★★★★ Crítica: Marina Sena incendeia Espaço Unimed lotado na estreia da turnê Coisas Naturais em SP: ‘Subi um dregrau grande’
Por MIGUEL ARCANJO PRADO
@miguel.arcanjo
★★★★
MARINA SENA – COISAS NATURAIS
Avaliação: Muito Bom
Crítica por Miguel Arcanjo Prado
@amarinasena
Marina Sena subiu um importante degrau em sua carreira neste sábado, 26 de abril, quando pisou no palco e incendiou o Espaço Unimed, grande templo da música brasileira e internacional na Barra Funda, em São Paulo, na estreia da turnê de seu terceiro álbum, Coisas Naturais, lançado há menos de um mês. Com ingressos esgotados em um encontro arrebatador, o público cantou uníssono todas as 13 novas faixas do disco e também outros 10 hits pinçados nos dois álbuns anteriores, totalizando 23 canções no show. Marina demonstrou farto domínio de palco e do público, com rara naturalidade e o carisma brejeiro que lhe é intríseco. Afinal, a autenticidade fruto da rara mistura de referências que a forjou é a sua maior dádiva.
Do inesquecível De Primeira (2021), voltaram quatro: Me Toca, Pelejei e Por Supuesto e Voltei pra Mim, enquanto que de Vício Inerente (2023), estiveram no repertório seis canções: Que Tal, Tudo pra Amar Você, Dano Sarrada, Partiu Capoeira, Pra Ficar Comigo e Mande um Sinal.
Ao ver a casa abarrotada, mesmo em noite que a apenas um quilômetro dali ninguém menos que Gilberto Gil fazia seu megashow de despedida Gil Tempo Rei no Allianz Parque, Marina Sena ficou emocionada.
“Que lindo, gente, eu tô chocada que eu lotei o Espaço Unimed. É a primeira vez que subo nesse palco”, disse, ao ver o público cantando a plenos pulmões Coisas Naturais, a primeira das 23 canções do setlist de uma hora e meia de show, iniciado por volta das 23h30, do sábado, 26, e que terminou próximo à 1h da madrugada de domingo, 27 de abril de 2025.
A segunda canção foi Numa Ilha, o primeiro single de Coisas Naturais, lançado no último verão. “Boa noite, São Paulo, que delícia. Eu tava morrendo de saudade”, disse, antes de voltar no tempo e fazer uma dobradinha com Me Toca, o primeiro single do De Primeira, lançado há quarto anos.
Aí foi a vez de todo o seu “jeitim” em Que Tal animar o público, assim como Pelejei, aquela que ela não ouvia o que a mãe dizia, para emendar com a nova balada radiofônica Sem Lei, seguida de Tudo pra Amar Você, com sua coreografia feita para o TikTok.
“Eu realmente faço música para vocês, mesmo. Eu penso em cada um de vocês. Eu preciso representar essas pessoas. Se está aqui é porque é tudo safado, apaixonado. O disco acabou de sair e vocês já estão cantando. É muito massa, isso”, falou, levando o público ao delírio.
Marina então cantou o novo reggae Combo da Sorte e o hit que a viralizou no primeiro álbum, catapultando a mineira de Taiobeiras, no Norte de Minas, ao estrelato nacional: Por Supuesto.
Depois, foi a vez de Marina Sena avisar: “Nessa tem de abraçar o amigo”, antes de cantar Mágico, a balada solar do novo disco que diz em seu refrão: “Você tá precisando mesmo de um amigo, eu posso ser seu guia, te buscar de madrugada, pra dar um giro, ver a cidade comigo, no final de semana a gente toma uma gelada”.
Outro charme foi a participação do grupo caribenho Çantamarta na faixa Doçura, repetindo no palco o feat do álbum. “Eles vieram direto de Madri. Eu convidei e eles responderam: ‘bora’, e vieram. Inclusive, vão ficar esssa semana inteira e vamos armar vários rolês por São Paulo”, revelou Marina.
“Eu já amava o Çantamarta antes do De Primeira, onvindo Lluvia, que, inclusive, foi a música que inspirou Doçura. Eu ficava postando Lluvia rebolando no stories e numa dessas postagens a gente se seguiu. E aí na hora de fazer um novo álbum eu pensei: ‘cara, vou chamar o Çantamarta'”, recordou.
Cada vez mais bonita e mulherão, Marina foi chamada de “gostosa” por um fã, antes de ganhar um LP do Grupo Raízes, do Norte de Minas: “Você vai me dar? Eu não acredito. Véi, você não tem noção que esse é um dos melhores presentes que eu ganhei na vida. Gente, esse é um vinil do Grupo Raízes, que eu adoro, lá do Norte de Minas, de Montes Claros, dos anos 1960, 1970, de rock rural psicodélico, que me inspira muito. Inclusive essa música Doçura, que tem “óia lá, boi andou”, é um sample do Grupo Raízes, Esse disco está tentre os top 3 presentes que recebi na vida. E todos eles foram dados por fãs. Vocês sabem me presentear. Muito, muito obrigada”.
Na sequência vieram as canções Lua Cheia, o arrocha arretado do novo álbum, e Partiu Capoeira, do disco anterior e que marcou a entrada no palco do único dançarino da turnê, Kastelar, com seu gigando capoeirista e que vai se alternar com Daniel Cavalheiro na turnê.
No mesmo clima, cantou Tokito e Sensei, antes de Desmistificar, musica que jogou a energia do show lá no alto. Subindo ainda mais o tom da festa, veio o funk Carnaval com seu refrão chiclete: “Quer tapa, toma tapa”.
Depois de tanta energia em riste, o clima começou a ficar mais denso com a chegada de Dano Sarrada, também de Vício Inerente.
Um dos momentos mais fortes do show veio na sequência, com Marina Sena cantando literalmente com a cara na sarjeta a doída canção Pra Ficar Comigo, também de Vício Inerente, na qual avisa: “O meu coração não vou deixar virar cimento”. Ao fim, agradeceu o público pela acolhida energética durante a catarse coletiva.
“Obrigada por estarem aqui neste momento tão importante na minha vida. Eu faço música para vocês. Eu penso em cada um de vocês quando escrevo uma canção, querendo representar o que vocês sentem, o que vocês querem cantar também. Muito obrigada por não deixarem meu coração virar cimento. Se tem uma coisa que me mantém viva é essa fé que vocês depositam em mim, essa mesma energia que me acompanha desde os tempos de A Outra Banda da Lua. Coisas Naturais já está no mundo e é de vocês”, falou a musa.
Então, veio a vez de chamar para perto André Oliva, o Dedé, parceiro dos tempos de A Outra Banda da Lua, para o momento violão e voz do show, lembrando suas origens, quando gostava de tocar e cantar violão na pracinha. Foi a vez das românticas Voltei pra Mim, Mande Um Sinal e Anjo, esta última o hit romântico de Coisas Naturais.
“Eu preciso de Dedé nesse show, porque ele tem um jeito no violão que é só dele. Eu consigo interagir muito com ele no show, sempre tenho ele como um ponto de apoio e era assim na A Outra Banda da Lua. A gente sempre teve essa conexão muito forte e eu quis trazer para a turnê de Coisas Naturais. Não consigo imaginar esse show sem Dedé”, pontuou.
Com uma banda potente formada por excelentes músicos, Marina circulou segura e dona do palco, com o foco absoluto nela. Se o balé saiu de cena, entrou em cena uma diversidade de instrumentos: violão, guitarra, bateria, percussão, trompete, trombone, sax barítono, flugel, sax tenor, flauta, baixo e synth bass.
Brilharam em cena virtuosos músicos como o baixista Levy Santiago, único remanescente da turnê original do De Primeira, e o guitarrista e violonista André Oliva, companheiro dos tempos de A Outra Banda da Lua, além de Migga Freitas, filho de Carlinhos Brown, na bateria, entre outros.
A direção criativa da turnê é assinada por Vito Soares, profissional que acompanha a trajetória de Marina Sena desde os primórdios, sendo uma das pessoas em quem a artista mais confia. Na visão do criativo, o show é “pensado para ser feito à mão, orgânico e sem camadas que se escondam o que se passa em cena”, com “tudo ao vivo e para ser visto”, como o público pôde acompanhar no cinema ao vivo feito pela câmera de Fernanda Fiuza, que revelou inclusive Marina tomando água e cuidando da voz no backstage antes de cantar Ouro de Tolo, a depuratória canção derradeira do show, com sua intensa declamação para exorcizar o fim de um grande amor.
Ao fim do show, Marina Sena falou com exclusividade ao Blog do Arcanjo em seu camarim. “Eu estou muito feliz de ter feito esse show. Porque estreia é sempre um medo, um nervosismo de entender quem vai ser você em cima desse palco. Eu vi uma resposta muito positiva. E as pessoas cantando tudo. Tem menos um mês que saiu o álbum e as pessoas cantando tudo. Para o artista esta é a melhor sensação”, confidenciou.
“Estou muito feliz. Foi tão bom quanto eu esperava. Eu estou muito livre em cima do palco nesse show. É uma proposta muito diferente, não tem tanta coreografia, vai no sentimento do momento. Estou mais solta. Isso me potencializa muito. Eu sinto que eu consigo dar mais de mim”, avaliou.
Nesse show ela subiu um novo degrau na carreira? Marina Sena responde: “Eu acho que sim. Mas, para além de tudo, tem mais pessoas se conectando de verdade com o que eu estou fazendo. E isso realmente é a coisa mais importante. A minha carreira é tudo degrauzinho por degrauzinho, você acompanha desde A Outra Banda da Lua, então você sabe como é que é, eu realmente respeito o tempo das coisas, o público também tem o tempo específico para compreender o que eu estou fazendo. Então, eu sinto que a cada degrau eu estou subindo. E hoje, com certeza, eu subi um degrauzinho, um degrau grande. E eu espero me manter e subir mais”.
★★★★
MARINA SENA – COISAS NATURAIS
Avaliação: Muito Bom
Crítica por Miguel Arcanjo Prado
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Blog do Arcanjo lembra carreira de Marina Sena com imagens de arquivo
Editado por Miguel Arcanjo Prado
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Jornalista cultural influente, Miguel Arcanjo Prado dirige o Blog do Arcanjo desde 2012 e o Prêmio Arcanjo desde 2019. É Mestre em Artes pela UNESP, Pós-graduado em Mídia e Cultura pela ECA-USP, Bacharel em Comunicação pela UFMG e Crítico da APCA – Associação Paulista de Críticos de Artes, da qual foi vice-presidente. Eleito três vezes um dos melhores jornalistas culturais do Brasil pelo Prêmio Comunique-se. Passou por TV Globo, Grupo Record, Grupo Folha, Editora Abril, Huffpost Brasil, Grupo Bandeirantes, TV Gazeta, UOL, Rede TV!, Rede Brasil, TV UFMG e O Pasquim 21. Foi coordenador da SP Escola de Teatro. Integra o júri do Prêmio Arcanjo, Prêmio Jabuti, Prêmio Governador do Estado de SP, Sesc Melhores Filmes, Prêmio Bibi Ferreira, Destaque Imprensa Digital, Prêmio Guia da Folha e Prêmio Canal Brasil. Vencedor do Troféu Nelson Rodrigues, Prêmio Destaque em Comunicação ANCEC, Troféu Inspiração do Amanhã, Prêmio África Brasil, Prêmio Leda Maria Martins e Medalha Mário de Andrade Prêmio Governador do Estado, maior honraria na área de Letras de São Paulo.
Foto: Edson Lopes Jr.
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