Ator Alan Rocha celebra dose dupla no cinema com Fernanda Torres e Fernanda Montenegro
Por MIGUEL ARCANJO PRADO
@miguel.arcanjo
Colaborou Felipe Rocha
Imagine ter o privilégio de contracenar com Fernanda Montenegro e Fernanda Torres. A primeira sendo a diva da dramaturgia e do cinema nacional e a segunda sendo a atriz totalmente indicada ao Oscar deste ano. Esse é o caso do ator Alan Rocha, que aos 44 anos, coleciona grandes realizações na sua carreira: além de estar em cartaz em dose dupla no cinema, ele contracenou com essa dupla icônica de mãe e filha nos filmes Ainda Estou Aqui e Vitória, vivendo dois jornalistas diferentes. Em entrevista ao Blog do Arcanjo, ele conta como foi essa experiência e adianta detalhes dos seus próximos projetos.
No filme Ainda Estou Aqui, dirigido por Walter Salles, que estreou nos cinemas no ano passado e permanece em cartaz, Alan Rocha faz uma participação rápida, porém significativa para a personagem de Fernanda Torres, Eunice Paiva. Na trama, ele é o repórter que bate à porta de Eunice logo depois do desaparecimento de Rubens Paiva para fazer um registro da família. Na cena icônica, Eunice contraria seu pedido, dando a ordem para que os filhos sorriam.
Já em Vitória, que acabou de estrear nos cinemas, dirigido por Andrucha Waddington e com Fernanda Montenegro no papel principal, Alan Rocha interpreta Fábio Gusmão. Trata-se de um repórter que ajuda a personagem de Fernanda a revelar os crimes cometidos numa favela carioca.
Leia a seguir a entrevista com o ator Alan Rocha.
Entrevista com Alan Rocha
Blog do Arcanjo – Felipe Rocha – Como é contracenar com a Fernanda Montenegro e Fernanda Torres fazendo o papel de um jornalista?
Alan Rocha – Bem, então, o contracenar com as duas “Fês”, né? São duas pessoas de muita experiência no audiovisual e no teatro. E as duas como protagonistas e eu como jornalista. O filme Vitória eu filmei primeiro do que Ainda Estou Aqui. Então, já fui de cara contracenando com a Dona Fernandona, mas o bom foi que eu tive alguns ensaios com ela. Depois que eu fiz o teste, eu tive um outro teste que foi diretamente com ela e nesse encontro rolou uma química muito forte, a ponto da gente começar a improvisar e a equipe que estava ao nosso redor achar que estava acontecendo mesmo, a gente estava improvisando e enfim, rolou uma química muito bacana e bonita. Então, acho que depois desse dia, a Dona Fernanda meio que carimbou o meu passaporte para o filme, praticamente ela que me escolheu para fazer o filme, junto com a direção, mas ela com certeza foi o nome principal para me escolher. Então depois fui fazer com a Fernanda [Torres]. Então já tinha a Fernanda [Torres], a esposa do diretor que fez o Vitória, ela já tinha passado lá pelo set rapidamente, então já tinha sido apresentado para ela. No Ainda Estou Aqui, só tive duas cenas com ela, mas foi super importante. Foi um pouco da experiência que eu tive com o jornalista do Vitória para trazer um pouco do lugar e da sensação de perigo também no Ainda Estou Aqui. São jornalistas diferentes, mas que têm características um pouco parecidas.
Blog do Arcanjo – Felipe Rocha – Como é participar do Ainda Estou Aqui, que ganhou o Oscar?
Alan Rocha – Eu me sinto privilegiado por fazer parte de um filme vencedor do Oscar, o primeiro filme que ganhou o Oscar do Brasil, então o momento histórico do Brasil é um momento muito importante e emblemático para a minha carreira como ator. Mas o Ainda Estou Aqui foi um filme muito necessário que conta um momento triste da história do Brasil e é importante que isso seja lembrado e que as pessoas possam refletir sobre tudo isso que ocorreu nessa época. Então, fazer parte dessa história e desse filme é contar um pouco da história, é agradecer e ter tido a felicidade de participar desse filme porque eu acho que eu tive a sorte e o desejo que muitos atores gostariam de ter tanto de atuar no Ainda Estou Aqui quanto contracenar com dona Fernanda Montenegro. Eu tive a honra, a glória, a graça e um presente de fazer parte desses dois trabalhos e desses dois sonhos de muitas pessoas.
Blog do Arcanjo – Felipe Rocha – Como foi sua preparação para fazer o filme Vitória?
Alan Rocha – Então, a minha preparação, depois que eu fiz o teste, eu tive alguns encontros com a Dona Fernanda antes de começar a filmar. E nesse período, eu pedi para a produção para conversar com o Fábio Gusmão, que é o repórter que eu irei interpretar, no meu caso, como Flávio Godoy. Então, eu falei que a produção queria conversar com ele, então quando fui conversar com ele na redação, eu já pensei assim: eu tenho que me comportar como o jornalista faria. Então, eu pensei em pegar meu celular e falei: posso pegar meu celular e gravar? Ele disse que sim. Aí eu comecei a pensar como jornalista e fazendo algumas perguntas. Então, isso foi muito fundamental, de estar com ele, porque eu gosto de respirar um pouco do universo que eu vou entrar quando eu vou fazer meu personagem. Então, eu leio algumas histórias, alguns fatos. Então a minha preparação é como um ator que gosta de correr atrás disso, gosta de respirar o universo onde vai pisar. Aí nisso juntou com o que eu gosto de trazer no meu caso como ator e isso se misturou com o que eu respirei. E o resultado tá na tela! Assim, tive muitos retornos positivos e só tenho a agradecer por fazer parte desse trabalho e de ter conhecido de perto o Fábio Gusmão, ter ensaiado, se relacionado com dona Fernanda, ter trabalhado com o Andrucha, que é um gênio do audiovisual. E poder ter vivido muitos dias, muitas semanas com toda essa equipe super carinhosa que me acolheu super bem nessa fase desse trabalho!
Blog do Arcanjo – Felipe Rocha – Como Fernanda Montenegro te ajudou no seu personagem em Vitória?
Alan Rocha – A Dona Fernanda é aquele poço de generosidade. Dona Fernanda é uma mãe natureza que é feito uma cachoeira, ela vem mostrando pra gente o quanto que ela não quer parar e tá fazendo cinema, tá fazendo teatro no auge dos seus 95 anos. Então, todo esse tipo, todo esse comportamento dela de estar na ativa, do jeito que ela chega no set, do jeito que ela se comporta, do jeito que ela troca com a gente e nos toca, nos encanta e dá dicas, mostra o quanto que ela é generosa, o quanto que ela é acolhedora, o quanto que ela é mãe natureza. O quanto que ela, como cachoeira, vem jogando água nessas sementes que somos nós que a gente vai se energizando e recebendo essa força, essas aulas. Essa água pra crescer e ser um ator melhor. Então, isso foi o que eu fui sentindo. Desde o momento que ela chega no set, ela traz isso e é importante a gente observar esses nossos mais velhos. No meu caso com a dona Fernanda, observar e aprender com eles, que vêm de uma história muito antiga de praticamente criar a TV brasileira e o teatro brasileiro. E eu fico muito feliz de ter convivido com ela e ter aprendido cada vez mais com elas, com vários toques que ela deu e ter ensaiado bastante com ela foi muito importante pro meu crescimento como artista e pro personagem do Fábio Gusmão.
Blog do Arcanjo – Felipe Rocha – Quais seus próximos projetos? Você vai continuar fazendo musical e interpretando Martinho da Vila?
Alan Rocha – Nesse momento eu tô fazendo a direção de uma peça que vai estrear no sul, tô aguardando a estreia do filme Um Lobo Entre os Cisnes, que conta a história do bailarino Thiago Soares, onde eu interpreto o Júlio, que é o professor de hip-hop que leva ele pro balé, e tô vendo as possibilidades de novos trabalhos. O Martinho não tem previsão de volta, então a gente tem que se organizar para poder trabalhar e continuar no nosso ofício. Eu, no meu caso, no meu ofício, eu gosto muito de fazer arte. Então, quando pintar trabalho, eu fico com muita vontade, muito desejo de fazer parte e caminhar nessa estrada porque tem muita coisa ainda para fazer e construir.
Editado por Miguel Arcanjo Prado
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Jornalista cultural influente, Miguel Arcanjo Prado dirige o Blog do Arcanjo desde 2012 e o Prêmio Arcanjo desde 2019. É Mestre em Artes pela UNESP, Pós-graduado em Mídia e Cultura pela ECA-USP, Bacharel em Comunicação pela UFMG e Crítico da APCA – Associação Paulista de Críticos de Artes, da qual foi vice-presidente. Eleito três vezes um dos melhores jornalistas culturais do Brasil pelo Prêmio Comunique-se. Passou por TV Globo, Grupo Record, Grupo Folha, Editora Abril, Huffpost Brasil, Grupo Bandeirantes, TV Gazeta, UOL, Rede TV!, Rede Brasil, TV UFMG e O Pasquim 21. Foi coordenador da SP Escola de Teatro. Integra o júri do Prêmio Arcanjo, Prêmio Jabuti, Prêmio Governador do Estado de SP, Sesc Melhores Filmes, Prêmio Bibi Ferreira, Destaque Imprensa Digital, Prêmio Guia da Folha e Prêmio Canal Brasil. Vencedor do Troféu Nelson Rodrigues, Prêmio Destaque em Comunicação ANCEC, Troféu Inspiração do Amanhã, Prêmio África Brasil, Prêmio Leda Maria Martins e Medalha Mário de Andrade Prêmio Governador do Estado, maior honraria na área de Letras de São Paulo.
Foto: Edson Lopes Jr.
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