Prêmio I Love PRIO do Humor de Fábio Porchat anuncia vencedores em São Paulo

Por MIGUEL ARCANJO PRADO
@miguel.arcanjo

Aconteceu nesta segunda-feira, 17 de março, a quinta edição do Prêmio I Love Prio de Humor de São Paulo. Pela primeira vez a cerimônia foi realizada no Teatro Vivo, no Morumbi. Criada, dirigida e apresentada por Fábio Porchat, a premiação reconhece os destaques dos espectáculos teatrais de humor do último ano, sendo algo feito de e por humoristas para humoristas, reconhecendo mais a comédia no mundo das artes cênicas. A premiação tem no júri paulistano Agnes Zuliani, Ary França, Bruno Motta e Miguel Arcanjo Prado.

Em sua fala de abertura, Fábio Porchat lembrou a importância de se prestigiar o humor, muitas vezes ignorado em outras premiações. “Damos troféu e dinheiro aos vencedores, porque se a gente só der o seu troféu, vai ser chatíssimo, porque aí a gente continua perdendo dos outros prêmios”, disse, bem humorado.

Melhor Texto: Rodrigo Marques, por O Entusiasta

“Eu sempre gosto de começar pelo Melhor Texto, que é aquilo que dá a base para tudo”, disse Porchat. Assim, a primeira categoria anunciada foi Melhor Texto, vencida por Rodrigue Marques, pelo espetáculo O Entusiasta, de comédia stand-up. A categoria foi anunciada por Jovane Mendes Nunes, da Cia Melhores do Mundo, de Brasília.

Rodrigo Marques se emocionou com a vitória: “Gente, de verdade, tô muito feliz, eu nunca ganhei nada, concorri aqui já uma vez, três indicações, eu perdi as três. Tô feliz que dessa vez a Claudia Raia não participou. O humor não é muito valorizado, no Oscar é difícil o humor concorrer a algum prêmio, E o stand-up, dentro do humor, ele é mais desvalorizado também. Então, é uma alegria de verdade, o stand-up estar sendo colocado como arte, sendo colocado do lado a lado do teatro, na prateleira que ele é, de verdade. E eu fico realmente feliz, em estar aqui representando a minha arte, que é stand-up”, comemorou o campeão.

Prêmio Especial: Rafael Aragão, Enrique Verta, Milton Filho e Vicenthe Oliveira por Adorável Trapalhão

Em seguida, foi a categoria Prêmio Especial, apresentada por Zezé Barbosa. “É aquela pessoa especial, que às vezes não é nem protagonista, mas você fala ‘gente, a peça era ótima, ah, mas tinha aquele. Ah, mas ele fez aquilo’. Então, o prêmio especial, mostra aquele toque especial todo espetáculo tem, né?”, descreveu a divertida atriz sobre a categoria.

Oa vencedores foram Rafael Aragão, Enrico Verta, Milton Filho e Vicenthe Oliveira, vivendo o quarteto  Didi, Dedé Mussum e Zacarias em “O Adorável Trapalhão”. “Um prêmio para cada um, a gente pensou que era só um quando viu. Obrigado, Fábio. Falta o menino que faz o Dedé, mas a gente não vai entregar o prêmio pra ele, porque ele não veio [risos]”, brincou Rafael Aragão, antes de celebrar a conquista.

“‘Adorável Trapalhão’ a gente fez com muito amor, de verdade. Amor brasileiro aos Trapalhões, que acho que essa geração inteira foi criada pelos Trapalhões. Essa galera que tá no nosso coração, tá na nossa alma, tá na nossa memória. Acho que pra sempre. E obrigado, gente. Nunca ganhei nada, nunca fui indicado a nada, [e agora ganho] Especial!”, completou Rafael Aragão.

“Bom, eu não fui criada pelos Trapalhões, mas a minha mãe foi. Eu fazia os Zacarias, e foi muito legal dividir essas pessoas com eles e com o Enrico, que não pode estar aqui hoje, que fazia o Dedé. Representar, para mim, principalmente o Zacarias, que acho que deixou todos nós muito cedo, muito antes de nós nascermos também. Mas a gente está muito feliz, eu acho que a gente não imaginava estar sendo indicado e nem ganhar. É especial”, destacou Vicenthe Oliveira.

“A gente só quer agradecer mais uma vez, e viva a memória do Mussum, viva a memória dos Trapalhões, viva a adorável Trapalhão. Obrigado, obrigado”, complementou Milton Filho.

Melhor Direção: Débora Lamm e Enrique Diaz por Férias

Posteriormente, a humorista Cláudia Rodrigues apresentou o prêmio de Melhor Direção. Ao subir ao palco foi aplaudida de pé. Quem venceu foram Débora Lamm e Enrique Diaz, pelo espetáculo “Férias”.

“Uma honra dirigir Drica Moraes e Fábio Assunção. Um texto do Jô Bilac, que eu tenho certeza que todo mundo aqui admira. E essa parceria com Enrique Dias, eu vou dizer que assim, desde que eu comecei a fazer teatro eu assistia a Companhia dos Atores, acompanhava tudo que ele fazia. E dirigir junto com ele, assim, foi a realização mesmo de um sonho, de uma trajetória, assim. A gente se identifica muito, então foi tão natural a gente dirigir junto um dia”, declarou Débora Lamm.

“Então, eu acho que ganhar esse prêmio diz muito da honra de estar dividindo esse ofício com ele. Quero agradecer a toda a equipe, a gente sabe que teatro a gente não faz sozinho. Essa peça foi feita na raça, sem patrocínio e está sendo reconhecida pelo humor, que bom Fábio que existe esse prêmio, porque a gente sabe o tanto que demora, às vezes, pra gente poder ser reconhecido por uma arte que eu é subestimada. Porque eu acho que é um requinte da espécie, a gente se disfarça de despretencioso e consegue chegar nas pessoas de um jeito que a gente consegue, de fato, transformar, trocar uma ideia rara. Quero parabenizar todo mundo que tá envolvido aqui nesse prêmio, todo mundo que está concorrendo, que bom que eu vim, de Belém! Obrigada mesmo”, declarou a atriz.

Melhor Performance: Marcos Veras por Insignificância

Então, foi a vez do Prêmio de Melhor Performance, apresentado por Grace Gianoukas, vencedora em 2024 por “Nasci pra Ser Dercy”. “Em cena ou sozinho, quantos solos a gente tem aqui hoje, e é uma regência com a plateia. Sabe, eu costumo chamar os atores de encantadores de plateia, como o flautista de Hamelin. Então, interpretar é de uma delicadeza, é de uma sensibilidade, é de uma beleza. Humor precisa de muita sensibilidade e emocionar pessoas, fazer pessoas rirem não é pra qualquer um, né? A vida é muito difícil e a gente conseguir arrancar uma gargalhada de alguém, a gente tem certeza que tornou a cada dia a vida dessa pessoa um pouquinho melhor. Então, a arte de fazer rir é uma benção. Então, abençoados todos que trabalham no humor”, disse a humorista.

O vencedor foi Marcos Veras, por seu trabalho em “Insignificância”: “São 25 anos de carreira, e eu tô nervoso. E que bom, né, que a gente fica nervoso. Eu vou ser um pouquinho clichê, vou repetir aqui algumas palavras que as pessoas falaram sobre o Porchat, que é meu amigo há muito tempo, e é um cara apaixonado pelo que faz e pela comédia”, disse o ator que agradeceu ao produtor Rodrigo Velloni e aos colegas de elenco Cássio Scapin, Amanda Costa e Norival Rizzo. “A comédia é foda, a gente é foda. Então, muito, muitíssimo obrigado a todos os jurados aqui presentes e saindo daqui muito feliz mesmo. Viva o humor!”, comemorou o ator.

Melhor Espetáculo: Férias, com Drica Moraes e Fábio Assunção

Em um dos momentos mais esperados da noite, Cássio Scapin apresentou Melhor Espetáculo. Antes, contou que foi tolhido no começo da carreira por fazer as pessoas rirem. “Eu fazia teatro, e tudo fazia engraçado. Aí fazia, todo mundo achava graça. Os professores começaram a falar: ‘para de fazer palhaçada’. Fui fazer teatro sério e tudo mais. Mas a comédia é uma coisa maravilhosa. A gente que tem a comédia no sangue, você consegue inserir nos lugares mais impressionantes, mais improváveis, o tom da comédia. Porque a comédia é o respiro. Não há drama sem comédia. Se você não respirar com um alívio cômico, com uma diversão para o espectador, a coisa não anda tão direitinho. Então, para um espetáculo sério acontecer, a gente precisa do alívio cômico”, explicou.

O grande vencedor foi novamente “Férias”, estrelado por Drica Moraes e Fábio Assunção. “Eu fico muito feliz, isso aqui é o resultado de uma luta, de uma busca muito grande. Eu estava muito tempo longe do teatro e fui atrás do Jô Bilac, desenvolvi com ele essa história. Fui atrás dessa moça aqui, fui fazendo uma turma e essa peça aconteceu na raça  com Sandro Chaim botando dinheiro, sem patrocínio, então eu fico muito, muito feliz com esse prêmio. Tem a ver também essa coisa da tragédia e da comédia. Os gregos não inventaram um sorriso e uma carinha para baixo? Vocês sabem se já tinha esse cancelamento na época dos gregos? Porque assim, já estava escrito lá, não sei quantos milênios atrás, que era para ser bom quando é humor, é para ser valoroso e muito valoroso”, afirmou Drica, emocionada.

“Então assim, agradeço a todas essas pessoas que eu já falei e principalmente a existência desse prêmio. Porque Fábio Porchat inventou um lugar novo para o humor hoje. Eu fiquei muito impressionada quando a gente estreou, porque lá nos anos 1980, não tinha essa separação. Em que ponto que teve essa cisão, que foi abortado um pedaço da máscara, que foi tirado no teatro esse pedaço do humor? Então, agora o Fábio enxertou, fez um enxerto, um transplante de humor para o teatro. Obrigada, Fábio Porchat e todo mundo que se uniu para inventar esse prêmio. É muito importante para o teatro não ter só a cara triste. Mas a cara feliz também. Obrigada”, completou Drica Moraes.

Homenagem a Saulo Laranjeira

Por fim, Carlos Alberto de Nóbrega foi responsável por encerrar a noite com o grande homenageado desta edição, Saulo Laranjeira, que trabalha com ele há décadas em “A Praça é Nossa”. Antes, Porchat agradeceu aos grandes precursores do humor no Brasil que pavimentaram a estrada para que ele pudesse criar esse prêmio.

“Muita gente lá atrás veio abrindo um espaço para a gente chegar aqui e conseguir fazer. Eu lembro que um dia eu falei com o Chico Anísio, e eu disse: ‘olha, hoje em dia as pessoas, né, politicamente corretas, é difícil fazer um bolo?’. E ele falou: ‘meu filho, difícil era na Ditadura. A gente fazia por um censor que aprovava, meu filho. Então hoje só pode ser linchado, mas calma’. Então muita gente que já passou por tanta coisa, que já veio de tanta coisa e fez a gente chegar aqui hoje. E muito legal também, porque a gente sempre está olhando muito a comédia, a gente tem o Prêmio no Rio e em São Paulo, e é uma pena que a gente não tenha um circuito tão nacional, assim, para poder ter o Prêmio na Bahia, poder ter em todos os lugares”, disse Porchat.

Ele entao falou de Saulo Laranjeira: “Então quando a gente vê o trabalho dele em Minas e o que ele fez por tanta gente boa, os caminhos que ele abriu para tanta gente começando, é uma honra e um prazer estar aqui podendo homenagear. Mas, antes de a gente chamar ao palco e a gente aplaudir de pé e ovacionar, eu quero chamar uma pessoa para entregar o prêmio. Que acredito que seja uma pessoa muito especial para todos nós aqui. Então, para falar umas palavras, para apresentar e para receber os aplausos de vocês, Carlos Alberto de Nóbrega”.

Carlos destacou como Saulo entrou para o elenco de “A Praça é Nossa” quando o mesmo já estava cheio, mas rapidamente se destacou por sua piada política com bom humor, suavizando um tema delicado. Ele também lembrou que, quando Saulo foi fazer uma novela na Globo, Nóbrega disse para ele fazer e depois voltar ao humorístico, e assim ehue até os dias de hoje.

Ao receber a homenagem, Saulo Laranjeira declarou: “Eu preciso agradecer com muita alegria ao Carlos Alberto de Nóbrega por este convite na década de 80. E para participar da Praça, fazer parte do elenco. E eu era o mais jovem nessa época. Hoje eu sou o mais velho, não competindo com o Carlos. Então, é muito bom, é muito bom, eu estou muito feliz e agradeço muito ao Fábio por esse reconhecimento e tal. Isso nos fortalece muito. Eu tenho um compromisso. Na minha vida, uma missão muito séria, que é sempre estar saudando a cultura popular brasileira. Nesse meu compromisso eu não abro mão e eu preciso sempre dizer a importância que tem grandes autores da cultura popular, como Elomar Figueira Mello, como João Guimarães Rosa… Essa é a poesia, filosofia simples da gente do campo”, afirmou, emocionando a todos com um poema no final.

Com reportagem de Raphael Barboza

Blog do Arcanjo mostra quem esteve no Prêmio I Love Prio do Humor de Fábio Porchat em São Paulo

Editado por Miguel Arcanjo Prado

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Jornalista cultural influente, Miguel Arcanjo Prado dirige o Blog do Arcanjo desde 2012 e o Prêmio Arcanjo desde 2019. É Mestre em Artes pela UNESP, Pós-graduado em Mídia e Cultura pela ECA-USP, Bacharel em Comunicação pela UFMG e Crítico da APCA – Associação Paulista de Críticos de Artes, da qual foi vice-presidente. Eleito três vezes um dos melhores jornalistas culturais do Brasil pelo Prêmio Comunique-se. Passou por TV Globo, Grupo Record, Grupo Folha, Editora Abril, Huffpost Brasil, Grupo Bandeirantes, TV Gazeta, UOL, Rede TV!, Rede Brasil, TV UFMG e O Pasquim 21. Foi coordenador da SP Escola de Teatro. Integra o júri do Prêmio Arcanjo, Prêmio Jabuti, Prêmio Governador do Estado de SP, Sesc Melhores Filmes, Prêmio Bibi Ferreira, Destaque Imprensa Digital, Prêmio Guia da Folha e Prêmio Canal Brasil. Vencedor do Troféu Nelson Rodrigues, Prêmio Destaque em Comunicação ANCEC, Troféu Inspiração do Amanhã, Prêmio África Brasil, Prêmio Leda Maria Martins e Medalha Mário de Andrade Prêmio Governador do Estado, maior honraria na área de Letras de São Paulo.
Foto: Edson Lopes Jr.
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