★★★★ Crítica: Nora e a Porta valoriza o ‘não’ libertário na vida de qualquer mulher
Por MIGUEL ARCANJO PRADO
@miguel.arcanjo
★★★★
NORA E A PORTA
Avaliação: Muito Bom
Crítica por Miguel Arcanjo Prado
Terça a sexta, 20h30 – Até 21/3/2025
Sesc Pompeia, São Paulo – Compre seu ingresso!
Dizer não sempre foi algo revolucionário na vida de qualquer mulher. Afinal, em um mundo moldado pelo patriarcal, o sim sempre foi imposto ao feminino, como se assentir fosse a única alternativa. A peça Casa de Bonecas, escrita pelo norueguês Henrik Ibsen em 1879, joga justamente com essa vontade da mulher em dizer não. Essa gana de abrir a porta do lar-cárcere e seguir rumo à rua e à liberdade. Não à toa, o texto instantaneamente tornou-se um dos grandes clássicos do teatro mundial e sempre é revisitado no teatro brasileiro. Prova disso, é sua nova releitura no teatro paulistano, na montagem altamente contemporânea Nora e a Porta, espetáculo que merece ser visto no Sesc Pompeia, em São Paulo. A encenação da dupla de diretoras Sandra Corveloni, a nossa lendária melhor atriz em Cannes, e Maristela Chelala se dá a partir de dramaturgia de Marina Corazza, que relê o drama de Ibsen com a lente do aqui e agora, com fartas pitadas de teatro pós-dramático. O título já assume a porta como elemento crucial da história. Afinal, a porta diante de Nora é esse portal que conecta o privado e o púplico, o aprisionamento e o libertário. É um portal que amedronta e também atiça. O espetáculo conta com um elenco talentoso e habilidoso em construir a cena em um palco desnudado, coisa possível apenas a excelentes atores — o figurino de Anne Cerutti também faz contribuição neste sentido. Com uma atuação intensa, Rita Pisano é a protagonista absoluta, dando a vida e o atrevimento necessários à inquieta Nora, que não está lá muito feliz com o casamento que leva com Marcelo, personagem de André Garolli, na pele do típico marido sem sal da classe média, com quem Nora ainda teve três filhos. Nesse insosso chafurdar doméstico há interessantes personagens à espreita, interpretados por Carlos de Niggro e Anderson Negreiro, que se alternam no mesmo personagem, Adriana Mendonça e Heitor Goldflus, todos oferecendo matizes diferentes que se complementam num conjunto diverso e potente. E sacudindo a visão de mundo de Nora. No time criativo desta produção coordenada por Cícero de Andrade, da Mosaico Produções, ainda há a luz propositiva da hábil Gabriele Souza e a trilha original de Rafael Thomazini. O espetáculo Nora e a Porta nos confirma que a questão social das mulheres está longe de ser resolvida, mesmo em um mundo onde houve avanços em relação àquela sociedade do século 19 de Ibsen, mas que, ironicamente, conserva ainda intacta, tal qual a casa de bonecas encravada no canto do palco, algumas das mesmas armadilhas que aprisionam e subjugam qualquer mulher. E muitos desses grilhões estão em seus lares. Contudo, ainda bem, cada vez mais as mulheres estão dispostas a meter o pé na porta com um brado sonoro e libertário “não”.
★★★★
NORA E A PORTA
Avaliação: Muito Bom
Crítica por Miguel Arcanjo Prado
Terça a sexta, 20h30 – Até 21/3/2025
Sesc Pompeia, São Paulo – Compre seu ingresso!
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Editado por Miguel Arcanjo Prado
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Jornalista cultural influente, Miguel Arcanjo Prado dirige o Blog do Arcanjo desde 2012 e o Prêmio Arcanjo desde 2019. É Mestre em Artes pela UNESP, Pós-graduado em Mídia e Cultura pela ECA-USP, Bacharel em Comunicação pela UFMG e Crítico da APCA – Associação Paulista de Críticos de Artes, da qual foi vice-presidente. Eleito três vezes um dos melhores jornalistas culturais do Brasil pelo Prêmio Comunique-se. Passou por TV Globo, Grupo Record, Grupo Folha, Editora Abril, Huffpost Brasil, Grupo Bandeirantes, TV Gazeta, UOL, Rede TV!, Rede Brasil, TV UFMG e O Pasquim 21. Foi coordenador da SP Escola de Teatro. Integra o júri do Prêmio Arcanjo, Prêmio Jabuti, Prêmio Governador do Estado de SP, Sesc Melhores Filmes, Prêmio Bibi Ferreira, Destaque Imprensa Digital, Prêmio Guia da Folha e Prêmio Canal Brasil. Vencedor do Troféu Nelson Rodrigues, Prêmio Destaque em Comunicação ANCEC, Troféu Inspiração do Amanhã, Prêmio África Brasil, Prêmio Leda Maria Martins e Medalha Mário de Andrade Prêmio Governador do Estado, maior honraria na área de Letras de São Paulo.
Foto: Edson Lopes Jr.
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