Baby é aplaudido de pé na Mostra de Cinema de Tiradentes: entrevista com diretor e protagonista

João Pedro Mariano e Ricardo Teodoro no filme Baby, de Marcelo Caetano © Divulgação Blog do Arcanjo 2025

Por MIGUEL ARCANJO PRADO
@miguel.arcanjo

Enviado especial a Tiradentes, Minas Gerais*

Reportagem de FELIPE ROCHA**

A 28ª Mostra de Cinema de Tiradentes está a todo vapor! Na tarde do último domingo, 26 de janeiro, às 15h, foi exibido o ousado e aguardado filme “Baby” no Cine-Tenda, dirigido por Marcelo Caetano e protagonizado por João Pedro Mariano e Ricardo Teodoro.

O longa foi bastante aclamado pelo público presente, que se levantou de pé ao término da exibição para aplaudir o filme que conquistou o coração dos espectadores tiradentinos e de todo o mundo.

Grande sucesso, o longa já foi exibido na Semana da Crítica no Festival de Cannes 2024, onde Ricardo Teodoro foi eleito o ator revelação. No Rotten Tomatoes, coleciona uma aprovação de 100% da crítica especializada. Já no IMDb, recebeu a nota de 7,5/10.

A história gira em torno de Wellington, um jovem de 18 anos, recém-saído da prisão, que tenta se readaptar à vida fora da cela e encontrar sua mãe. Durante uma visita a um cinema pornô, ele conhece Ronaldo (Ricardo Teodoro), um homem mais velho pelo qual se apaixona, vive uma “amizade colorida” e recebe o apelido de Baby.

Sendo assim, Ronaldo ensina a Baby novas formas de sobreviver em um mundo permeado por prostituição e drogas e, aos poucos, eles se apaixonam. Vale destacar que chamou a atenção a ausência de Ricardo Teodoro na Mostra, já que é um dos protagonistas. Mas, de acordo com Marcelo Caetano, o motivo do não aparecimento é por estar envolvido com as gravações da próxima novela das 9 da Globo, o remake de Vale Tudo, já que após o sucesso do filme o ator mineiro foi contratado pela emissora carioca.

Baby é o segundo longa de Marcelo Caetano, 43 anos, mas, apesar disso, sua experiência com cinema é imensa. Em 2017, ele dirigiu, seu primeiro filme, Corpo Elétrico, que foi apresentado na seção Bright Future do Festival de Roterdã, no Festival de San Sebastián e no Festival de Guadalajara, onde venceu o Prêmio Maguey. Mineiro radicado em São Paulo, atuou como produtor de elenco por filmes como “Aquarius”, “Bacurau” e séries como “Cangaço Novo”. Atuou como assistente de direção dos filmes “Tatuagem” e “Boi Neon”. Também dirigiu as séries “Hit Parade” (2021) e “Notícias Populares” (2023). 

Já para João Pedro Mariano, 21 anos, mineiro, esse é o primeiro longa da sua carreira, motivo de celebração. Devido à sua atuação no filme, recebeu o prêmio de Melhor Ator no Festival do Rio e no Festival Aruanda, ambos de 2024. Estudou atuação na SP Escola de Teatro e no curso livre de férias de Wolf Maya. É também co-fundador do coletivo de artistas “A.Bordar”, que pretende emprestar artisticamente suas vozes, corpos e emoções para que vítimas de violências e abusos possam contar suas histórias. 

O Blog do Arcanjo conversou com exclusividade com Marcelo Caetano e João Pedro Mariano sobre o filme e o processo de produção. Leia a entrevista.

Diretor de Baby, Marcelo Caetano celebra sucesso do filme nas salas de cinema © Divulgação Blog do Arcanjo 2025

Entrevista com Marcelo Caetano 

BLOG DO ARCANJO – FELIPE ROCHA – Primeiro, parabéns pelo filme. Quantas pessoas, em média, já viram Baby?

MARCELO CAETANO – Acho que a gente deve estar passando de 20 mil espectadores neste final de semana. 

BLOG DO ARCANJO – FELIPE ROCHA – E quantos prêmios Baby já recebeu?

MARCELO CAETANO – Foram 26 prêmios.

BLOG DO ARCANJO – FELIPE ROCHA – Qual a importância de estrear um longa seu na Mostra de Cinema de Tiradentes?

MARCELO CAETANO – A Mostra é um festival que faz parte da minha formação como cinéfilo. Eu sou mineiro, então eu peguei muito busão com 18, 19 anos de idade para vir para cá. Dormir numa casa com 10 pessoas numa sala para gente poder ficar vendo filme. Então, é uma paixão para mim esse festival. Eu venho todos os anos, mesmo quando eu não tenho filme. E poder mostrar o Baby aqui foi muito especial, porque é um público caloroso, um público jovem, de diversos lugares do Brasil, então é muito gratificante.

BLOG DO ARCANJO – FELIPE ROCHA – E quantos filmes você já trouxe para cá?

MARCELO CAETANO – Já trouxe para cá três curtas, duas séries e dois longas. Sete filmes como diretor. Mas vários como produtor de elenco e roteirista. Eu tenho bastante relação com o festival. Já dei oficina aqui também em vários anos. 

BLOG DO ARCANJO – FELIPE ROCHA – Quais ingredientes que a história tem que conquistam mais a atenção do público?

MARCELO CAETANO – Eu acho que o filme trata de uma história de encontro e desencontro. De uma história de paixão, de quem nunca viveu uma paixão. Quem nunca sofreu de amor. E é dos dois personagens que tem uma dificuldade muito grande de declarar essa paixão pelo outro. E aí a situação vai crescendo para um lado que os dois perdem um pouco o controle. Mas tem ali muito afeto, muita dor. 

BLOG DO ARCANJO – FELIPE ROCHA – Qual a mensagem que o filme pretende deixar para o espectador?

MARCELO CAETANO – A importância da gente estar discutindo as diferentes famílias que a gente pode formar durante a nossa vida. As famílias escolhidas, as famílias alternativas. Não só as pessoas que a gente ama afetivamente, os nossos amigos biológicos, mas também os amigos. Valorizar esse rolezão que é o encontro.

BLOG DO ARCANJO – FELIPE ROCHA – E para finalizar, o quão especial é o filme Baby em sua carreira?

MARCELO CAETANO – Ah, eu acho que é um filme que abriu muitas portas, me levou para muitos lugares, a muitos públicos diferentes, com distribuição em 20 países. Te dá uma certa segurança, uma autoestima para você sonhar mais alto.

João Pedro Mariano apresenta o filme Baby na 28ª Mostra de Cinema de Tiradentes – Foto Jackson Romanelli Universo Produção Divulgação Blog do Arcanjo 2025

Entrevista com João Pedro Mariano

BLOG DO ARCANJO – FELIPE ROCHA – Qual é a responsabilidade de estrear o filme como protagonista?

JOÃO PEDRO MARIANO – É uma grande responsabilidade, ainda mais porque eu admiro o Marcelo Caetano como pessoa e como diretor. Eu admiro muito o Corpo Elétrico, é uma grande referência para mim. Então, quando eu recebi o protagonista, me deu medo e uma vontade de desistir, porque é uma grande responsabilidade, ainda mais um filme como esse. Mas eu acho muito importante eu ser essa pessoa que faz o Baby, porque eu levanto essa causa, que é o personagem. Eu amo a comunidade, eu sou da comunidade. Então eu acho muito interessante isso. É o meu primeiro filme. É interessante essa construção de personagem que eu fiz. Foi muito estudo para fazer Baby. Então, eu sou muito honrado. Morri de medo, mas agora tá sendo uma das maiores felicidades da minha vida.

BLOG DO ARCANJO – FELIPE ROCHA – Quais os maiores desafios que você enfrentou para compor seu personagem, o Wellington/Baby? E com o você se preparou para isso?

JOÃO PEDRO MARIANO – Meu trabalho foi muito lugar de pesquisa. Eu pesquisei muito para fazer o Wellington. Eu fui muito na Fundação Casa, para me ver com os meninos realmente. Fui fazer aula de vogue, para poder aprender a dança do vogue. Fui para saunas de prostituição. Pegando vários lápis para poder criar esse personagem. Então essa dificuldade foi no início, mas depois, quando a gente entende o que é, a gente vê a grandiosidade do personagem, ele já está dentro da gente. Então, quando a gente começou a gravar, eu estava muito solto, porque eu já sabia exatamente o que eu tinha que fazer. Então, foi muito lugar de pesquisa que me preparou para viver esse personagem tão complexo.

BLOG DO ARCANJOFELIPE ROCHA – Você foi premiado como Melhor Ator no Festival do Rio. Qual a importância dessa premiação para você?

JOÃO PEDRO MARIANO – Ah, estou muito feliz. Não tem muito o que falar sobre a importância da premiação, porque é muito distante para mim. Como eu venho do teatro, eu nunca imaginava que conseguiria acessar o meio do cinema. Então agora, no primeiro filme, meu primeiro trabalho no audiovisual, eu ser reconhecido no Festival do Rio, como melhor ator, é um up que me dá. E também em João Pessoa ganhei o melhor ator. Eu tenho 21 anos de idade. Então, eu sinto que isso me dá um up de poder continuar e saber que estou indo para o caminho certo. 

BLOG DO ARCANJO – FELIPE ROCHA – Gostaria que você fizesse um convite às pessoas que ainda não conferiram Baby, que já está em cartaz nos cinemas, porque elas não podem perder esse longa.

JOÃO PEDRO MARIANO – Claro! Quero convidar todo mundo para ver Baby, esse filme tão importante. Nosso filme foi o filme nacional mais premiado de 2024. Então, assim, tem um motivo. É uma história muito bonita. Uma história muito delicada. Que honra esses personagens, que traz amor, que traz carinho, cuidado, afeto. Então, eu quero que muitas pessoas tenham a oportunidade de assistir um filme queer. Para pessoas que nunca vão, porque tem essa parte da sociedade. Quando fala que é um filme queer, já dão dois passos para trás. Mas eu acho que nosso filme tem muito mais camadas para ser explorado. E tenho certeza que as pessoas vão se identificar com esse personagem. A gente tá entrando na terceira semana de distribuição, uma semana muito importante para apoiar o nosso filme. Para que continue, então bora pro cinema, bora comemorar esse cinema nacional, queer. Um cinema que a gente tá resistindo o tempo todo.

BLOG DO ARCANJO – FELIPE ROCHA – Por último, poderia nos adiantar seus próximos projetos?

JOÃO PEDRO MARIANO – Tem várias coisas. Tem umas coisas que eu não posso falar, que tá em sigilo ainda. Mas eu acabei de gravar uma série pro Amazon Prime, que vai lançar agora, em 2025, que é a de Tremembé, eu faço parte do elenco. Começo a gravar um curta agora. E também começo a produzir meu próximo filme mesmo. Vou começar a produzir um curta. Vou ter um roteirista e vou fazer a direção também.

*O jornalista e crítico Miguel Arcanjo Prado viajou a convite da Universo Produção.

**Felipe Rocha é estudante de jornalismo da UFSJ sob supervisão de Miguel Arcanjo Prado.

Editado por Miguel Arcanjo Prado

Siga @miguel.arcanjo

Ouça Arcanjo Pod

O atributo alt desta imagem está vazio. O nome do arquivo é miguel-arcanjo-prado-foto-edson-lopes-jr.jpg

Jornalista cultural influente, Miguel Arcanjo Prado dirige o Blog do Arcanjo desde 2012 e o Prêmio Arcanjo desde 2019. É Mestre em Artes pela UNESP, Pós-graduado em Mídia e Cultura pela ECA-USP, Bacharel em Comunicação pela UFMG e Crítico da APCA – Associação Paulista de Críticos de Artes, da qual foi vice-presidente. Eleito três vezes um dos melhores jornalistas culturais do Brasil pelo Prêmio Comunique-se. Passou por TV Globo, Grupo Record, Grupo Folha, Editora Abril, Huffpost Brasil, Grupo Bandeirantes, TV Gazeta, UOL, Rede TV!, Rede Brasil, TV UFMG e O Pasquim 21. Foi coordenador da SP Escola de Teatro. Integra o júri do Prêmio Arcanjo, Prêmio Jabuti, Prêmio Governador do Estado de SP, Sesc Melhores Filmes, Prêmio Bibi Ferreira, Destaque Imprensa Digital, Prêmio Guia da Folha e Prêmio Canal Brasil. Vencedor do Troféu Nelson Rodrigues, Prêmio Destaque em Comunicação ANCEC, Troféu Inspiração do Amanhã, Prêmio África Brasil, Prêmio Leda Maria Martins e Medalha Mário de Andrade Prêmio Governador do Estado, maior honraria na área de Letras de São Paulo.
Foto: Edson Lopes Jr.
© Blog do Arcanjo – Cultura e Entretenimento por Miguel Arcanjo Prado | Todos os direitos reservados.

Please follow and like us:

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *