Opinião: Negro na MITsp – Em Legítima Defesa ou Eu Não Vou me Calar, por Eugênio Lima

Atores negros durante o protesto na MITsp, na última sexta (4), no Centro Cultural São Paulo – Foto: Miguel Arcanjo Prado
Por EUGÊNIO LIMA
DJ, Membro fundador da Frente 3 de fevereiro e do Núcleo Bartolomeu de Depoimentos, Curador do Ciclo de debates internacional: Discursos sobre o Não Dito da MITsp e diretor da performance poético-política EM LEGÍTIMA DEFESA.
“Eu tenho algo a dizer
E explicar pra vocês,
Mas não garanto porém
que engraçado eu serei desta vez”
Racionais Mc’s, Voz Ativa.
O que é a performance poético-política EM LEGÍTIMA DEFESA?
Este ato de guerrilha estética surge da impossibilidade, surge da restrição, surge da necessidade de defender a existência, a vida e a poética.
Surge do ato de ter voz.
Ser invisibilizado é desaparecer, desaparecer é perder o passado e interditar o futuro, portanto não é uma opção.
Esta performance foi feita por um grupo de atrizes e atores, que faziam parte do elenco de espetáculo chamado “Exhibit B” (polêmico espetáculo do sul-africano Brett Bailey que investiga a exploração na África colonial e pós-colonial, e que foi contestada por movimentos negros do Brasil). Mas o trabalho foi cancelado e, dentre todos os envolvidos, eles foram os únicos que não foram ouvidos.
Diante disso, após uma reunião na Secretaria de Direitos Humanos da cidade de São Paulo, elas e eles resolveram tornar pública a sua situação e me convidaram para dirigi-los numa ação.
Aceitei com a condição de que só falássemos o que de fato nos mobiliza e de que todas as falas teriam que ser da responsabilidade do performer que as dissesse. Cada um/uma assinaria embaixo o que iria dizer, ou “se eu to com microfone é tudo no meu nome”.
O macro tema seria o genocídio da juventude negra no Brasil.
Outra condição/acordo era que nossa voz (seja como discurso, seja como vocalidade, materialidade do som) se encontrasse com outras vozes ao longo da história. Vozes negras, anti racistas, diaspóricas de todas ás áreas: poesia, música, literatura, discursos históricos, documentos, pensamentos, questionamentos, fragmentos de idéias, enfim um amplo leque de vozes negras, homens, mulheres, gays, trans, que pudessem dialogar com os discursos propostos.
Porém tudo seria dito de uma forma que, para o espectador, a fala do performer seria percebida como um conjunto depoimentos, como um momento de reflexão, um ato político em defesa da própria vida.
A dramaturgia sonora seria construída a partir do Hip-Hop e seu eixo seria o legado dos Black Panthers, Angela Davis e o Racionais Mc’s.
Tudo pontuado com: “A cada quatro pessoas mortas pela polícia, três são negras”, da letra de Capítulo 4 versículo 3, dos Racionais Mc’s.
A partir destas premissas, negociamos a inclusão da performance poético-política EM LEGÍTIMA DEFESA, com a curadoria geral da MITsp.
Conversamos sobre a concepção, sobre as necessidades técnicas e onde faríamos.
Começamos os ensaios no Teatro de Arena Eugênio Kusnet, sempre precedido de amplas reflexões e muita retórica.
A voz era o guia e o objetivo.
Decidimos o figurino: preto, por dentro e por fora.
Uma premissa se tornou fundamental: Quando me ofereceram para realizar a performance no palco, de cara recusei, disse que queria fazer na platéia.
Queria falar com o público de dentro e não de fora, além do que para este coletivo o palco foi interditado, suas vozes foram caladas, eles/nós durante os debates estávamos fora do palco, fosse como assunto ou como presença.
A idéia era tornar isto um ato de política/poética e ao mesmo tempo uma ação de ‘seqüestro simbólico’ da platéia, uma ação surpresa feita para acontecer depois do concerto “Revolting Music” do sul-africano Neo Muyanga.
Surpreender para desinterditar.
Surpreender para criar um outro campo de debate.
Surpreender para recolocar a voz no seu lugar de direito.
Discursos sobre o Não Dito
A performance passou portanto a integrar a programação do ciclo de debates internacional Discursos sobre o Não Dito, com curadoria feita por Leda Martins, José Fernando de Azevedo e por mim. O ciclo foi o que restou de um projeto de seminário que aconteceria na MITsp e contaria com aproximadamente 30 intelectuais, dramaturgos, poetas, músicos, artistas plásticos, cineastas e ativistas, para debater de maneira ampla e transversal as questões relacionadas a negritude, a negrura, a pessoa negra e ao racismo.
Deste projeto inicial, devido a um corte abrupto de verba, foram realizadas apenas três ações:
- A) Mesa 1 – Discursos sobre o não Dito, com os curadores.
Leda Martins, José Fernando Peixoto e Eugênio Lima.
- B) Mesa 2 – Discursos sobre o não Dito
com Luis Felipe Alencastro, Ana Maria Gonçalves e Neo Muyanga.
- C) Palestra Performance com Grada Kilomba.
De maneira conjunta o seminário, a performance e o concerto aconteceriam no mesmo local, o CCSP (Centro Cultural São Paulo). Espaço público relacionado diretamente a cidade de São Paulo.
Um local que pela ação se tornava cada vez mais comunitário/concêntrico: Nós, os convidados do seminário, Neo Muyanga, todos dentro de um mesmo ‘congá’, uma ‘ágora de negritudes’.
EM LEGÍTIMA DEFESA
Dia 04/03/2016
O dia começa tenso, estranho. As notícias sobre a condução coercitiva para depoimento do ex- presidente Luiz Inácio Lula da Silva estão em todos os lugares. A mídia produz um grande espetáculo e no taxi, no metrô, no bar, nos restaurantes, tudo é exemplarmente replicado.
Ás 11hs chegamos no CCSP, ensaiamos, passamos o som, acertamos os posicionamentos. Tudo articulado.
Ás 16h começa o seminário do Discursos sobre o não Dito com cerca de cinqüenta pessoas presentes na sala Lima Barreto. A maioria das atrizes e atores integrantes da performance estão presentes e o debate segue para várias faces do não dito: Caminhos, visões, possibilidades e impasses.
Discorremos sobre a experiência como sujeito negro, sobre negritude, sobre a negrura, a diáspora negra e racismos estruturais…
Às 19h voltamos a sala Jardel Filho, repassamos a estratégia, fomos ao nosso camarim e combinamos como iríamos receber nossos aliados (Sim nós tínhamos um camarim. Sim recebemos um cachê. Sim isto é parte da programação oficial da MITsp. E sim todos nós estávamos cientes disso.).
Aliados
Durante o período dos ensaios chegamos a conclusão que precisaríamos de cobertura para nossa ação. Decidimos que chamaríamos as pessoas que ‘fechavam’ conosco e que fossem ‘ponta firme’. Elas viriam de preto e entraríamos todos juntos na sala depois do show antes que a platéia se levantasse.
Eu estaria na sala e abriria a porta.
O show começa e a dimensão do processo histórico se acentua. Ouvir Neo Muyanga, descrever as histórias que criaram as canções que ele apresentava era muito tocante. Saber da lei de terras (lei do apartheid, que proibia negros de serem proprietários de terras) das townships, das igrejas, enfim tudo se reconfigurando.
E assim foi…
Poética-Política
Quanto abri a porta, pouco antes do fim do show, tomei um susto, nosso número havia dobrado, agora eram praticamente 30 pessoas, negras em sua grande maioria, de preto, dispostas a ir conosco para luta.
No fim do show durante os aplausos, entramos.
Música alta (Racionais, Malcom X, Dre, N.W.A e Fela Kuti)
E Então eles e elas estavam aqui para falar em legítima defesa de suas vidas e pontos de vista.
A platéia estava em pé, num misto de perplexidade e constrangimento.
Pedimos para que todos se sentassem.
Começamos.
Durante 35 minutos proferimos nossa urgências.
Finalizamos todos juntos.
De punho cerrado.
Ao som de Angela Davis.
Análise 1
“Enquanto o pensamento era atiçado pelos afetos e consciências ali encerrados, na frontalidade com o palco e no estreitamento do vão, subitamente fomos recolocados em outra dimensão com os versos dos Racionais MC’s: “A cada 4 pessoas mortas pela polícia, 3 são negras”, de Capítulo 4, versículo 3. É a deixa para o público girar o pescoço em direção aos fundos da sala e ver a fila de atores negros – a maioria ligada a outros coletivos da cidade de São Paulo – encarregados de propagar por entre as fileiras da platéia, em vários ângulos, outro formato de inventário à maneira da realidade brasileira contemporânea.
Como pesquisador e integrante do Núcleo Bartolomeu de Depoimentos e da Frente 3 de Fevereiro, Eugênio Lima compilou ou sampleou discursos, depoimentos pessoais, músicas, poemas e outras referências sobre racismo, a afirmação da negritude e contextualização histórica da diáspora negra. O público foi exatamente deslocado para enxergar no olho dos homens e das mulheres da performance as desigualdades flagrantes. Ao verbo forte da resistência direta, entreouvimos nuances como a abordagem da homo afetividade e o lançamento do princípio africano do “ubuntu”, originário da cultura Bantu, que significa: “Sou o que sou devido ao que todos nós somos”.
Nessa noite em que se deu margem ao improviso e à rigorosidade formal dos criadores e dos espectadores-criadores, testemunhamos como a arte emana seus poderes quando não admite concessões e ambiciona sua razão poética de ser o invisível e gritar sua existência.”
Valmir Santos
Leia também: Opinião: Negro na MITsp – Sobre o privilégio de ceder o puxadinho, por Jé Oliveira
Análise 2
“Pois é, diz a reportagem: “Diretor executivo da MITsp, Guilherme Marques estava visivelmente impactado ao fim do protesto. Ao UOL, afirmou que o evento escolheu dar apoio à ação, que foi incorporada à programação do festival, que deu condições técnicas para que ele ocorresse. ‘A curadoria escolheu não calar essas vozes dos atores que fariam o ‘Exhibit B’. E foi incrível. Conseguimos esse diálogo entre o espetáculo do Neo Muyanga e esse protesto. É isso’, afirmou”.
Chega a ser engraçado o quanto de comodidade e privilégio tem nesse raciocínio.
Analisemos a benfeitoria no melhor estilo princesa Isabel: “o evento escolheu dar apoio à ação, que foi incorporada à programação do festival, que deu condições técnicas para que ele ocorresse”.
Grande ação não, do evento?!
Ceder o puxadinho, o corredor do fim de uma apresentação alheia para que artistas negros nacionais se colocassem sobre o racismo institucionalizado que nos mata nas ruas e nos palcos do Brasil, sobretudo, da cidade de São Paulo.
Pois é, uma Mostra Internacional que se propõe a pensar as relações raciais no mundo não contém em sua programação um grupo brasileiro que se dedica política e esteticamente acerca desses conteúdos.
Só eu senti-sinto a ausência de grupos que têm esse alicerce de pesquisa poética continuada na programação desta Mostra?
Poderíamos ter, para citar apenas os mais óbvios devido a quase completa invisibilidade e invisibilização imposta pelos curadores e críticos (com algumas raras e competentes exceções) desse tipo de evento: Bando de Teatro Olodum – grupo com mais de 20 anos de investigação, Cia dos Comuns – 15 anos, Cia Os Crespos – 11 anos.
Aí alguns dirão: “Olha, o grupo do Zé Fernando, diretor negro, está na programação”. Sim, está e é uma produção que trata pontualmente de uma questão que envolve os negros. Não é uma pesquisa de um grupo que vem se dedicando a isso por anos… É bem diferente, entende?! É a necessidade épica de dar conta dos assuntos políticos do momento.
Por que será?!
Esses grupos de pesquisa poética continuada mencionados acima não possuem nenhum trabalho inédito que poderia ser feito na Mostra? Não poderiam ter sido convidados a produzir algo?
Os próprios artistas negros que performaram não podiam ter produzido algo e de fato integrado a programação oficial da Mostra?
Enfim, mas, que bom que a Mostra cedeu espaço e condições materiais para que a performance autorizada pudesse ocorrer, por alguns minutos, ao final da apresentação da programação oficial da Mostra Internacional de Teatro de São Paulo.”
Jé Oliveira
Minha Opinião
Evidentemente, tendo a concordar com a análise 1. Como a maioria dos artistas não aceito desqualificações com base no ‘eu ouvi falar que’, ‘li numa matéria’, ‘me contaram’, etc.
Porém se eu mesmo digo que quero desinterditar o debate, provocar um outro campo possível, criar uma nova configuração, não posso me surpreender que o debate não corra de acordo com a minha visão.
Debate público é isso: Pontos de vistas conflitantes, que podem não resultar em encaminhamento comum.
O consenso é máscara da Democracia Racial, da cordialidade patrimonialista, da interditação, da invisibilidade.
Entretanto não concordo com cerne da argumentação da análise 2, pois a sua base é a desqualificação do outro. No seu centro está a ideia ‘eu tenho mais legitimidade’, ou ‘você não é representativo, eu sou’.
Isto posto vamos aos porquês.
1) Se o Guilherme Marques está para princesa Isabel, quem são os atores e atrizes negros que performaram?
A resposta é óbvia: Negras e negros que não são sujeitos de sua abolição, ou seja negros alienados de sua própria história.
Ora, isto não só é absurdo como também é agressivo e falso!
A performance está na programação oficial da Mostra, não é uma questão de benesse, mas fruto de uma negociação, de uma conquista de espaço. Estes atores/atrizes propuseram uma ação, uma fala, me chamaram para dirigi-los e a partir daí começou um processo que resultou na inclusão da performance poético-política EM LEGÍTIMA DEFESA, na programação oficial da MITsp.
2) Não estar no palco foi uma opção conceitual da direção, pois essa ausência, neste caso, representava propositalmente a impossibilidade daquele coletivo, diante do cancelamento do “Exhibit B”.
Além disso, a idéia era cercar a platéia, provocar surpresa, criar o acontecimento, no melhor estilo ‘terrorismo poético’ proposto pelo autor Hakim Bey. Não nos ‘tiraram do palco’, nós escolhemos o ponto de vista para localizar nossa fala.
3) Sobre a ausência de grupos negros brasileiros de teatro, entendo e acho legítimo questionar critérios, ausências , tencionar a curadoria, propor o debate público.
Porém, o que não concordo é mais uma vez a lógica da desqualificação, seja do meu trabalho, seja do espetáculo Cidade Vodu, dirigido por José Fernando de Azevedo.
O critério dentro dessa lógica é uma amnésia seletiva.
Vamos lá…
Este diretor, José Fernando de Azevedo, foi o primeiro a dirigir a Cia. Os Crespos no seu trabalho inicial “Ensaio sobre Carolina” e é também o dramaturgo do último trabalho do grupo “Cartas a Madame Satã”. É o diretor e o primeiro professor negro da EAD (Escola de Artes Dramática da Universidade de São Paulo) em 68 anos. Isto não é visto como uma presença negra representativa? Sua pesquisa sobre a poética negra deve ser considerada ocasional? Como???
É notório que os grupos de trabalho com pesquisa continuada no últimos 15 anos em São Paulo são fruto, em grande parte, da Lei de Fomento de Teatro para cidade de São Paulo, não só pelo seu crescimento, mas como o arco amplo de poéticas existentes.
Neste contexto, o primeiro coletivo de poética negra a ganhar a Lei de Fomento foi a Cia. Os Crespos, num projeto “A construção da imagem e a imagem construída” dirigido por mim, e criado em conjunto com companhia. Mas esta presença não é considerada uma presença negra fruto de uma pesquisa continuada?
E isto não é representativo? Nesta lógica eu também não fiz parte da criação da Frente 3 de Fevereiro, não participei ativamente de suas ações anti racismo e nunca participei do documentário “Zumbi Somos Nós”, do espetáculo “Futebol”, nem mesmo a pesquisa sobre a homoafetividade negra, também com a Cia. Os Crespos ???
Entendo a disputa pública e acho legítima, mas isto não pode se dar as custas da invisibilização da história alheia.
Todo o negro/negra tem o direito de organizar sua experiência de vida na esfera da representação. Todas as negras e negros tem direito de se autorrepresentar.
As presenças negras são necessárias em todas a manifestações do campo simbólico.
Negritude, negrura, questões negras são plurais, diversas, amplas e não se reduzem umas as outras.
Não existe um monopólio da representação negra.
É necessário ampliar o campo do debate e não reduzir.
4) Novamente: A performance poético-política EM LEGÍTIMA DEFESA é uma ação da MITsp, foi ensaiada, pensada, construída a partir de processo colaborativo.
Isto é, uma ação feita por atores/atrizes negros e negras, com dramaturgia escrita e sonora feita por negros, dirigida por um negro e todas estavam de preto, por dentro e por fora.
Se isto não é representativo, temos que começar a questionar, qual é o conceito que estamos usando.
5) E chegamos às invisibilizações contidas na argumentação. Existem várias:
O apagamento do fato da curadoria do ciclo de debates ‘Discursos sobre o não Dito’ ser toda negra.
A presença de pensadores negros na programação: Grada Kilomba, Cida Bento, Paulo Lins, Leda Martins, José Fernando de Azevedo, Ana Maria Gonçalves, Roberta Estrela D’Alva que também foi a Mestre de Cerimônia da Abertura da MITsp.
Estes nomes também não são representativos?
Para legitimar um argumento eu devo invisibilizar o que veio antes?
Não existe experiência de pesquisa continuada anterior a nós mesmos?
Na Boa, “Puxadinho”?
Em toda esta história, o que mais me preocupa é uma espécie de falácia intelectual que só consegue se concretizar na eliminação da história alheia.
Exatamente isto que foi imposto a estes atores e atrizes, e foi por isso que eles se tornaram um grupo que agia em legítima defesa: Porque percebiam que sua existência estava em perigo, que suas vozes corriam o risco de serem apagadas e, com este apagamento, apagar-se-iam também suas vidas.
Ser épico é mais que olhar o momento histórico.
É olhá-lo num instante de perigo.
Estar em relação é estar em risco.
Dizer que nos deram algo que conquistamos é o pior do engodos.
Postular lugar na cadeia produtiva, dentro da lógica ‘Cachê/protagonismo/palco principal=Visibilidade /Legitimidade’ é necessário e legítimo.
Porém não é a única maneira de abordar o tema e nem é a mesma coisa que estar em risco/legítima defesa.
Por mais que eu concorde com a primeira, ela está no plano da lógica do capital e a outra no campo da sobrevivência real.
Antes de mais nada eu preciso estar vivo, e isto precisa ser ampliado para meus descendentes.
No primeiro caso se a curadoria de espetáculos da MITsp incluísse espetáculos de coletivos negros, a crítica/reivindicação estaria resolvida?
No outro caso notoriamente não. Por que não se trata apenas de representar o genocídio da juventude negra, é preciso pará-lo.
E para isto no meu entender a representação não basta. É preciso que a parcela da sociedade que ignora, que prefere não ver, que finge não estar envolvida, que se omite embora não concorde, seja convocada a se posicionar. Sua posição/omissão precisa ser confrontada de maneira pública.
O racismo e suas conseqüências nefastas são um problema da sociedade brasileira, ou seja, nos envolve a todos e todas, negros e brancos.
É preciso criar um novo campo de debate, é preciso mudar a narrativa e o narrador.
Esta é a intenção.
E no dia 07 de março de 2016 às 22h aproximadamente, tomamos o Teatro Municipal com 52 negros e negras, na frente de 1100 pessoas (dentre os quais apenas 14 negros/negras).
Tomamos a platéia, o palco e as galerias numa ação que não se via naquele local, segundo relatos de estudiosos presentes, desde de a Semana de Arte Moderna de 1922.
Entoamos nossas vozes, contamos nossas histórias, colocamos o dedo na ferida e ampliamos o campo de debate (tanto é verdade que estamos debatendo, bem como a mídia oficial, majoritariamente branca, rica, ou de classe média alta).
Afirmamos a presença Negra, naquele lugar.
Tomamos de assalto o palco que é o símbolo da cisão racial na cidade de São Paulo, fizemos algo que em grande parte é inédito. Mudamos a narrativa, deixamos nossa marca na história e terminamos os 52 negros e negras no palco de punho em riste no ar.
Black Power (Poder Negro)
All Power to the People (Todo Poder para o Povo)
Mostramos a presença negra para além da estatística.
Saímos ovacionados, sem falsa modéstia, diante de uma platéia estarrecida.
O Ato se concretizou.
O resto é história.
Matéria do tempo.
Cruel, Sábio e Certeiro.
Ps: Na próxima vez que a intervenção for se realizar, gostaria de contar com a presença de quem é negro/negra como nós, e com palavras quis nos apagar da história. Cola com nóis, tem o dom?!
A luta é grande e árdua, não podemos perder nenhuma voz legítima.
E a sua com certeza é.
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