Opinião: Beleza Fatal prova que é possível fazer um novelão nos tempos atuais – por Felipe Rocha

Colaborou Felipe Rocha
Se você pensou que era o fim do gênero telenovela, tenho que te dizer: está bastante enganado. Nova produção da Max e que estreia dia 10 de março, às 20h30, na Band, Beleza Fatal vem para descontruir de uma vez por todas essas falácias. Confira agora o motivo e não se esqueça de um nome: Raphael Montes, um autor em ascensão. Escritor de livros como “Dias Perfeitos”, “Uma Família Feliz” e “Jantar Secreto”, ele estreia com chave de ouro no folhetim com Beleza Fatal.
No dia 27 de janeiro, a Max ativou um novo conteúdo irresistível no seu catálogo: a novela Beleza Fatal. Ela tem sido um dos assuntos mais comentados do momento e um prato cheio para os noveleiros de plantão, que estão se deliciando com suas cenas ousadas e seus ganchos de tirar o fôlego.
É muito cedo para consagrar Raphael Montes ao lado dos grandes autores da teledramaturgia brasileira? Pois ele nos ofereceu o novelão que precisávamos há muito tempo e que não estávamos vendo na Vênus Platinada (Globo), que, nos últimos anos, por sinal, parece ter desaprendido a fazer novelas envolventes. Agora, sim, a fome dos noveleiros acabou.
Beleza Fatal é tão potente, carismática e interessante que até quem não acompanha novela passa ali pela sala para observar um pouquinho e, depois, finca raízes e não consegue mais sair da tela. Impossível não devorar o bloco de cinco capítulos semanais de uma vez só!
É bem provável que a Max deve ter aumentado seus assinantes depois do lançamento dessa superprodução, com a cara e a identidade do Brasil, pois não se fala mais em outra coisa. Um só fato pode provar esse hype todo, já que a Max não divulga suas audiências como a Netflix costuma fazer, mas uma informação confirmada é que Beleza Fatal figura no top 1 da plataforma em 15 países da América Latina, conforme divulgado pelo autor Raphael Montes. Sucesso absoluto!
Se vocês pensam que estou bajulando gratuitamente ou estão se perguntando por que a novela tem esse grande potencial, basta dizer que Beleza Fatal é uma sucessão de acertos: no elenco, na trama, no roteiro, na trilha sonora, no visual e na direção inteligente de Maria de Médicis. Tem todos os ingredientes que um novelão precisa ter.
E, principalmente, a novela diz a que veio! A história é constante, segue um caminho linear, não fica atirando perdida para todos os lados. Também não é uma grande emenda, uma colcha de retalhos. Um dos motivos que consagram Beleza Fatal como uma novela que já pode fazer parte da história teledramaturgia brasileira, mesmo que não esteja sendo exibida na TV aberta até o momento, é a sua história clássica e popular.
Resumo: o enredo gira em torno de Sofia (Camila Queiroz), que busca se vingar da própria tia Lola (Camila Pitanga) após a sua mãe Cléo (Vanessa Gíacomo) ser acusada de um crime que não cometeu. O cenário perfeito e criativo em que a trama se desenrola: indústria da beleza.

Tendo em vista o enredo de Beleza Fatal, a verdade é que o público não quer histórias diferentonas, sofisticadas, de gente que fica oscilando entre o bem e o mal o tempo inteiro, as pessoas querem entretenimento e isso só se consegue apostando em histórias simples e de fácil identificação, como é o caso da novela de Raphael Montes.
O autor consegue criar uma história que todo mundo vai comentar sobre, seja na rua, no trabalho, em casa, pois o enredo é totalmente memorável. Os personagens são carismáticos, até mesmo a vilã Lola, interpretada por Camila Pitanga, que está irretocável e já nos ofereceu um série de bordões como: “capirota”, “lolover”, “my love”. Mais um elemento delicioso para os noveleiros!
Além disso, Montes cria discussões com o público, fazendo merchandising social com maestria e refletindo sobre os riscos de procedimentos estéticos e das cirurgias plásticas, dentre outros temas.
Não adianta fazer uma grande inovação numa história se ela não seguir a estrutura geral do melodrama, com mocinhos e vilões definidos, a(o) mocinha(o) que luta a novela a vida inteira contra a vilã, como neste caso, ou até mesmo o casal que luta a novela inteira para ficar junto. Isso é a identidade do gênero telenovela. Você deve até pensar: ah, mas isso já está batido demais. E eu digo: não está, porque cada ator interpreta seu personagem de uma forma diferente e inovadora. Basta um elenco de peso e que exala química, e em Beleza Fatal, essa realização é grandiosa, pois é primoroso e divertidíssimo acompanhar Camila Pitanga, Camila Queiroz, Giovanna Antonelli, Herson Capri, Caio Blat, Marcelo Serrado, Murilo Rosa, Julia Stockler e diversos outros contracenando juntos.

Muitos se surpreenderam também com o tamanho dessa obra: 40 capítulos apenas. Isso é a prova de que a quantidade de capítulos não define o mérito da história ou do autor. É a forma como ele conduz, aproveita esses capítulos para criar uma grande história. E Beleza Fatal prova que é possível fazer uma telenovela sem que seja gigantesca, graças à genialidade de Raphael Montes. Quem sabe seja um indicativo de que as novelas precisam rever sua quantidade de capítulos, não é mesmo?
Acima de tudo, Beleza Fatal chama atenção por ser uma história bastante ousada, sem-vergonha, que não tem medo de ser o que é. Não existe politicamente correto aqui. Já no primeiro capítulo, ela serviu tudo explícito: sequências de nudez e sexo. Além disso, a Lola é uma vilã sem escrúpulos, que ofende minorias e pronuncia absurdos. E essa coragem de Raphael Montes é mais um ponto a seu favor, porque não transforma a história em algo moralista, didático e militante. Com isso, ele faz jus ao objetivo da telenovela, que é provocar a emoção e ganhar o coração do público.
Ao final desse texto, você deve estar se perguntando: onde isso vai dar? O que Sofia aprontará ainda mais com a Lola? A curiosidade aumenta a cada semana. Não faço apostas, porque Raphael Montes já provou o seu poder de nos enganar a todo instante, mas o fato é que teremos até o dia 17 de março para conferir o ato final dessa vingança, quando sai o último bloco de capítulos. Enquanto isso, Beleza Fatal colhe os frutos de ser o novelão que estávamos esperando há muito tempo. E finalmente chegou! Divirta-se!
Assista Beleza Fatal na Max e a partir de 10 de março na Band às 20h30.
Editado por Miguel Arcanjo Prado
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Jornalista cultural influente, Miguel Arcanjo Prado dirige o Blog do Arcanjo desde 2012 e o Prêmio Arcanjo desde 2019. É Mestre em Artes pela UNESP, Pós-graduado em Mídia e Cultura pela ECA-USP, Bacharel em Comunicação pela UFMG e Crítico da APCA – Associação Paulista de Críticos de Artes, da qual foi vice-presidente. Eleito três vezes um dos melhores jornalistas culturais do Brasil pelo Prêmio Comunique-se. Passou por TV Globo, Grupo Record, Grupo Folha, Editora Abril, Huffpost Brasil, Grupo Bandeirantes, TV Gazeta, UOL, Rede TV!, Rede Brasil, TV UFMG e O Pasquim 21. Foi coordenador da SP Escola de Teatro. Integra o júri do Prêmio Arcanjo, Prêmio Jabuti, Prêmio Governador do Estado de SP, Sesc Melhores Filmes, Prêmio Bibi Ferreira, Destaque Imprensa Digital, Prêmio Guia da Folha e Prêmio Canal Brasil. Vencedor do Troféu Nelson Rodrigues, Prêmio Destaque em Comunicação ANCEC, Troféu Inspiração do Amanhã, Prêmio África Brasil, Prêmio Leda Maria Martins e Medalha Mário de Andrade Prêmio Governador do Estado, maior honraria na área de Letras de São Paulo.
Foto: Edson Lopes Jr.
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