Angela Ribeiro, atriz de Ainda Estou Aqui, celebra o Oscar e vive o drama de uma professora no teatro

Angela Ribeiro, atriz do filme Ainda Estou Aqui, faz peça Belmira no Sesc Ipiranga em SP ©  Brendo Trolesi Divulgação Blog do Arcanjo 2025

Por MIGUEL ARCANJO PRADO
@miguel.arcanjo

Colaborou Felipe Rocha

Paraense radicada em São Paulo, a premiada atriz Angela Ribeiro chega aos 49 anos colecionando uma carreira de sucesso. Um trabalho que abrilhanta ainda mais seu currículo é sua participação no longa vencedor do Oscar de Melhor Filme Internacional neste ano e primeiro Oscar do Brasil, Ainda Estou Aqui, em que contracenou junto com a totalmente indicada ao Oscar Fernanda Torres. No longa, ele deu à vida a uma personagem super importante: Manuela Carneiro da Cunha, uma professora e antropóloga que se torna uma aliada importante de Eunice Paiva (Fernanda Torres) na luta pelos direitos indígenas. Agora, logo depois de ter feito parte do filme de Walter Salles, que ainda está em cartaz nos cinemas de todo o País, Angela já tem um novo papel à vista: no espetáculo Belmira, atualmente em cartaz em São Paulo, no Sesc Ipiranga, no qual ela interpreta mais uma vez uma professora, dessa vez chamada Marta, sobrevivente de um atentado escolar. O Blog do Arcanjo traz a seguir uma entrevista exclusiva que Angela Ribeiro concedeu ao repórter Felipe Rocha. Ela celebra a vitória do Oscar para o Brasil e compartilha detalhes do novo trabalho. Confira a seguir e veja no final da entrevista informações sobre o espetáculo.

Entrevista com Angela Ribeiro

Angela Ribeiro está em cartaz no teatro como Marta no espetáculo Belmira © Brendo Trolesi Blog do Arcanjo 2025

Blog do Arcanjo – Felipe Rocha – Como foi a experiência de participar do Ainda Estou Aqui e ver o filme ganhando o Oscar?
Angela Ribeiro Participar do filme Ainda Estou Aqui foi um acontecimento muito importante na minha vida. Primeiro porque desde o começo eu já achei o filme um filmaço devido ao roteiro, desde o convite para fazer a personagem Manuela Carneiro da Cunha. Embora ela apareça brevemente no filme, ela tem uma grande parceria com a Eunice. Então, o trecho do filme é uma parte do todo, porque teve a experiência de eu ir para o Rio, de passar uma manhã com a Fernanda Torres conversando sobre o roteiro, sobre a amizade delas duas, sobre o ativismo delas duas ali lutando pelos direitos dos pataxós contra os grileiros. Então, fazer esse personagem pra mim foi muito emocionante, porque eu fui atrás da história da Manuela, eu conheci a Manuela pessoalmente no dia da filmagem, ela foi no set, ela está naquela cena escondidinha ali entre os alunos. Ter conversado com a Fernanda, o Walter, ele é muito doce, muito gentil, muito cuidadoso, então ele pediu que a gente olhasse para o roteiro, que a gente desse a nossa opinião sobre o que era melhor de ser mantido ali, no sentido da importância do ativismo das duas. Então, foi uma experiência arrebatadora. E ver o filme ganhando o Oscar foi uma emoção imensa. Eu acho que isso, pra gente, é um marco na história do cinema. Um filme brasileiro ganhar o Oscar! Eu também acho que a Fernanda deveria ter ganho, penso que o trabalho dela é primoroso no filme, mas eu me sinto emocionada, me sinto parte disso, e esse Oscar também é meu. Um Oscar de todos nós, que somos brasileiros, brasileiras, mas especialmente por estar no filme, eu sinto que esse Oscar tá aqui na minha prateleira também.


Blog do Arcanjo – Felipe Rocha – Como é a sua nova personagem no espetáculo Belmira?
Angela Ribeiro A Belmira tem muito de mim: eu adoro contar histórias. No espetáculo, eu não faço, a Belmira, mas a Marta, que é uma outra professora da escola onde a Belmira dava aula. E aí elas têm um encontro muito bonito: de duas professoras, a Marta, que é professora de artes, e a Belmira, que é uma professora de história. Então a Marta é uma professora do Pará, que veio pra São Paulo entrar na área da educação, e que tem como grande referência na educação a Dona Onete, essa cantora paraense que foi professora até os 70 anos, antes dela se tornar a rainha e cantora do carimbó chamegado. Ela foi professora, ativista e lutou contra a ditadura. Então, a Marta tem essa grande referência, e um desejo muito grande de apresentar a cultura dela aqui pro Sudeste. Então é essa professora que vem pra falar da importância de você olhar pra outros lugares do Brasil, pra você olhar pro estrangeiro e acolher.

Blog do Arcanjo – Felipe Rocha – O que o público pode esperar?
Angela Ribeiro O público pode esperar um espaço de reflexão sobre a educação, sobre o que é você ser um estrangeiro em São Paulo, como você se sentir parte do contexto, e pensar sobre o afeto, o amor, porque é uma peça que também fala de amor. Como que esse amor entre essas duas personagens sustenta o lugar delas dentro de uma escola. Como que você, ali, quando você tem uma parceria muito forte, consegue sobreviver a outras coisas e resistir a outros espaços ali de luta. E sair pensando também o quão a educação é importante na formação de um ser humano. A gente sabe disso, mas às vezes a gente esquece, o mundo atropela e não dá tempo de a gente pensar nisso.

A atriz Angela Ribeiro © Rafa Marques Blog do Arcanjo 2025


Blog do Arcanjo – Felipe Rocha – Qual a importância de Belmira na sua carreira?
Angela Ribeiro –
O espetáculo Belmira tem uma importância muito grande. Primeiro porque fala de uma parceria minha também com a Carla Zanini, que é uma grande irmã, parceira, amiga, que fez EAD comigo. Temos uma diferença de idade muito grande, mas pensamos muito parecido, em muitos lugares, sobre o que queremos dizer como dramaturgas, embora nessa peça eu esteja como atriz. A Belmira tem essa importância porque ela traz os contornos da minha identidade em São Paulo. Ela me fez retomar muitas coisas que eu precisei durante muito tempo. Nunca disfarcei a minha identidade, mas para me inserir eu precisava ser igual as pessoas daqui, né, e eu tenho uma identidade, então eu acho que a Belmira ela me faz ter de uma maneira mais corajosa, mais autêntica, falar sobre a minha origem, dentro de um lugar que eu prezo tanto que é a educação.

Blog do Arcanjo – Felipe Rocha – Como você define o diálogo que a peça estabelece com a educação no Brasil e os professores?
Angela Ribeiro –
O espetáculo estabelece um diálogo direto. Eu acho que depois dessa primeira semana de estreia, a gente pôde perceber muitos educadores e educadoras foram assistir e saíram muito mexidos, porque muitos deles já passaram por uma situação de uma peça fala de Burnout, da precariedade da educação, de como está sendo sucateado, tal qual a cultura. Então é para a gente repensar mesmo esses valores, como que a gente consegue se manter vivo, consegue sobreviver dentro de um espaço, às vezes tão hostil, de tanta guerra. Como que a gente consegue fazer com que os alunos prestem atenção na gente, mesmo com celular, porque o celular foi proibido, mas tem escolas aí públicas que os alunos seguem usando o celular. E particulares também, que os alunos vão para dentro da escola e usam o celular no banheiro. Então, como que a gente consegue criar novos formatos para que a aula seja interessante, seja algo que o aluno e que a aluna, eles queiram estar ali, eles queiram estar dentro daquele espaço. Como que a gente pensa juntos isso, sabe? Porque não dá para os educadores e educadoras pensarem e resolverem isso sozinhos, é muito difícil. É um lugar de resistência difícil, mas que a gente tem que pensar nisso coletivamente. Olhar para trás, ver quem foram os nossos educadores e educadoras importantes, para que a gente possa repensar, lembrar a importância disso na nossa vida, para que a gente possa se unir e fazer com que isso seja possível.

Belmira

Sinopse
Marta, uma professora paraense sobrevivente de um atentado escolar, compartilha suas reflexões sobre educação e o seu vínculo com a enigmática professora Belmira. Embaladas por ritmos paraenses, as memórias emergem da relação entre as duas na tentativa de elaboração do trauma vivido.

Com atuação de Angela Ribeiro e texto e direção de Carla Zanini
Temporada: 13 de março a 06 de abril. Apresentação na quinta somente dia 13, às 21h30.
Temporada sexta, às 21h30; e sábados e domingos, às 18h30.
Sesc Ipiranga – Rua Bom Pastor, 822, Ipiranga
Ingressos: R$50 (inteira), R$25 (meia-entrada) e R$15 (credencial plena)
Ingressos disponíveis no aplicativo Credencial Sesc SP, site centralrelacionamento.sescsp.org.br e presencialmente nas bilheterias das unidades do Sesc SP.
Classificação: 18 anos
Duração: 80 minutos
Acessibilidade: teatro acessível a cadeirantes e pessoas com mobilidade reduzida

Editado por Miguel Arcanjo Prado

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Jornalista cultural influente, Miguel Arcanjo Prado dirige o Blog do Arcanjo desde 2012 e o Prêmio Arcanjo desde 2019. É Mestre em Artes pela UNESP, Pós-graduado em Mídia e Cultura pela ECA-USP, Bacharel em Comunicação pela UFMG e Crítico da APCA – Associação Paulista de Críticos de Artes, da qual foi vice-presidente. Eleito três vezes um dos melhores jornalistas culturais do Brasil pelo Prêmio Comunique-se. Passou por TV Globo, Grupo Record, Grupo Folha, Editora Abril, Huffpost Brasil, Grupo Bandeirantes, TV Gazeta, UOL, Rede TV!, Rede Brasil, TV UFMG e O Pasquim 21. Foi coordenador da SP Escola de Teatro. Integra o júri do Prêmio Arcanjo, Prêmio Jabuti, Prêmio Governador do Estado de SP, Sesc Melhores Filmes, Prêmio Bibi Ferreira, Destaque Imprensa Digital, Prêmio Guia da Folha e Prêmio Canal Brasil. Vencedor do Troféu Nelson Rodrigues, Prêmio Destaque em Comunicação ANCEC, Troféu Inspiração do Amanhã, Prêmio África Brasil, Prêmio Leda Maria Martins e Medalha Mário de Andrade Prêmio Governador do Estado, maior honraria na área de Letras de São Paulo.
Foto: Edson Lopes Jr.
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