Antônio Pitanga é reverenciado na Mostra de Cinema de Tiradentes com Malês e constrói legado de amor

Antonio Pitanga brilha em Tiradentes com seu filme Malês – Leo Fontes Universo Produção Divulgação Blog do Arcanjo 2025

Por MIGUEL ARCANJO PRADO
@miguel.arcanjo

Enviado especial a Tiradentes, Minas Gerais*

Reportagem de FELIPE ROCHA**

Grande ator do cinema brasileiro, Antônio Pitanga circula com simpatia pela 28ª Mostra de Cinema de Tiradentes. O artista consagrado, que já foi homenageado no evento em 2020 ao lado da filha, Camila Pitanga, neste ano está acompanhado do seu filho Rocco Pitanga e da esposa Benedita da Silva. Ele apresenta seu filme como diretor e ator ao lado dos filhos no evento, Malês, e também atua em Margeado, longa do capixaba Diego Zon.

Camila neste ano não pôde comparecer, pois está envolvida com a divulgação da próxima novela da Max, Beleza Fatal, na qual é a vilã Lola.

Antônio Pitanga e Benedita da Silva na 28ª Mostra de Cinema de Tiradentes – Leo Lara Universo Produção Divulgação Blog do Arcanjo 2025

Em conversa com o Blog do Arcanjo, Antônio Pitanga compartilhou detalhes sobre a carreira e do seu filme Malês, que foi exibido com sucesso no Cine Praça, ao ar livre, na Mostra.

Experiência, sabedoria e simpatia definiram a troca entre Antônio Pitanga e o público na sessão.

Antônio Pitanga no começo da carreira – Divulgação Blog do Arcanjo 2025

Uma das figuras mais relevantes do cinema nacional, Antônio Pitanga tem 85 anos e é um dos mais longevos atores em exercício no Brasil, ao lado de nomes como Fernanda Montenegro, Nathalia Timberg e Othon Bastos.

Natural da Bahia, no bairro histórico do Pelourinho, na cidade de Salvador, seu nome de batismo é Antônio Luiz Sampaio. O sobrenome artístico Pitanga vem do seu papel no filme Bahia de Todos os Santos, de José Trigueirinho Netto, em 1960.

Antônio Pitanga e Benedita da Silva na 28ª Mostra de Cinema de Tiradentes – Leo Lara Universo Produção Divulgação Blog do Arcanjo 2025

Desde 1992, é casado com a 59ª governadora do Rio de Janeiro, primeira mulher negra na história ao exercer o cargo, e atual deputada Benedita da Silva, uma das políticas e ativistas sociais mais importantes do Brasil, filiada ao partido dos trabalhadores (PT), que o acompanha em Tiradentes, onde recebeu homenagem na abertura do evento.

Com mais de 70 filmes na sua carreira, além de sua participação em diversas novelas como “A Próxima Vítima” (1995), onde ao lado de Zezé Motta liderou a primeira família negra de classe média alta da teledramaturgia, “O Clone” (2001) e “Celebridade” (2003), Pitanga é considerado um dos principais atores do Cinema Novo, movimento que marcou o cinema brasileiro na década de 1960.

Antônio Pitanga com a filha Camila Pitanga na Mostra de Cinema de Tiradentes em 2020, quando foram homenageados pelo evento em Minas Gerais – Leo Lara Universo Produção Divulgação Blog do Arcanjo 2025

Sendo assim, seu pionerismo é marcante: foi um dos primeiros artistas negros a dirigir filmes nacionais. Além de atuar pela causa negra no cinema, Pitanga também é membro do conselho do Centro Brasileiro de Informação e Documentação do Artista Negro (CIDAN), organização idealizada pela atriz Zezé Motta, que promove a inserção do artista negro no mercado.

Bastante condecorado, já recebeu a Medalha Zumbi dos Palmares, honraria concedida a cidadãos que ao longo da sua história, lutaram para defender a cultura afrodescendente, no combate ao racismo e lutando contra a intolerância religiosa.

Fonte de inspiração

Antônio Pitanga constitui uma grande fonte de inspiração pelo seu trabalho e filosofia de vida, como conta o filho Rocco Pitanga: “A cada dia eu me surpreendo com o tamanho de Antônio Pitanga. Ele é um malê, ele é um provocador que gosta de estar buscando boas histórias. É uma emoção muito grande e um prazer estar ao seu lado. Porque ter dentro de casa uma pessoa que tem uma força, que tem envolvimento com o cinema, é completamente motivador e influenciador. É bastante legal e interessante, mas enfim, é meu pai, também, né?”.

Antônio Pitanga apresenta Malês na 28ª Mostra de Cinema de Tiradentes – Jackson Romanelli Universo Produção Divulgação Blog do Arcanjo 2025

Legado

Questiinado pelo Blog do Arcanjo sobre o legado que constrói, Antônio Pitanga afirma: “O legado eu acho que é a história da gente, a caminhada da gente, desde o Cinema Novo, na nossa formação de cabeça, na questão democracia, política, racial, direitos humanos, relações humanas. Então, para mim, esse é o maior legado. É um amor que a gente traz e afeto que a gente distribui. Eu acho que arte é isso. De 80 e tantos filmes, é esse carinho, esse abraço, essa relação humana. Então, eu acho que esse é o maior legado. Os filmes ficam exatamente para essas pessoas que entendem o nosso gesto e a maneira de viver. O legado é de amor. Amor à arte, acima de tudo. Amor ao ser humano”, afirma o grande ator e diretor.

Questionado sobre um conselho que daria para quem está iniciando a profissão, Pitanga enfatiza: “Estude. Mergulhe no estudo. Procure, se ache, pesquise. Referências já vêm de décadas. São muito fortes. Por exemplo, a minha referência é Luiz Gama, Ruth de Souza, Léa Garcia. Se eu não estudo, eu não vou entender a juventude. Não vou saber qual leitura de vida eles têm. Então, eu acho que as referências são muito ricas. Da vida, que serve para sempre”, ensina.

Malês

Na Mostra de Cinema de Tiradentes, foi exibido seu filme “Malês” (2024), roteirizado por Manuela Dias, que está sendo um sucesso, pois lança um olhar humano e sensível à história dos escravizados e mostra como eles se organizaram para resistir à escravidão. O longa, exibido no Festival do Rio e em universidades dos Estados Unidos, retrata a histórica Revolta dos Malês de 1835, em Salvador, que levantou pautas contra a escravidão, o racismo extremo e a intolerância religiosa. A produção também trata da união entre povos de tribos e religões diferentes para combater a escravidão.

A respeito do seu filme, Antônio Pitanga reflete: “A história não é só de negros. São histórias de brasileiros, povos originários. São pessoas que fizeram um movimento contra todo tipo de escravidão, preconceito, invisibilidade. O objetivo era humanizar a história para interagir com o século 21”.

Ele aproveitou o papo para adiantar que o filme foi transformado em uma série de 4 capítulos e será exibido na TV Globo em breve, com capítulos de 30 minutos de duração. Seu sonho com o filme não era apenas que ele fosse para as salas de cinema tradicionais, mas, sobretudo, para a população em geral: “Meu sonho era que o filme fosse para a banca dos saberes, para as escolas, para as universidades, para os quilombos, para a África”, diz, enfatizando a importância da democratização da arte.

É inegável a contribuição de Antônio Pitanga para a cultura e a história do audiovisual brasileiro e a Mostra de Cinema acerta em trazer convidados como ele, um ator consagrado e diretor corajoso em sua arte, que conta a história do Brasil do ponto de vista daquilo que nunca foi contado.

*O jornalista e crítico Miguel Arcanjo Prado viajou a convite da Universo Produção.

**Felipe Rocha é estudante de jornalismo da UFSJ sob supervisão de Miguel Arcanjo Prado.

Editado por Miguel Arcanjo Prado

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Jornalista cultural influente, Miguel Arcanjo Prado dirige o Blog do Arcanjo desde 2012 e o Prêmio Arcanjo desde 2019. É Mestre em Artes pela UNESP, Pós-graduado em Mídia e Cultura pela ECA-USP, Bacharel em Comunicação pela UFMG e Crítico da APCA – Associação Paulista de Críticos de Artes, da qual foi vice-presidente. Eleito três vezes um dos melhores jornalistas culturais do Brasil pelo Prêmio Comunique-se. Passou por TV Globo, Grupo Record, Grupo Folha, Editora Abril, Huffpost Brasil, Grupo Bandeirantes, TV Gazeta, UOL, Rede TV!, Rede Brasil, TV UFMG e O Pasquim 21. Foi coordenador da SP Escola de Teatro. Integra o júri do Prêmio Arcanjo, Prêmio Jabuti, Prêmio Governador do Estado de SP, Sesc Melhores Filmes, Prêmio Bibi Ferreira, Destaque Imprensa Digital, Prêmio Guia da Folha e Prêmio Canal Brasil. Vencedor do Troféu Nelson Rodrigues, Prêmio Destaque em Comunicação ANCEC, Troféu Inspiração do Amanhã, Prêmio África Brasil, Prêmio Leda Maria Martins e Medalha Mário de Andrade Prêmio Governador do Estado, maior honraria na área de Letras de São Paulo.
Foto: Edson Lopes Jr.
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