Tensão marca debate do filme Primavera na 28ª Mostra de Cinema de Tiradentes

Os diretores do filme Primavera Sérgio Bivar e Daniel Aragão foram duramente confrontados durante debate sobre o longa na 28ª Mostra de Cinema de Tiradentes – Leo Fontes Universo Produção Divulgação Blog do Arcanjo 2025

Por MIGUEL ARCANJO PRADO
@miguel.arcanjo

Enviado especial a Tiradentes, Minas Gerais*

O debate do filme Primavera, de Daniel Aragão e Sérgio Bivar, foi marcado por muita tensão entre plateia e realizadores nesta quarta, 29, na 28ª Mostra de Cinema de Tiradentes, em Minas Gerais. Como bem definiu o crítico de cinema pernambucano André Gerra, “foi um massacre”.

O debate foi bastante acalorado e gerou reações intensas entre os participantes, destacando a complexidade das discussões sobre cinema e suas relações com a sociedade, assim como as relações entre a obra e quem a realiza.

O evento, com os debatedores e críticos Bernardo Oliveira e Bárbara Bello, trouxe à tona a trajetória do diretor Daniel Aragão, que dirigiu ao lado de Josias Teófilo o filme O Jardim das Aflições, sobre o guru do bolsonarismo Olavo de Carvalho. Tal detalhe do currículo do realizador gera estigma sobre o mesmo entre os frequentadores do festival, ao ponto de inclusive questionarem a presença de seus filmes na programação.

Os diretores do filme Primavera Sérgio Bivar e Daniel Aragão foram duramente confrontados durante debate sobre o longa na 28ª Mostra de Cinema de Tiradentes – Leo Fontes Universo Produção Divulgação Blog do Arcanjo 2025

Tensão no ar

Desde o início, o clima no auditório foi tenso. O que se viu foi um confronto contundente de opiniões. As intervenções se tornaram acaloradas, com manifestações de descontentamento com o filme por parte do público presente no Cine Teatro do Centro Cultural Yves Alves.

O debate, que deveria ser um espaço de diálogo, rapidamente se transformou em uma arena de críticas e acusações fervorosas.

Daniel Aragão, que também atuou como diretor de fotografia do filme, começou sua apresentação com dificuldades para articular suas respostas. De todo modo, com uma fala desarticulada, sua defesa da obra foi fraca e, em muitos momentos, desconectada das perguntas feitas.

A debatedora, Bárbara Bello, e outros participantes levantaram questões críticas sobre a abordagem estética do filme e a representação de corpos vulneráveis.

Clima pesado

Uma das participantes expôs sua insatisfação de maneira contundente. Ela questionou a separação entre o artista e sua obra, enfatizando a necessidade de uma reflexão mais profunda sobre as representações cinematográficas. Seu comentário sobre não ter assistido ao filme até o fim gerou ainda mais tensão com Aragão, que desdenhou a fala da mulher por não ter visto o filme. Ela pediu que o cineasta se silenciasse e a deixasse falar, para só então rebater.

A impressão foi de despreparo dos diretores para o debate. Em certo momento, Aragão chamou os atores para falarem, numa visível tentativa de se defender das acusações. A troca de ideias, que poderia ter sido enriquecedora, foi marcada por um clima de hostilidade.

Ao final do debate, a sensação predominante era de frustração. Temas importantes sobre a cultura pernambucana e a poesia cinematográfica se perderam em meio às discussões acaloradas e o clima pesado.

Respeito à liberdade de pensamento e de expressão

Apesar de ter gente defendendo que o filme “A Primavera” não deveria estar na programação, é importante lembrar que o Brasil é uma democracia com liberdade de expressão artística garantida na Constituição. O fato de alguém não gostar de um filme, ou de seu diretor, não significa que este não possa existir.

O debate sobre “A Primavera” e, sobretudo a postura desarticulada do diretor Daniel Aragão reiterou a necessidade de um espaço mais respeitoso e democrático para discussões sobre cinema e um maior preparo de diretores para enfrentarem debates em festivais. É importante salientar também que educação para ouvir o outro, mesmo que tenha pensamento divergente, é a base de um diálogo saudável. Caso contrário, tudo se transforma em um circo de horrores.

Editado por Miguel Arcanjo Prado

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Jornalista cultural influente, Miguel Arcanjo Prado dirige o Blog do Arcanjo desde 2012 e o Prêmio Arcanjo desde 2019. É Mestre em Artes pela UNESP, Pós-graduado em Mídia e Cultura pela ECA-USP, Bacharel em Comunicação pela UFMG e Crítico da APCA – Associação Paulista de Críticos de Artes, da qual foi vice-presidente. Eleito três vezes um dos melhores jornalistas culturais do Brasil pelo Prêmio Comunique-se. Passou por TV Globo, Grupo Record, Grupo Folha, Editora Abril, Huffpost Brasil, Grupo Bandeirantes, TV Gazeta, UOL, Rede TV!, Rede Brasil, TV UFMG e O Pasquim 21. Foi coordenador da SP Escola de Teatro. Integra o júri do Prêmio Arcanjo, Prêmio Jabuti, Prêmio Governador do Estado de SP, Sesc Melhores Filmes, Prêmio Bibi Ferreira, Destaque Imprensa Digital, Prêmio Guia da Folha e Prêmio Canal Brasil. Vencedor do Troféu Nelson Rodrigues, Prêmio Destaque em Comunicação ANCEC, Troféu Inspiração do Amanhã, Prêmio África Brasil, Prêmio Leda Maria Martins e Medalha Mário de Andrade Prêmio Governador do Estado, maior honraria na área de Letras de São Paulo.
Foto: Edson Lopes Jr.
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