre o cinema tradicional e a arte provocadora, abrindo um diálogo inquietante com o espectador sobre o que é ou não aceitável em tela.
“Parque de Diversões” se conecta a um cinema mineiro contemporâneo, de vanguarda, que ousa explorar os limites da narrativa visual e simbólica.
Não é um filme fácil, e talvez resida aí sua maior força: ele não pede permissão para existir, nem para desestabilizar. É um filme que nos força a enxergar, mesmo onde preferiríamos desviar o olhar.
*VINÍCIUS CRISTÓVÃO é ator, diretor e produtor cultural. É diretor artístico do Tiradentes em Cena – Mostra de Artes Cênicas e mestre em Teatro. Ele escreveu a crítica a convite do Blog do Arcanjo.
O jornalista e crítico Miguel Arcanjo Prado viajou a convite da Universo Produção.
Editado por Miguel Arcanjo Prado
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Jornalista cultural influente, Miguel Arcanjo Prado dirige o Blog do Arcanjo desde 2012 e o Prêmio Arcanjo desde 2019. É Mestre em Artes pela UNESP, Pós-graduado em Mídia e Cultura pela ECA-USP, Bacharel em Comunicação pela UFMG e Crítico da APCA – Associação Paulista de Críticos de Artes, da qual foi vice-presidente. Eleito três vezes um dos melhores jornalistas culturais do Brasil pelo Prêmio Comunique-se. Passou por TV Globo, Grupo Record, Grupo Folha, Editora Abril, Huffpost Brasil, Grupo Bandeirantes, TV Gazeta, UOL, Rede TV!, Rede Brasil, TV UFMG e O Pasquim 21. Foi coordenador da SP Escola de Teatro. Integra o júri do Prêmio Arcanjo, Prêmio Jabuti, Prêmio Governador do Estado de SP, Sesc Melhores Filmes, Prêmio Bibi Ferreira, Destaque Imprensa Digital, Prêmio Guia da Folha e Prêmio Canal Brasil. Vencedor do Troféu Nelson Rodrigues, Prêmio Destaque em Comunicação ANCEC, Troféu Inspiração do Amanhã, Prêmio África Brasil, Prêmio Leda Maria Martins e Medalha Mário de Andrade Prêmio Governador do Estado, maior honraria na área de Letras de São Paulo.
Foto: Edson Lopes Jr.
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