Conheça os melhores do teatro em 2016 por Miguel Arcanjo Prado

Zé Celso, Phedra D. Córdoba e Claudete Pereira Jorge: o melhor do teatro em 2016 por Miguel Arcanjo Prado no UOL – Fotos: Jennifer Glass, Bob Sousa e Humberto Araujo
Mesmo em um ano difícil no plano econômico e político, o teatro brasileiro se manteve resistente, com diversos espetáculos de qualidade, como você acompanhou ao longo deste ano aqui no Blog do Arcanjo do UOL. Depois de fazer as listas dos melhores no primeiro semestre e dos melhores do segundo semestre, o colunista e crítico Miguel Arcanjo Prado escolhe os melhores de 2016 no teatro em 18 categorias. Veja.

Melhor espetáculo de 2016: “Pinheiros e Precipícios”, da Selvática Ações Artísticas – Foto: Humberto Araújo
Melhor espetáculo
“Pinheiros e Precipícios”, da Selvática Ações Artísticas, e “Bacantes”, do Teat(r)o Oficina
Mais instigante turma do teatro de Curitiba, a Selvática Ações Artísticas soltou os demônios da capital paranaense com elenco liderado por Claudete Pereira Jorge em performance inesquecível sob direção do inquieto Ricardo Nolasco. Já o mais longevo e importante grupo do teatro brasileiro, o Teat(r)o Oficina revisitou 20 anos depois a história de Eurípedes reescrita e dirigida de forma antropofágica por um renovadíssimo Zé Celso para dialogar com o Brasil em conflito dos tempos atuais.
Melhor dramaturgia-texto
Leonardo Cortez, por “Sala dos Professores”
Enquanto as escolas da vida real eram ocupadas por uma nova e aguerrida geração de estudantes, Leonardo Cortez escreveu um belo e sensível espetáculo a partir do ponto de vista do outro lado da carteira: a do professor acuado e desmotivado pelo opressor sistema educacional brasileiro. Um texto pungente que dialoga com a crise do Brasil contemporâneo.

Melhor diretor de 2016: José Celso Martinez Corrêa e José Roberto Jardim – Fotos: Gabi Cerqueira e Bob Sousa
Melhor direção
José Roberto Jardim, por “Adeus, Palhaços Mortos”, e Zé Celso por “Bacantes” e “Pra Dar um Fim no Juízo de Deus”
De forma inventiva e visceral, José Roberto Jardim fez da história de três velhos palhaços em busca de emprego uma ode à carreira do artista, brincando com o tempo e a linguagem teatral a cada cena. Já Zé Celso fez o que sabe fazer muito bem há praticamente 60 anos nos dois espetáculos: problematizou o Brasil no palco, deglutindo e regurgitando nossas mazelas e qualidades em forma de teatro que é pura poesia viva.

Melhor ator de 2016: Leonardo Fernandes, por “Cachorro Enterrado Vivo” – Foto: Lia Soares e Suzana Latini
Melhor ator
Leonardo Fernandes, por “Cachorro Enterrado Vivo”
O ator mineiro chegou quieto em São Paulo e abocanhou com seu sensível trabalho o respeito do público e da crítica especializada, em um monólogo sobre um cachorro enterrado vivo, no qual deu vida a três personagens, entre eles o próprio cão. Com uma entrega difícil de se ver nos palcos, o ator foi uma das melhores surpresas do ano e colocou seu nome entre os grandes das artes cênicas no país.
Melhor ator coadjuvante
Patrick Amstaldem, por “O Musical Mamonas”
Apesar de não fazer nenhum dos cinco integrantes da famosa banda de Guarulhos, Patrick Amstaldem foi o centro das atenções em cada cena que apareceu no musical, isso devido ao carisma, domínio do tempo cômico e ao talento inquestionável deste jovem ator. A impressão é que ele ainda se continha, para não roubar de vez a cena dos protagonistas. Um baita ator.

Melhotr atriz de 2016: Nicette Bruno e Eva Wilma por “O Que Terá Acontecido a Baby Jane?” – Foto: Daryan Dornelles
Melhor atriz
Andressa Cabral, por “Blanche”, e Eva Wilma e Nicette Bruno por “O Que Terá Acontecido a Baby Jane?”
Falando em fonemol, a língua inventada pelo diretor Antunes Filho, Andressa Cabral demonstrou que não precisa de idioma algum para se comunicar com a plateia. Em uma peça que levou o nome de Blanche, a lendária personagem de Tennessee Williams foi sua Stella, que deixou o espectador hipnotizado com tamanha técnica e entrega a uma personagem demonstrada pela atriz. Andressa nos engoliu a todos nós. Já Eva Wilma e Nicette Bruno, octogenárias, demonstraram que o amor ao teatro não tem idade e que o tempo só faz bem à carreira de uma grande atriz. No caso, duas grandes atrizes em embate potente conduzido por Claudio Botelho e Charles Möeller, como as duas irmãs que misturaram amor e ódio em uma relação de rivalidade ao longo da vida. Cada uma fez brilhar a outra, como duas excelentes parceiras. E o público vibrou a cada cena.

Melhor atriz coadjuvante de 2016: Teca Pereira, por “O Que Terá Acontecido a Baby Jane?” – Foto: Edson Lopes Jr.
Melhor atriz coadjuvante
Teca Pereira, por “O Que Terá Acontecido a Baby Jane?” e Danielle Rosa, por “Bacantes”
Nome experiente e fundamental do teatro paulistano, Teca Pereira não se fez de rogada e enfrentou à altura os mitos Nicette Bruno e Eva Wilma nesta que foi a primeira montagem teatral do texto sucesso em Hollywood. Teca demonstrou segurança cênica e deixou escapar a veia cômica que sempre faz a diferença quando ela pisa no palco. Já Danielle Rosa mostrou a exuberância e força cênica que lhe são próprias na releitura de “Bacantes” por Zé Celso e seu Teat(r)o Oficina. Furacão baiano do grupo, Danielle é pura antropofagia a cada aparição. Afinal, ela tem o que Deus dá.
Melhor iluminação
Kenneth Posner, por “Wicked”
Um show de luzes para deixar o público hipnotizado e boquiaberto a cada cena, mergulhando sensorialmente o olhar do espectador na terra mágica de Oz.
Melhor cenário
Robert Wilson (Bob Wilson), por “Garrincha”
A elegância na construção de quadros vivos que consagrou o diretor norte-americano se fez presente mais uma vez nesta ode ao astro do futebol brasileiro e sua trajetória brilhante e trágica, na qual um belíssimo elenco majoritariamente negro fez renascer a paixão, o esporte e a poesia da vida.
Melhor figurino
Bia Pieratti e Carol Reissman, por “Cabaret Fucô”
As talentosas e jovens Bia e Carol demonstraram que não estão para brincadeira neste mercado teatral, criando um figurino exuberante para o cabaré de utopias e desespero do grupo Satyros, que não deixou de homenagear com seu brilho e cor sua maior diva, Phedra D. Córdoba, que adoraria usar cada uma das peças se aqui entre nós ainda estivesse.
Melhor trilha-música
Guilherme Calzavara, Mali Sampaio, Ito Alves, Chicão e Moita, por “Bacantes”
Executada ao vivo, a música do Oficina, com sua Banda Antropófaga, é parte fundamental de qualquer de seus espetáculos. Em “Bacantes” não foi diferente. A virtuosa banda embalou o público na viagem sensorial e política proposta por Zé Celso e seus pupilos, sem qualquer espaço para bad trip.
Revelação
Flavio Sales, por “Vias”
Flavio Sales já havia chamado a atenção em “Juliette”, mas foi em “Vias” que exibiu toda a sua coragem performativa na pele da drag queen Jordana BAH, seguríssima em cena e entregue à aventura desta vida cheia de brilhos e glamour. Flavio Sales é um dos melhores atores da nova geração da praça Roosevelt.
Melhor grupo teatral
Coletivo Negro
Os oito anos do emblemático grupo teatral que dedica seus espetáculos a refletir questões do povo negro foram celebrados com uma profusão de espetáculos em cartaz em diversos espaços de São Paulo durante todo o ano. Discutiram diversos aspectos da negritude, sempre com pesquisa farta e uma certeza de que fazem um teatro mais que fundamental para a cidade e o país. Por isso, são tão respeitados.

Melhor projeto de 2016: “Música de 5ª”, d’A Outra Companhia de Teatro, de Salvador – Foto: Andréa Magnoni
Melhor projeto
“Música de Quinta”, d’A Outra Companhia de Teatro, de Salvador-BA
No bairro Politeama, em Salvador, onde instalou sua sede, os meninos d’A Outra Companhia de Teatro apostaram na música misturada ao teatro para criar um ambiente inclusivo e diverso, mesmo que muitas vezes enfrentando perseguição, afinal, arte de qualidade incomoda o sistema careta e perverso. A trupe demonstrou que faz a diferença e que enxerga o teatro muito além do palco, fazendo um profundo diálogo com a sociedade em seu entorno e dando exemplo a outros grupos do Brasil.
Melhor festival
Festival de Teatro de Curitiba
Não é à toa que Curitiba é dona do maior festival de teatro do Brasil. Por ele passam todos: a turma intelectual, do humor, do stand-up, do teatrão, do experimental, do drama, das comédias, da dança contemporânea, da dança clássica e de tudo mais que possa a vir existir no mundo das artes cênicas, sempre sob comando de Leandro Knopfholz, que faz a magia do encontro mais esperado do ano acontecer a cada ano. Há 25 anos. Merece nosso respeito e aplauso.
Melhor teatro-espaço-programação
Teatro Porto Seguro
Conforto aliado a um tratamento educadíssimo fazem a diferença no Teatro Porto Seguro, que ajuda a recuperar uma região degradada do centro de São Paulo. O espaço é novo, mas já tornou-se nobre e muitíssimo bem frequentado, além de oferecer uma programação variada, que tenda atender a gostos distintos e diferentes linguagens. Que bom.

Melhor espetáculo internacional de 2016: “Camargo”, do La Congregación Teatral, da Colômbia – Foto: Divulgação
Melhor espetáculo internacional
“Camargo”, do grupo La Congregación Teatral, da Colômbia
O grupo colombiano investigou a mente de um psicopata que matou mais de 150 mulheres neste espetáculo-thriller que deixou o espectador mergulhado em seu enredo da primeira à última palavra dita em cena, no melhor do teatro latino-americano contemporâneo.
Personalidade do ano
Phedra D. Córdoba
Phedra D. Córdoba, a maior diva cubana que o teatro brasileiro adotou, começou o ano no palco, fazendo “Pessoas Sublimes”, com seu grupo Os Satyros. Ficou doente e precisou se ausentar da cena. Mas, pouco antes de morrer, em abril, aos 77 anos, pôde ver um espetáculo no Teat(r)o Oficina, “Phedras por Phedra”, no qual pôde sentir, ao lado de Zé Celso e de seus amigos, todo o amor da classe artística e do público por ela. Do céu, Phedra deve ter acompanhado orgulhosa a última edição do festival Satyrianas, em novembro, dedicada à sua figura. De arrepiar.
Veja os melhores do teatro no primeiro semestre de 2016
Veja os melhores do teatro no segundo semestre de 2016
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